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Manifestantes exigem fim do rodízio de água seletivo e das demissões na Sabesp

Relato de moradores presentes à manifestação de hoje contradiz constante afirmação do governador Geraldo Alckmin (PSDB) de que não falta água na Região Metropolitana

Água Sim Lucro Não/ Facebook

Manifestantes querem que o governo Alckmin seja mais transparente quanto aos locais em que vai faltar água

São Paulo – Cansadas da falta de água seletiva na Região Metropolitana de São Paulo, centenas de pessoas fizeram uma marcha até a sede administrativa da Sabesp na Ponte Pequena, região central da capital paulista. “Não podemos aceitar isso. A água não chega em casa, mas a conta sempre, e cada vez mais cara”, afirmou a diarista Edilaine Matos, moradora da Terceira Divisão, zona leste.

Na casa de Edilaine falta água o dia todo. “Só tem água entre 20h e 6h da manhã do dia seguinte”, relatou. O estoque está sempre completo pra evitar ficar totalmente na seca. “Tenho dez garrafas de dois litros, mais algumas pequenas para guardar água filtrada. E também guardo em baldes a que sobra da lavagem de roupas para usar no banheiro e na limpeza”, contou.

O relato da diarista e de muitos dos presentes à manifestação de hoje contradizem a constante afirmação do governador Geraldo Alckmin (PSDB) de que não falta água na Região Metropolitana.

Até no trabalho a diarista é afetada pela falta de água. “As pessoas guardam água pra gente poder fazer a faxina. Se não fizerem isso não tem como a gente trabalhar porque falta água o dia todo”, relatou Edilaine, que trabalha em São Bernardo do Campo, no ABC paulista.

Os manifestantes querem que o governo Alckmin seja mais transparente quanto aos locais em que vai faltar água e quanto à severidade da crise. “A Sabesp não admite que faz rodízio, mas faz. Nós sabíamos que a situação era ruim há, pelo menos, cinco anos. Mas agora a empresa está demitindo e precarizando a condição dos trabalhadores”, disse o ex-funcionário da engenharia da Sabesp Marzeni Pereira.

Ele integra o coletivo Água Sim, Lucro Não, um dos organizadores do ato. Segundo Pereira, a empresa demitiu 600 trabalhadores desde a admissão da crise pelo governador, em janeiro do ano passado. Dispensas que os manifestantes querem que sejam revertidas.

“A Sabesp hoje age como uma empresa privada. Está preocupada com seu lucro, por isso aumentou as tarifas, impôs multas e demitiu trabalhadores. Ao mesmo tempo, conta só com a chuva para resolver o problema, porque suas ações agora são inócuas”, afirmou Pereira.

Desde novembro do ano passado, a tarifa de água da Sabesp na Região Metropolitana de São Paulo aumentou 21%. E a empresa ainda pleiteia repassar à população mais uma taxa referente a 7% do lucro que hoje deve ser repassado para o fundo de saneamento da prefeitura da capital.

Ontem (30), Alckmin entregou a obra de transposição de 4 mil litros por segundo de água da represa Billings para o Sistema Alto Tietê, que está em nível crítico. Para o ex-funcionário, essa é a única obra das anunciadas que pode ter algum efeito.

“Todas as outras, como a transposição do Rio Paraíba do Sul para o Sistema Cantareira e do Rio Guaió para o Alto Tietê estão ligando o seco ao vazio. Essas obras deviam ter sido feitas há muito tempo”, afirmou Pereira.

Os manifestantes levaram um documento com as reivindicações à Sabesp, em que também exigem o fim das terceirizações na companhia e a contratação dos concursados. Hoje, mais da metade dos trabalhadores da empresa são contratados de empresas prestadoras de serviço.

Querem que a Sabesp revogue o aumento da tarifa básica e acabe com os contratos de demanda firme, em que grandes empresas ganham descontos para utilizar grandes quantidades de água e que seja mais transparente quanto à real situação do abastecimento na Região Metropolitana de São Paulo.