Pesadelo

‘Situação bizarra’: Salles é ventilado para Comissão de Meio Ambiente da Câmara

Ex-ministro bolsinarista Ricardo Salles é apontado como um dos responsáveis pelo caos ambiental e indígena no Brasil

Allan Santos/PR
Allan Santos/PR
Salles ficou conhecido por falar em "passar a boiada" de normas que agrediam o meio ambiente durante a gestão anterior

São Paulo – O nome do ex-ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles (PL-SP) é ventilado por seu partido para presidir a Comissão de Meio Ambiente da Câmara dos Deputados. O bolsonarista, entretanto, afirma não querer assumir qualquer cargo. A possível indicação provocou uma série de reações negativas. Salles foi ministro de Bolsonaro. Parlamentares e ambientalistas o consideram um dos principais responsáveis pelo caos ambiental no qual o governo bolsonarista atirou o país.

Salles ficou conhecido por falar em “passar a boiada” de normas que agrediam o meio ambiente durante a gestão anterior. Ele deixou o governo Bolsonaro investigado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) por supostamente favorecer a ação de madeireiros ilegais na Amazônia.

“É, no mínimo, um absurdo a indicação de Ricardo Salles para a presidência da Comissão de Meio Ambiente da Câmara por parte do PL. É a raposa tomando conta do galinheiro. Não podemos permitir o ex-ministro do ‘passar a boiada’ em uma Comissão tão importante”, afirma o deputado federal Lindbergh Farias (PT-RJ). Já o deputado federal Ivan Valente (Psol-SP) disse que a possível nomeação do ex-ministro é uma “brincadeira de mau gosto”. “O PL está querendo Ricardo Salles na presidência da Comissão do Meio Ambiente na Câmara, o traficante de madeira ilegal que colaborou com o genocídio Yanomami”, completou.

Inaceitável

Quem também reagiu à possível indicação de Salles para a comissão foi o delegado da Polícia Federal Alexandre Saraiva. Ele foi exonerado de um cargo de direção da entidade durante o governo Bolsonaro. A razão: combater garimpeiros e madeireiros ilegais na Amazônia. “O pesadelo nunca acaba”, afirmou.

O cargo, anteriormente, era ocupado pela também bolsonarista Carla Zambelli (PL), acusada por Saraiva de integrar uma “máfia na Amazônia”. “Sempre digo que a destruição da Amazônia e o extermínio dos povos indígenas começa no Congresso Nacional”, disse Saraiva.

“Nessas comissões são discutidos projetos de lei fundamentais para a defesa do meio ambiente. Com um presidente não comprometido com a causa ambiental ou indígena, ele pode engavetar projetos que beneficiam esses grupos. por outro lado, pode dar tramitação mais rápida para projetos que liberam agrotóxicos e envenenam nossos rios”, completou.

Por fim, Saraiva disse ser “fundamental que este criminoso não assuma a comissão. Falando nisso, é bom lembrar que ele só está nessa posição porque os processos judiciais de que ele é alvo saíram do STF quando ele saiu do Ministério do Meio Ambiente. Uma vez que ele virou deputado, é essencial que esses processos voltem o mais rápido o possível para o Supremo”.

Salles “marginal”

O Observatório do Clima considera a possibilidade de ter Salles na comissão como “completamente inaceitável”. O secretário-executivo do Observatório, Marcio Astrini, afirma que é “bizarra a situação de a gente imaginar a possibilidade. Ele podia ser presidente da comissão de desmatamento, de grilagem de terras, de madeiras ilegais, caso elas existissem. Mas de meio ambiente, não. Falamos de um sujeito acusado de nove crimes ambientais, incluindo facilitação de madeira ilegal”.

Por fim, Astrini lembra que a crise humanitária dos povos Yanomami também passa por Salles. “Ele é responsável por boa parte dessa tragédia ambiental que o país vive, inclusive da situação Yanomami. Tem gente morrendo naquela região por negligência do último governo, do qual ele foi um dos principais responsáveis. A Câmara dos Deputados, se fizer isso, está declarando guerra ao meio ambiente no Brasil.”


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