democracia em risco

Em reunião com trabalhadores, Suplicy manda recado a Marta por aderir ao golpe

Ex-senador perguntou qual a vontade dos eleitores da senadora Marta Suplicy, durante audiência contra ataque a direitos conduzida pelo senador Paulo Paim no Sindicato dos Químicos de São Paulo

Roberto Parizotti/CUT

Suplicy provocou os trabalhadores a lembrar que a Marta em que votaram para o Senado em 2010 não é a mais a mesma

São Paulo – O ex-senador Eduardo Suplicy usou a tribuna de uma audiência pública do Senado, realizada na tarde de hoje (11) no Sindicato dos Químicos de São Paulo, para fazer um apelo à ex-mulher Marta Suplicy (senadora pelo PMDB-SP), que tem votado a favor do impeachment da presidenta afastada Dilma Rousseff. “Quem aqui votou na candidata que apoiava os trabalhadores e que depois mudou de lado?”, perguntou ao público. “Ela deveria votar contra ou a favor do impeachment?”, indagou ainda, e completou: “Isso é só para que ela saiba a vontade dos trabalhadores de São Paulo”.

Suplicy referiu-se à senadora como “mãe querida de meus filhos” e ainda perguntou, especialmente a quem tinha levantado o braço assentindo que votou na senadora, “quem de vocês recomenda que ela vote contra o impeachment?”

A audiência pública, conduzida pelo senador Paulo Paim (PT-RS), discutiu com centrais sindicais e representantes dos trabalhadores os ataques aos direitos que tramitam no Legislativo, com ênfase em dois projetos. Um deles é o Projeto de Lei do Senado (PLS) 432, que pretende alterar o conceito de trabalho escravo, e dificultar a expropriação de propriedades onde sejam identificadas tais práticas. Outro é o Projeto de Lei da Câmara (PLC) 30, que libera a terceirização em todas as atividades. O texto já foi aprovado pelos deputados no ano passado e se encontra em tramitação no Senado.

Paim é relator dos dois projetos, e a realização da audiência permitiu que ele não apenas ouvisse os trabalhadores, como também criasse espaço para as lideranças de diferentes centrais se manifestarem em favor da unidade dos trabalhadores contra o ataque a direitos pretendido pelo governo interino e pela maioria do Congresso.

Roberto Parizotti/CUT
Audiência pública alertou que subiu de 55 para 70 o número de projetos no Congresso com riscos para os trabalhadores

“O ataque no Congresso aos direitos dos trabalhadores, aposentados e pensionistas é cada vez mais cruel. Estou há 30 anos no Parlamento e nunca vi um Congresso pior do que esse, que desrespeita tanto do direito dos trabalhadores”, disse o senador. Paim citou análise do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap) que indica que o número de projetos em tramitação que atacam direitos dos trabalhadores subiu de 55 para 70 no Congresso. “Tem projeto lá querendo até tirar o almoço, tem projeto lá dizendo que o horário máximo de almoço tem de ser 15 minutos”, destacou o senador.

O jornalista e presidente da Repórter Brasil, Leonardo Sakamoto, disse que o trabalho escravo é usado no país para que as empresas obtenham lucros, mas que isso rouba a dignidade do trabalhador. Ele também criticou o discurso de segmentos conservadores: “Parte da bancada ruralista e as confecções dizem que também querem acabar com o trabalho escravo”, destacou, mas isso não condiz com suas práticas. Ele propôs uma provocação, em tom de ironia: “Que tal rever a Lei Áurea? Seus descendentes continuam a ser tratados como carne de segunda. Se for mulher e negra sofre em dobro”.

O presidente da CUT de São Paulo, Douglas Izzo, disse que é importante estudar o pano de fundo dessas mudanças que se aglutinam com o processo de impeachment da presidenta Dilma Rousseff. “Tudo o que foi apresentado até aqui é que não há crime de responsabilidade, o próprio Ministério Público coloca isso, mas o que aconteceu é uma decisão política”, afirmou em relação ao avanço do impeachment no Senado, que levará a presidenta a julgamento no fim deste mês. Douglas disse que a retirada de direitos é o preço que as elites vão cobrar pela aprovação do impeachment, que pretende consolidar Michel Temer na presidência até 2018. O preço, segundo ele, “é a retirada de direitos e o desmonte do Estado como provedor de políticas sociais”.

O secretário-geral da Intersindical, Edson Carneiro, o Índio, criticou os governos Lula e Dilma, mas observou que os ataques atingem a todos os trabalhadores. “Não apoiamos a conciliação de classes, mas queremos barrar a ofensiva de direita”. Índio afirmou que os segmentos da sociedade que foram para as ruas pedir o impeachment da presidenta “são os responsáveis pelo desmonte” do Estado social e de direitos. E defendeu a unidade das centrais sindicais e trabalhadores: “Vamos construir unidade em nome da defesa de direitos para barrar também a prevalência do negociado sobre o legislado”, afirmou, em referência a outro projeto no Parlamento, que “flexibiliza” a CLT. Índio criticou ainda a reforma da Previdência pretendida pelo governo interino, que para ele significa um ataque ao sistema público para permitir que prevaleça no país o sistema de previdência privada, na mão dos banqueiros.