Em evento da CUT, trabalhadores africanos pedem intercâmbio entre povos

Mame Saye, do Senegal, instigou a plateia com “a luta continua” (Foto: CUT/divulgação) São Paulo – “Em vez de diplomacia de estados, é preciso privilegiar a diplomacia dos povos”, pediu […]

Mame Saye, do Senegal, instigou a plateia com “a luta continua” (Foto: CUT/divulgação)

São Paulo – “Em vez de diplomacia de estados, é preciso privilegiar a diplomacia dos povos”, pediu Mame Saye Seck, da União Nacional dos Sndicatos Autônomos do Senegal, durante seminário sindical internacional da Central Única dos Trabalhadores (CUT), realizado na sexta-feira (29). O encontro é parte da programação que comemora o 1º de Maio da central, cujo foco este ano são as relações Brasil/África.

Elos históricos e raízes comuns unem Brasil e África, destacou Mame. Mas ambos ainda precisam caminhar juntos para conquistar igualdade racial e erradicação da pobreza. “Queremos desenvolvimento inclusivo, pessoas no centro do desenvolvimento socioeconômico”, disse à plateia de brasileiros e africanos do Sesc Vila Marina, na capital paulista.

Para o presidente da CUT/SP, Adi dos Santos Lima, o intercâmbio entre sindicalistas brasileiros e de 14 países africanos durante as atividades do 1º de Maio aproxima ainda mais o Brasil de suas raízes. “Queremos resgatar nossa história como nação e povo”, afirma. “Buscamos nossas raízes africanas e nossa identididade nesse encontro Brasil/África”, complementa. A ideia da direção da CUT é manter um intercâmbio permanente, com formação e capacitação de dirigentes de ambas as partes.

Joel Akhator Odigie, da Organização Regional Africana da Confederação Sindical Internacional, natural da Nigéria, destacou aspectos da história de dominação sofrida pelos países africanos. Ele avalia que no futuro a África seguirá o exemplo do Brasil na construção de um “estado forte”.

A vocação do continente, prevê, está na industrialização, embora essa opção contrarie o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial. “Achamos que o contexto atual de industrialização é a da economia do conhecimento, do acesso à informação e à tecnologia.”

Em entrevista à Rede Brasil Atual, Odigie elencou os principais problemas dos trabalhadores africanos na atualidade. “Sofremos com a falta de empregos e os baixos salários. Mas também é grave o quadro de desrespeito aos direitos humanos, como no Zimbábue e na Suazilândia, onde os cidadãos não são respeitados”, lamenta. O dirigente pede que o Brasil pressione os dois países africanos para adotar um regime democrático.

Anastasie Maswanba, do Congo e vice-presidenta da Street Net, defendeu uma plataforma para agrupar e representar trabalhadores informais de todo mundo. Na África, há países em que até 85% dos trabalhadores estão na informalidade.

Artur Henrique, presidente da CUT Nacional, lembrou que diversos países têm propostas e saídas para a África. “Mas poucos conversam com os africanos para saber o que eles querem”, criticou. “Temos muito em comum, não queremos ser países exportadores de mão de obra, de matéria-prima e commodities. Também não queremos só crescimento. Queremos desenvolvimento com soberania e sustentabilidade social e ambiental.”

Apropriação das histórias

Samba Gadgio, professor de Cinema e Literatura da África, natural do Senegal, chamou atenção para a importância dos contadores de histórias na resistência dos povos à dominação. “Um fator determinante entre dominador e dominado é a apropriação das histórias”, cita.

Durante o período de colonização de diversos países africanos, ele lembra que os colonizadores tomaram conta das mentes e suprimiram línguas locais. Só as histórias dos avôs contadas às crianças mostravam o lugar do negro em seu próprio continente, disse o especialista.

Ao final do seminário, Lima apresentou a “Carta de São Paulo”, um compromisso entre trabalhadores da África e do Brasil para aprofundar as relações e trabalhar por desenvolvimento socioeconômico com igualdade e justiça, especialmente com trabalho decente.

Participam da semana de atividades Brasil/África em comemoração ao Dia do Trabalhador representantes de trabalhadores do Benin, Saara Ocidental, Tanzânia, Cabo Verde, Nigéria, África do Sul, Senegal, Angola, Congo, Namíbia, Togo, Gana, Libéria, Guiné Bissau, Inglaterra, Alemanha, Estados Unidos e Indonésia.