Após mobilização, frigorífico reconhece más condições de trabalho

Sidrolândia/MS – A direção do Grupo Seara Marfrig reconheceu, em reunião na terça-feira (7) com a Confederação Nacional dos Trabalhadores nas Indústrias da Alimentação (Contac/CUT) e o Sindicato dos Trabalhadores […]

Sidrolândia/MS – A direção do Grupo Seara Marfrig reconheceu, em reunião na terça-feira (7) com a Confederação Nacional dos Trabalhadores nas Indústrias da Alimentação (Contac/CUT) e o Sindicato dos Trabalhadores da Alimentação de Sidrolândia-MS (Sindaves), que existem “muitas verdades” nas denúncias sobre a epidemia de lesões e mutilações provocada pelos frigoríficos avícolas e que a empresa deve explicações à sociedade.

Em nome da Seara, o gerente da unidade local, Marcelo Mouser da Silva, manifestou a preocupação em dar enfrentamento aos problemas causados pelo ritmo intensivo de trabalho e pelas longas e extenuantes jornadas, iniciando pela ampliação das atuais três pausas de 8 minutos para quatro, totalizando 32 minutos.

Atualmente existe uma decisão favorável do Tribunal Superior do Trabalho (TST) a uma ação interposta pelo Ministério Público e pelo Sindaves que determina a implantação de intervalos de 20 minutos a cada uma hora e 40 minutos trabalhados. Questionada pela Seara Marfrig, a ação está para ser julgada pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

Após a reunião, ficou estabelecido que questões relativas à emissão de Comunicação de Acidente de Trabalho (CAT), que vinham sendo mascaradas pelos médicos da empresa, vão passar a ser analisadas pessoalmente pela gerência e pela direção de Recursos Humanos da Seara.

A direção da empresa também se comprometeu a avaliar denúncias contra médicos e laboratórios que têm sido acusados pelos trabalhadores de atuar de forma anti-ética para negar ou atenuar as doenças provocadas pela precariedade das condições de trabalho na unidade local.

Na avaliação de José Modelski, dirigente da Contac/CUT, o reconhecimento por parte da empresa da necessidade de pausas fortalece a mobilização nacional em defesa de uma Norma Regulamentadora para o setor frigorífico. “A NR que estamos construindo de forma tripartite, entre governo, trabalhadores e empresários, contempla as pausas, a redução do ritmo de trabalho e mudanças ergonômicas no ambiente de trabalho. Nosso compromisso é com a melhoria das condições de vida da categoria que, infelizmente, vem tendo sua saúde comprometida”, explicou.

De acordo com Modelski, “os depoimentos dos trabalhadores lesionados falam por si e mostram que está havendo um aumento no número de trabalhadores lesionados e no agravamento das enfermidades, o que aponta a necessidade de medidas urgentes para deter essa epidemia”.

Conforme Sérgio Bolzan, presidente do Sindaves e um dos representantes da bancada de trabalhadores na formulação da NR, ampliar as pausas é positivo, mas a luta é mais ampla. “Acreditamos que este é um primeiro passo, conquistado depois de várias denúncias sobre os problemas que os trabalhadores estão enfrentando nos frigoríficos avícolas”, declarou.

Uma nova reunião nacional entre a direção da empresa, da Contac/CUT e do Sindaves deverá acontecer até o dia 25 de junho. Na próxima quarta-feira (15), dirigentes dos principais sindicatos de alimentação do país estarão reunidos em Caxias do Sul-RS para debater ações em defesa da aprovação da NR.

Regulação

Está em tramitação no Congresso Nacional um projeto de autoria do seu atual presidente, deputado Marco Maia (PT-RS), que dispõe sobre a redução da jornada de trabalho no setor frigorífico para 36 horas semanais, sem redução de salário. O projeto encontra-se na Comissão de Seguridade Social, de onde passará para as Comissões de Trabalho e de Constituição e Justiça em caráter terminativo, ou seja, uma vez aprovado nas comissões irá à sanção presidencial, não precisando ir a plenário.

“O setor está crescendo, registrando aumentos de lucros sucessivos com base na elevação da produtividade. Portanto, nada mais justo do que dividir este crescimento com os trabalhadores. É uma questão de justiça”, concluiu Modelski.

Reportagem de Leonardo Sevro, para a CUT Nacional
Edição: Fábio M. Michel