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Trabalhadores da aviação rejeitam proposta e mantêm estado de greve

Oferta das empresas de substituir reajuste por abono foi considerada 'frustrante'. Trabalhadores afirmam que mercado da aviação está aquecido e merecem reconhecimento

Paulo Pinto/Fotos Públicas

Em vez de reajuste salarial, as empresas aéreas oferecem abonos pagos de forma parcelada

São Paulo – Representantes dos trabalhadores da aviação civil não chegaram a um acordo após mais uma rodada de negociação, a sétima, com o Sindicato Nacional das Empresas Aéreas (SNEA), realizada ontem (14), em São Paulo. Segundo a Federação Nacional dos Trabalhadores em Aviação Civil-CUT (Fentac), aviadores e aeronautas rejeitaram a proposta de reajuste salarial zero, com pagamentos de abonos e reajuste somente nos vales, seguros de vida e diárias nacionais.

Representados pela Fentac-CUT, os trabalhadores rejeitaram a proposta patronal, argumentando que o abono não se incorpora aos salários, nem aos direitos, como 13º salário, férias, FGTS e aposentadoria, e também não repõe as perdas da inflação do período da data-basedas categorias (1º de dezembro), calculada pelo INPC, que fechou em 10,97%.

A Fentac-CUT representa aproximadamente 70 mil trabalhadores da aviação civil que integram os sindicatos de Guarulhos, Campinas, Recife e Porto Alegre, além dos Sindicatos Nacionais dos Aeronautas – pilotos, copilotos, engenheiros de voo e comissários – e Aeroviários – que trabalham em solo, como agentes de check-in e bagagens e mecânicos.

Em nota, o Sindicato Nacional dos Aeronautas (SNA) informou que também considerou a proposta “aquém das expectativas”. A categoria tem assembleia prevista para o próximo dia 20. Aeronautas e aeroviários reivindicam reajuste salarial de 12% (reposição da inflação mais 0,93% de aumento real), aumento de 15% nos pisos salariais e demais direitos econômicos e 20% no valor da cesta básica.

Em lugar do reajuste salarial, as empresas aéreas oferecem abonos pagos de forma parcelada. Para os aeroviários que recebem até R$ 10 mil e para todos os aeronautas, o parcelamento começaria em junho (1%), julho (2%), agosto (3%), setembro (4%), outubro (5%) e novembro (9%).

Os aeroviários com salário superior a R$ 10 mil receberiam valores fixos em junho (R$ 100), julho (R$ 200), agosto (R$ 300), setembro (R$ 400), outubro (R$ 500) e novembro (R$ 900).

As empresas aéreas também propuseram reajuste de 11% nos chamados benefícios, considerando vale-alimentação, vale-refeição, seguro de vida e diárias nacionais.

O presidente da Fentac-CUT, Sergio Dias, mostrou frustração com a proposta patronal e criticou o formato. Segundo ele, a proposta apresentada pelas empresas tem pontos obscuros. Ele cobra do setor patronal esclarecimentos sobre itens como pagamento retroativo, reajuste nos pisos salariai e as cláusulas sociais da pauta de reivindicações de aeronautas e aeroviários. “Deixamos claro que as categorias precisam ser reconhecidas pelo trabalho que tem garantido o mercadoda aviação aquecido. A reposição da inflação nos salários é nosso direito”, afirmou o presidente.

Nos últimos quatro anos, enquanto o setor da aviação civil registrou crescimento de 33,9%, os ganhos reais frente ao INPC-IBGE não atingiram 1%. Para os trabalhadores, a proposta de reajuste zero significa abrir mão de mais de uma década de lutas e conquistas.

O presidente do SNA, comandante Adriano Castanho ressalta que, no primeiro semestre de 2015, cerca de 85% das 509 negociações coletivas acompanhadas pelo Dieese conquistaram aumentos iguais ou acima da inflação. “Acreditamos que as empresas têm condições de avançar na proposta de reajuste salarial”, aponta. O presidente do Sindicato dos Aeroviários de Guarulhos (Sindigru), Rodrigo Maciel, reforça o descontentamento. “Nossas assembleias já rejeitaram por unanimidade esse formato”.

Assembleias

No término da rodada de negociação, as empresas aéreas sinalizaram a possibilidade de avaliar os pontos apontados pela Fentac-CUT (pagamento retroativo, cláusulas sociais, reajuste nos pisos e pagamento do INPC ao invés do abono) até o dia 21.

Caso as empresas não formulem uma nova contraproposta, no dia 22 ocorrerá nova reunião, desta vez no Tribunal Superior do Trabalho (TST). Até lá, os aeroviários manterão “estado de greve”, que foi aprovado em assembleias, realizadas no dia 7, nas bases da Fentac-CUT. Os aeronautas realizarão assembleias, no dia 20, que poderão aprovar esse encaminhamento.