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Brasil não vai cumprir meta de acabar com os lixões em 2024, alerta especialista

Segundo Elisabeth Grinberg, entre os motivos estão a falta de capacitação dos gestores municipais e recursos. Ela diz que problema está associado a lacunas na política de resíduos, consumo e a questões econômicas

Edilson Rodrigues/Agência Senado
Edilson Rodrigues/Agência Senado

São Paulo – Mais uma vez, o Brasil não vai conseguir cumprir sua meta de acabar com os lixões e aterros, agora prevista para o ano que vem. Ou seja, esses depósitos de lixo em todo o país, muitos ainda a céu aberto, continuarão recebendo resíduos e causando uma série de problemas ambientais e de saúde. O alerta foi feito pela socióloga Elisabeth Grinberg em entrevista a Silvio Caccia Bava, do Le Monde Diplomatique Brasil, em programa transmitido pela TVT nesta terça-feira (13).

Pela política nacional de resíduos sólidos, aprovada em 2010, no final do segundo governo do presidente Lula (PT), o prazo era até 2014. Mas sem conseguirem cumprir, os municípios tiveram prazo estendido, que acabou em 2022. E novamente foi ampliado para 2024.

Segundo a especialista com atuação no Instituto Polis e Aliança Resíduo Zero Brasil, são muitas as razões para uma nova protelação. Entre elas, a falta de capacitação dos gestores municipais e de recursos. Mas esse problema complexo, acredita, está associado também a lacunas na própria política de resíduos, a padrões de consumo e a questões econômicas que envolvem a indústria e seu compromisso unicamente com o lucro.

A indústria, seus lucros e os lixões

A logística reversa, por exemplo, só existe no papel. Criada pela política de resíduos sólidos, determina a responsabilidade das empresas pelas embalagens e resíduos sólidos que colocam no ambiente por meio de seus produtos. Mas ao mesmo tempo, define que deverá ser cumprida também por outros atores, como comerciantes, já que trata-se de uma política de responsabilidade compartilhada. “Mas há muita pressão das empresas. E os acordos setoriais são frouxos”, disse Elisabeth, referindo-se ao fato de existir tantos resíduos pelas ruas e praças, que poderiam ter sido recolhidos no âmbito dessa determinação.

Para ela, o próprio nome também já é um erro. “Na Europa isso se chama responsabilidade estendida do vendedor. Aliás, lá as empresas implementam políticas nesse sentido. E as mesmas, aqui, não adotam”. É o caso de empresas do ramo de bebidas, como a Coca Cola, e também de alimentos e embalagens, entre outras. “A preocupação aqui é só com o lucro, não com o ambiente”.

A especialista destacou ainda diversos mitos ambientais envolvendo a questão dos resíduos. A questão do plástico, por exemplo, embora haja avanços na legislação para reduzir. Ela lembrou que nem todo plástico que vai para a reciclagem é reciclado e acaba virando rejeito do processo de reciclagem. E mesmo que seja reciclado, não se trata de um problema resolvido.

Reciclagem gera muitos rejeitos. Melhor reutilizar

“A reciclagem envolve processo industrial, que requer uso de água e de matérias primas. É o caso também das latinhas de alumínio. Recicladas, precisam de mais matéria prima, água e energia para voltarem a ser usadas. Mesmo caso do vidro”, disse. Por isso, segundo ela, o reúso é um dos pilares da política de resíduos sólidos. “O vidro precisa ser reutilizado mais de 30 vezes”.

Para ela, a saída, nada fácil, está em legislações mais severas para as indústrias, e educação da sociedade para mudança de comportamento. Inclusive em relação aos fabricantes, boicotando produtos e marcas. “Precisamos engrossar as fileiras do resíduo zero”, destacou.

Confira a íntegra da entrevista: