Perigo no trabalho

Trabalhadores denunciam más condições de saúde e segurança na JBS

Em ato realizado em São Paulo, trabalhadores se fantasiaram com máscaras da morte e de frango, para denunciar a líder mundial de processamento de proteína animal e pedir valorização e segurança

Sintiacr e Sintac
Sintiacr e Sintac
Manifestantes se fantasiaram com máscaras da morte e roupas manchadas com "sangue" dos frigoríficos

São Paulo – Trabalhadores da JBS protestaram ontem (13), em frente à Bolsa de Valores de São Paulo (B3). Organizado por sindicatos do Paraná, do Mato Grosso do Sul e de Santa Catarina, o ato denunciou más condições de saúde e segurança nas unidades da empresa, líder mundial de processamento de proteína animal.

Sindicalistas distribuíram folhetos com informações sobre as condições de trabalho dos funcionários da JBS. Inclusive, com imagens de trabalhadores feridos. Entre eles a de uma funcionária que cortou a testa com uma faca e foi atendida no local de trabalho. Mas levou pontos grandes no ferimento e teve que continuar trabalhando, mesmo em choque e machucada.

Para chamar atenção da sociedade para a gravidade dos problemas, manifestantes se fantasiaram com máscaras da morte e roupas iguais às utilizadas nos frigoríficos. Manchadas com sangue artificial, as roupas faziam referência a várias formas de acidentes de trabalho a que os funcionários estão expostos.

Além disso, a categoria ainda enfrenta a subnotificação, segundo o presidente do Sindicato da Alimentação de Arapongas, Rolândia e Região, Anderson Zanelato. “O médico do trabalho contratado pela empresa, muitas vezes pega casos graves de LER, Dort ou até feridas e não atesta os funcionários devidamente, não afasta os trabalhadores feridos e deixa que continuem trabalhando mesmo em situação precária”, explicou o dirigente.

Isso acontece no frigorífico que vem batendo recordes de lucratividade, mesmo durante a pandemia do novo coronavírus, às custas de muito sofrimento humano, denunciaram dirigentes do Sindicato de Trabalhadores da Alimentação de Carambeí e do Sindicato dos Trabalhadores na Indústrias da Alimentação de Criciúma e Região, que publicou em sua página uma série de vídeos sobre acidentes e doenças do trabalho nas indústrias do setor.

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“A JBS é escravagista e está esmagando os seus integrados e trabalhadores”, disse o presidente do sindicato da categoria em Criciúma e região, Célio Elias. O dirigente denunciou ainda os empréstimos do BNDES a esses grupos econômicos sem impor contrapartidas sociais.

O ato defendeu a manutenção da Norma Regulamentadora (NR) 36, que tem o objetivo de garantir a segurança e a saúde dos trabalhadores no setor, bem como a proteção do meio ambiente. Isso porque, em plena pandemia, entre dezembro de 2020 e fevereiro de 2021, empresários do setor de abate e processamento de carnes e derivados sugeriram ao governo Bolsonaro uma série de mudanças na NR 36, colocando em risco a prevenção de acidentes e adoecimentos

A importância da NR 36 para a vida e a saúde dos trabalhadores é explicada pela Confederação Brasileira Democrática dos Trabalhadores nas Indústrias da Alimentação (Contac-CUT). A entidade lançou a Cartilha NR 36 – Saúde e Segurança no Trabalho ao seu Alcance. Entre outras coisas, a cartilha alerta que a NR 36 estipula pausas e altera os locais de trabalho dos frigoríficos com o objetivo de reduzir os acidentes e as doenças profissionais no setor, um dos que mais lesiona e mutila na indústria brasileira.

Entre as principais exigências contidas nos 16 itens e 217 subitens da NR está a concessão de pausas aos trabalhadores, distribuídas ao longo da jornada diária. O tempo total varia de acordo com o expediente, mas cada pausa deve ter entre 10 e 20 minutos a cada 50 minutos trabalhados.

“Recebemos muitas reclamações de trabalhadores indicando que a JBS não tem respeitado as pausas exigidas pela norma. Ou seja, trabalham exaustivamente, com movimentos repetitivos e com pausas insuficientes para a atividade que realizam”, afirmou Zanelato.


Com informações de Marise Muniz, do Portal CUT.