Governo vai negociar com caminhoneiros, mas quer fim dos bloqueios

Governo acenou aos líderes grevistas com o dia 8 de agosto como prazo final para fechar um acordo relativo às reivindicações dos caminhoneiros autônomos

Ministro Paulo Sérgio Passos, dos Transportes, atendeu separadamente as lideranças da categoria (Foto: Antonio Cruz/ABr)

Rio de Janeiro – Dirigentes das principais entidades representativas dos caminhoneiros brasileiros estiveram reunidos hoje (31) com o ministro dos Transportes, Paulo Sérgio Passos, para discutir a greve da categoria, que ganhou força em seu terceiro dia. Em conversas travadas em separado com o Movimento União Brasil Caminhoneiro (MUBC), principal articulador do movimento grevista, e com a União Nacional dos Caminhoneiros (Unicam), contrária ao movimento, o ministro avisou que o governo está disposto a negociar, desde que os bloqueios às estradas cessem imediatamente.

Segundo o MUBC, pelo menos 120 mil caminhões permaneceram parados durante toda a tarde nas rodovias federais em 125 cidades de 12 estados: “Neste momento, os que estão parados nas rodovias e nas suas garagens chegam a 75% dos caminhoneiros autônomos”, disse o presidente da entidade, Nélio Botelho, momentos antes do encontro com o ministro em Brasília.

O governo decidiu receber os caminhoneiros depois que os bloqueios de estrada organizados pelos grevistas chegaram à principal rodovia do país – Rodovia Presidente Dutra, que liga o Rio de Janeiro a São Paulo – na madrugada de domingo (29). Três barreiras foram montadas pelos caminhoneiros em território fluminense, nos kms 302 (Resende), 273 (Barra Mansa) e 228 (Piraí, no começo da Serra das Araras).

Em determinado momento de ontem, segundo a Polícia Rodoviária Federal (PRF), as filas de veículos completamente parados em conseqüência da obstrução das pistas da Dutra chegou a 21 quilômetros de extensão no sentido Rio, e a dez, no sentido São Paulo.

Em Barra Mansa, onde a Via Dutra estava completamente obstruída pelos grevistas, a pista foi parcialmente liberada por volta das 14h desta terça. O trânsito na rodovia, assim como na BR-040 (Rio-Juiz de Fora) que corta a Baixada Fluminense, segundo a PRF, permanecia bastante lento no início da noite. Na Dutra, o congestionamento chegava a 19 quilômetros no sentido Rio e a doze quilômetros no sentido São Paulo.

Contra as mudanças

O principal motivo da paralisação dos caminhoneiros é o repúdio às mudanças regulatórias feitas pelo governo federal no setor com a promulgação da Lei 12.619 em abril. As mudanças, segundo a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), tiveram o objetivo de aumentar a segurança nas estradas e melhorar as condições de trabalho dos caminhoneiros autônomos, muitas vezes submetidos a jornadas exaustivas de trabalho, mas, ao que parece, não foram bem recebidas por parte da categoria.

No novo conjunto de regras, o ponto mais criticado pelo movimento grevista é o que determina que o caminhoneiro deva ter obrigatoriamente um período de descanso de 11 horas ininterruptas entre duas jornadas de oito horas de trabalho (com o máximo de duas horas extras), além de meia hora de repouso a cada quatro horas trabalhadas: “Isso foge completamente à realidade do mercado de trabalho. Com a redução obrigatória da jornada de trabalho, os valores que os caminhoneiros conseguirão pelos seus fretes também cairá”, diz Botelho.

Outro ponto que desagrada aos grevistas é a obrigatoriedade de adoção do cartão-frete, que seria utilizado para o pagamento do consumo feito pelos caminhoneiros autônomos em uma rede credenciada pela ANTT ao longo das rodovias federais. Essa medida, segundo o MUBC, facilitaria a formação de cartéis e o aumento do preço de peças e combustíveis.

Divisão

Existe uma divisão no movimento dos caminhoneiros, já que aqueles que trabalham com carteira assinada não aderiram à greve. Entidades como a Unicam acreditam que seja necessário um maior esforço da ANTT para informar melhor os caminhoneiros autônomos sobre as novas regras, encaradas como positivas: “O governo tem se mostrado sensível aos pleitos do setor, e acreditamos que as mudanças visam a trazer maior segurança às estradas e melhores condições de trabalho. Ninguém consegue trabalhar 15 ou 20 horas seguidas”, disse José Araújo da Silva, mais conhecido como China, presidente da Unicam.

O governo acenou aos líderes grevistas com o dia 8 de agosto como prazo final para fechar um acordo relativo às reivindicações dos caminhoneiros autônomos, mas insiste na pré-condição de que todos os bloqueios em estradas federais sejam suspensos imediatamente. A Unicam já confirmou presença, mas o MUBC pretende fazer uma reunião para discutir a proposta do governo amanhã (1º). Pelo menos até lá, as mobilizações nas rodovias federais devem continuar.

Com agências