Portuários marcam duas greves contra a MP dos portos

Os 34 portos públicos do país devem parar nesta sexta das 7h às 13h em um protesto dos trabalhadores contra a MP 595, que prevê a concessão de terminais à iniciativa privada. Na próxima terça, param das 13h às 19h

Porto de Cotegipe, na Bahia, entre os que prometem parar em protesto para garantir direitos dos trabalhadores, ameaçados pela MP 595 (CC/GovBa)

São Paulo – Trabalhadores dos 34 portos públicos do país devem paralisar as atividades nesta sexta-feira (22) das 7h às 13h, em protesto contra a Medida Provisória 595, conhecida como MP dos Portos, que prevê, entre outras ações, a concessão dos terminais a administradores privados. As principais exigências são a paridade de custos entre portos públicos e privados e a manutenção da contratação de trabalhadores por meio do Órgão Gestor de Mão de Obra (Ogmo).

A partir de hoje (20) representantes dos portuários iniciarão uma série de conversas com parlamentares para tentar rever as decisões da MP. Caso as negociações não avancem, a categoria realizará outra paralisação nacional na próxima terá-feira (26), das 13h às 19h, dia em que a medida deixa a Câmara e segue para ser analisada por uma comissão mista, que será presidida pelo líder do PT na Câmara, José Guimarães (CE), e terá como relator o líder do governo no Senado, Eduardo Braga (PMDB-AM).

Em protesto contra as medidas da MP, trabalhadores do porto de Santos ocuparam na segunda-feira (18) o navio chinês Zhen Hua 10, atracado em cais público, em que a retirada de equipamentos estava sendo feita apenas por trabalhadores chineses. Ontem (19), os nove sindicatos que representam a categoria finalizaram um acordo com a Empresa Brasileira de Terminais Portuários (Embraport) pelo qual ficou garantido que serão contratados trabalhadores avulsos para o desembarque de três portêineres e 11 transtêineres, na margem esquerda do porto. O navio foi desocupado.

As centrais sindicais que representam trabalhadores do setor – CUT,  CTB e Força Sindical – questionam a transparência na elaboração da MP, o enfraquecimento da legislação de proteção aos portuários e a liberação para que terminais privados movimentem cargas de terceiros.

“Sabemos que derrubar a MP é muito difícil, mas vamos lutar para garantir direitos e boas condições de trabalho aos portuários”, afirmou o presidente da Federação Nacional dos Portuários (FNP), Everandy Cirino, que também é vice-presidente do Sindicato dos Empregados na Administração Portuária (Sindaport).

Investimentos privados

A MP dos Portos faz parte de um plano de medidas anunciadas pelo governo federal em dezembro, com a intenção de atrair investimentos privados para o setor de logística do país. A previsão é que sejam investidos R$ 54,2 bilhões. A medida substitui a Lei de Modernização Portuária (nº 8.630, de 1993) e altera regras do setor de portos, ampliando a participação da iniciativa privada. Aém de novos investimentos, as mudanças na legislação são consideradas fundamentais pelo Executivo para ampliar a capacidade de transporte marítimo.

O governo acredita que A MP pode sofrer resistência no Congresso Nacional, como ocorreu com o Código Florestal. Na segunda-feira (18) o ministro-chefe da Secretaria dos Portos, Leônidas Cristiano, anunciou que vai começar por Santos (SP) e Belém (PA) o processo de licitação de 159 novos terminais, previstos para ocorrerem ainda neste semestre.

Empresários do setor também se manifestaram favoráveis à MP, durante reunião ontem (19) com a ministra da casa Civil, Gleise Hoffmann, que na semana passada já tinha recebido representantes dos trabalhadores. Eles acreditam que a liberação dos portos pode estimular o comércio exterior e defendem que os novos portos sejam construídos pela iniciativa privada, sem a necessidade de os empreendedores transportarem cargas nos terminais.