Sem categoria
Em Paris

Morre Milan Kundera, autor de ‘A Insustentável Leveza do Ser’, aos 94 anos

Autor escreveu suas primeiras obras sob o clima do regime comunista imposto à então Thecoslováquia pela União Soviética, após a “Primavera de Praga”

Elisa Cabot/Wikimedia
Elisa Cabot/Wikimedia
Personagens de Kundera (na foto de 1980) viviam entre a realidade do mundo e as reflexões filosóficas

São Paulo – Morreu ontem (11), aos 94 anos, o escritor tcheco Milan Kundera. Mais conhecido por seu romance A Insustentável Leveza do Ser (1983), o autor escreveu uma série de outros livros em que enquadrava reflexões existencialistas em meio a cenas cotidianas. Na primeira fase da carreira, seus livros criticavam de forma irônica os regimes autoritários.

Essa abordagem era influência do clima do regime comunista imposto à República Tcheca (então Thecoslováquia) pela União Soviética depois da ocupação do país, em 1968. Kundera foi exilado e teve sua obra proibida. Já na França, ele escreveu O Livro do Riso e do Esquecimento (1979), classificado como uma mistura de romance, contos curtos e ensaios.

A Insustentável Leveza do Ser só teve sua primeira edição em tcheco em 2006. A obra se tornou best-seller internacional. Adaptada ao cinema em 1988, com direção de Philip Kaufman, recebeu duas indicações ao Oscar. O escritor é autor de A Brincadeira (1967), Risíveis Amores (1969), A Identidade (1997) e outros.

A Imortalidade

Com A Imortalidade (1990), Kundera inicia uma segunda fase em sua obra, marcada por reflexões filosóficas a partir do dia a dia de pessoas. Com o romance, o escritor se distancia do universo político tcheco. Na história, que se passa já em Paris, e não mais em seu país natal, o narrador pontua a narrativa com temas como o gesto e a própria imortalidade.

Embora não seja um livro político, Milan Kundera menciona dois ex-presidentes da França para falar dos conceitos que desenvolve, sobre a própria imortalidade e a imortalidade risível. François Mitterrand, segundo o narrador, sabia semear a imortalidade, enquanto Valéry Giscard d’Estaing seria um condenado à mera imortalidade risível.