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Metrô intimida trabalhadores que não barraram diligência de deputados em pátio

Companhia abriu processo interno para responsabilizar trabalhadores por não impedirem a entrada de dois parlamentares do Psol no pátio Jabaquara para verificar denúncia de que trens novos estão parados

Psol

Raul Marcelo e Carlos Gianazzi, na fiscalização ao Metrô realizada em 27 de abril

São Paulo – A Companhia do Metropolitano de São Paulo (Metrô), administrada pelo governo Geraldo Alckmin (PSDB), abriu sindicância interna para “apurar responsabilidades na ocorrência em que deputados estaduais” realizaram uma visita ao pátio Jabaquara para apurar as denúncias de que a companhia mantém trens novos sem utilização. Segundo o Sindicato dos Metroviários de São Paulo, três vigias contratados de uma empresa terceirizada foram dispensados de suas funções no Metrô por não terem impedido a entrada dos parlamentares Raul Marcelo e Carlos Gianazzi, do Psol.

Agora, a empresa está inquirindo cinco trabalhadores metroviários, questionando onde estavam na hora da visita, se permitiram a entrada dos deputados e quem os acompanhava. “É mais uma tentativa do Metrô de intimidar os trabalhadores e abafar as denúncias de canibalização e de trens novos inutilizados. Não querem que isso cresça perante a opinião pública. A visita ocorreu em 27 de abril, após uma audiência pública na Assembleia Legislativa paulista”, explicou o secretário-geral do sindicato, Alex Fernandes.

Os parlamentares realizaram a diligência para apurar a denúncia de que o Metrô mantém sem uso 26 trens novos, pelos quais o governo Alckmin pagou R$ 630 milhões. As composições deveriam servir aos usuários da Linha 5-Lilás (Capão Redondo-Adolfo Pìnheiro), mas estão paradas desde 2013. Alguns estão em trilhos paralelos na própria linha, outros, no pátio Capão Redondo e outros ainda no Pátio Jabaquara. Na ocasião, os deputados Gianazzi e Marcelo fotografaram um desses trens, ainda envelopado.

Raul Marcelo disse que oficiou ontem (16) o Metrô para que esclareça o motivo da sindicância contra os trabalhadores. “Isso nos lembra a opressão da ditadura. Fomos cumprir nossa função parlamentar. É totalmente nossa a responsabilidade. Temos prerrogativa de acesso a qualquer órgão público para fiscalizar. Visitamos escolas, hospitais. Foi uma surpresa a reação da direção do Metrô, que poderia ter questionado a Assembleia, nosso gabinete”, afirmou.

Nos documentos da sindicância, a diretoria do Metrô alega que haveria risco à segurança no acesso ao local e que a gerência deveria autorizar a visita. Porém, nos próprios depoimentos, os metroviários inquiridos ressaltam que os parlamentares passaram por locais “de trânsito de todas as pessoas”, incluindo fornecedores e trabalhadores de outras áreas. E que o trem fotografado está em uma área externa, entre dois blocos de manutenção.

O Decreto Legislativo 1.518, de 2009, determina que a qualquer parlamentar “devidamente identificado, ainda que não tenha compromisso previamente agendado com servidores de órgãos estaduais aos quais se dirijam, será garantido o seu ingresso nas respectivas dependências sem quaisquer restrições de acesso, ainda que de ordem administrativa, vedados quaisquer procedimentos de revista pessoal ou de pertences próprios”.

Para Marcelo, o Metrô busca esconder os problemas e retaliar os trabalhadores que denunciam a precarização da empresa. “Vamos acionar a Justiça do Trabalho contra o Metrô, porque isso é um absurdo. Não vamos aceitar que se demita nenhum trabalhador”, disse o deputado.

Procurado, o Metrô não se manifestou.