Dilma escolherá nomes da Comissão da Verdade no tempo certo, diz Paulo Abrão

Para presidente da Comissão de Anistia, país está ganhando a luta contra o esquecimento

Para Abrão, a demora na definição dos nomes é sinal de cuidado na escolha (Foto José Cruz/ABr)

São Paulo – O presidente da Comissão de Anistia do Ministério da Justiça, Paulo Abrão, disse não ter “nenhuma informação” sobre a escolha dos nomes para integrar a Comissão da Verdade. Na semana passada, o ex-secretário de Direitos Humanos Paulo Vannuchi disse haver “rumores” de que a composição poderia ser conhecida nesta semana. “A decisão está nas mãos da presidenta, que no tempo certo escolherá os nomes e instalará a comissão”, disse Abrão.

Para ele, a demora na definição pode ser vista de forma positiva, como um sinal de cuidado na escolha. “Se está demorando, é porque é prioridade”, afirmou. A lei que criou a comissão (12.528) foi sancionada em novembro pela presidenta Dilma Rousseff.

Segundo Abrão, também secretário nacional da Justiça, o país vive uma terceira fase na luta pela anistia. “É um grande batalha jurídica, de internalização dos tratados internacionais.” Também está sendo superada, na sua visão, uma certa “transição controlada” do processo no Brasil, que inclui esquecimento dos fatos, não apuração e impunidade. “A luta contra o esquecimento acho que estamos ganhando. A nossa tradição é de não enfrentamento das violações do Estado”, diz ele, citando fatos como a escravidão, a Guerra do Paraguai e a violência contra as populações indígenas. “Esperamos que a Comissão da Verdade cumpra essa tarefa (de apuração). Falta a terceira.”

Ele afirmou que a Caravana da Anistia realizada na semana passada em São Paulo pode ter sido “a última reunião antes da Comissão da Verdade”. A próxima está marcada para os dias 29 e 30, no Piauí – é a primeira vez que a caravana irá para aquele estado. Ainda neste semestre, estão previstas reuniões em Bauru (SP), Florianópolis, Porto Alegre e Fortaleza.

Filme

No último dia da caravana em São Paulo, sexta-feira (9), foi exibido o documentário “Vou Contar para meus Filhos”, dirigido por Tuca Siqueira. O filme faz parte do projeto Marcas da Memória, do Ministério da Justiça, em parceria com o Grupo Tortura Nunca Mais de Pernambuco. Mostra o reencontro de mulheres que, de 1969 a 1979, foram presas políticas na Colônia Penal Feminina do Bom Pastor, em Recife. Eram 24 mulheres, das quais três já morreram, lembra Yara Falcon, do Tortura Nunca Mais pernambucano. “Nossa luta continua e passa agora pela Comissão da Verdade”, afirmou.

Ilda Gomes da Silva, viúva de Virgílio Gomes da Silva, também torce pelo sucesso da Comissão da Verdade. “Essa comissão vai ser a esperança da gente. Penso que vão fazer muita coisa. Eu tenho fé.”

Ela lembra que a procuradora Eugênia Gonzaga, do Ministério Público Federal, defende que se faça um canteiro e um monumento no local das escavações em busca das ossadas de desaparecidos políticos, entre eles Virgílio, no cemitério da Vila Formosa, zona leste de São Paulo. “Pedi que se faça em homenagem a todos, porque todos merecem”, diz dona Ilda, que participou do evento em São Paulo. Também estava lá a presidenta da Associação Mulheres pela Paz, Clara Charf, viúva de Carlos Marighella.

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