Sindicalistas internacionais defendem mais democracia contra a crise

Clemente, do Dieese (ao microfone), na mesa com o colombiano Ramón Ruiz (Unef), o espanhol Manuel Aporta (CCOO), Rita Berlofa (Sindicato dos Bancários) e o paraguaio Victor Baez (CSA). Foto: […]

Clemente, do Dieese (ao microfone), na mesa com o colombiano Ramón Ruiz (Unef), o espanhol Manuel Aporta (CCOO), Rita Berlofa (Sindicato dos Bancários) e o paraguaio Victor Baez (CSA). Foto: Maurício Morais/Sindicato dos Bancários

São Paulo – A proteção dos direitos trabalhistas e a atuação das organizações sindicais em períodos de crise econômica foram algumas das questões debatidas ontem (25), no segundo dia do seminário internacional “O Papel dos Sindicatos na Construção da Democracia”, promovido pelo Sindicato dos Bancários de São Paulo.

A secretária-geral da Central Sindical Internacional (CSI), Sharan Burrow (foto abaixo), participou do evento por videoconferência e destacou que a situação na Europa se complica desde o início da recessão, há cinco anos, entrando em uma fase já denominada como a “era da grande estagnação”.

“As medidas anticrise, sobretudo dos países europeus, fracassaram. Os jovens estão desempregados e as aposentadorias sustentam até três gerações de famílias. São avós, pais e netos sem trabalho”, relatou, ao acrescentar que cerca de 80% deles não têm seguro-desemprego.

Para ela, a esperança era de que medidas econômicas anticíclicas, como as adotadas pelo Brasil ainda na gestão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, fossem colocadas em prática pelos governos europeus de forma a garantir a proteção social e o emprego.

Mas o que ocorreu foi justamente o oposto. “Estão pilotando um projeto de empobrecimento do povo. Essa crise foi gerada por um modelo econômico fracassado e o nosso desafio é propôr um novo modelo de sociedade. Queremos que o espírito dos bancários cutistas se espalhe pelo mundo para que tenhamos a solidariedade de todos na busca por um mundo mais justo.”

O Brasil e a crise

O diretor-técnico do Dieese, Clemente Ganz Lúcio, destacou o grande trunfo da classe trabalhadora no Brasil. “Fizemos uma coisa inédita na história da humanidade ao eleger um operário para presidente. Lula, através do fomento do mercado interno, preparou o país para sairmos melhor dessa crise que assola o modelo capitalista dos países centrais. São (necessárias) décadas para tirar um país da recessão econômica. Conhecemos bem o que é o FMI. Conhecemos muito bem esse receituário. O que vivemos hoje é o período mais longo de democracia na história do Brasil.”

“O que Lula fez e Dilma está consolidando é a organização de um padrão de regulação diferente do passado, assentado no fortalecimento do Estado com nível de desigualdade menor. Sustentar isso é fundamental, pois o modelo brasileiro já deu mostra de que o Estado é estratégico e faz a diferença”, completou.

Quem paga a conta?

Para Clemente, na atual conjuntura, ou o movimento sindical luta por um mecanismo de proteção do emprego para enfrentar a crise ou a sociedade irá encarar o desemprego. “Ninguém acreditaria que a democracia seria arranhada na Europa como está sendo. Esse é o melhor momento para criarmos mecanismos de proteção ao emprego e aos direitos sociais. A tarefa estratégica é pensar uma taxa mundial de salário para que a remuneração dos trabalhadores não seja rebaixada”.

Estratégia internacional

“Ser sindicalista nunca é fácil em nenhum país. Às vezes, luta-se para avançar, às vezes, para resistir”, disse o secretário federal de cooperação internacional da Comfia-CCOO, da Espanha, Manuel Rodrigues Aporta.

O dirigente lembrou que com o agravamento da crise é necessário ter em mente que “a batalha não é nacional, mas global”. A situação em seu país é dramática, Aporta comparou o cenário atual com a ditadura de Franco, época em que o sindicalismo era proibido e que um grupo de funcionários de uma fábrica se organizou para defender os direitos. “Assim criou-se as Comissões Obreiras (CCOO). Precisamos resgatar a origem para compreendermos o momento atual e, assim, percebermos que democracia não é votar a cada quatro anos, mas sim participar e opinar, inclusive no local de trabalho.”

América Latina

Na Colômbia, a realidade é ainda mais dura. O presidente da União Nacional de Empregados Bancários (Uneb), Ramón Cuervo Ruiz, apresentou números alarmantes de sindicalistas assassinados: desde 1986, 2.937 dirigentes. “Organizações sindicais foram alvo de ataques. Em 2011, 50 sindicalistas foram mortos. Em 2012, foram 17. Sem falar dos desaparecimentos. É difícil exercer o sindicalismo em meu país.”

Ramón também apresentou informações sobre a precarização do trabalho bancário na Colômbia. “Trata-se de uma ofensiva da burguesia contra os sindicatos para flexibilizar direitos trabalhistas. É uma nova modalidade de privatização. No ramo financeiro, os caixas são terceirizados em muitos bancos.” O presidente da Uneb valorizou a trajetória do Sindicato: “Não é fácil chegar aos 90 (anos). Hoje, trabalhadores do mundo têm condições melhores. Mas a realidade ainda é bem precária mesmo com a luta dos sindicatos”.

Fortalecimento

A secretária-geral da CSI, Sharan Burrow, alertou sobre a importância da sindicalização. “Apenas 7% dos trabalhadores no âmbito global são sindicalizados. Precisamos usar o exemplo do Brasil, que tem negociação coletiva e salário decente”, ressaltou.

O presidente da Central Sindical das Américas (CSA), Victor Baez, destacou que nos países latinos americanos em que a taxa de sindicalização é maior, a proteção aos trabalhadores também é mais valorizada. “Na Argentina, no Uruguai e Brasil, onde o número de associação de trabalhadores ao Sindicato é maior, são os países onde encontramos mais convenções coletivas na América Latina”, disse.

“Precisamos de liberdade sindical e direito de negociação coletiva. Essas são ferramentas importantes para a distribuição da riqueza concentrada nas mãos de poucos. É dessa forma que o movimento sindical deve caminhar no mundo”.

A mesa foi mediada por Rita Berlofa, diretora executiva do Sindicato dos Bancários. 

Com informações do site do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região