Apoio cresce

Site de carta pela democracia sofre ataques de Bolsonaro e hackers, mas adesões passam de 165 mil

Centrais sindicais também devem oficializar apoio à reedição da “Carta aos Brasileiros” nesta quinta (28). Bolsonaro diz que não é preciso “nenhuma cartinha”

© trampolim.net
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Site 'Estado de Direito Sempre!' já sofreu 1.538 tentativas de invasão para tirá-lo do ar. Xingamentos também são usados para tumultuar a lista de signatários

São Paulo – Apesar das críticas do presidente Jair Bolsonaro (PL) e de ataques hackers, a nova edição da Carta aos Brasileiros, manifesto em defesa da democracia, já supera as 165 mil assinaturas nesta quinta-feira (28). E a perspectiva é que novas adesões ocorram nos próximos dias. As centrais sindicais devem oficializar apoio à iniciativa hoje. CSB, CTB, CUT, Força Sindical, Nova Central e UGT vão se reunir para marcar o apoio ao documento e decidir sobre a retomada das manifestações de rua no Brasil. 

As iniciativas fazem parte de uma agenda de mobilização em defesa da democracia e do processo eleitoral. No caso da reedição da Carta aos Brasileiros, apesar do documento não citar nomes, ele é considerado uma resposta às ameaças golpistas de Bolsonaro. Entre elas, a de que o presidente poderá não aceitar o resultado das eleições caso o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) não acolha as sugestões ao processo feitas por uma comissão das Forças Armadas. Como o chefe do Executivo sugeriu em reunião com embaixadores, na semana passada. 

O novo documento relembra o período em que foi escrito, em meio à ditadura civil-militar, em 1977, para destacar que esse regime foi superado. Mas alertando que a democracia brasileira “revive tentativas de desestabilização”. O texto ainda defende os tribunais superiores, o sistema eleitoral e a democracia. A carta será lida em evento na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP), no dia 11 de agosto. Desde que foi divulgada, na terça (26), passou de 3.069 para mais de 165 mil signatários. O que inclui setores do agronegócio, banqueiros e nomes importantes do PIB nacional que flertaram com o bolsonarismo, mas que vêm tomando outras posições. 

Bolsonaro sentiu

A reação desses setores foi sentida por Bolsonaro que, ontem (27), criticou a elaboração do manifesto, durante convenção do PP que oficializou apoio à sua reeleição. “Vivemos num país democrático, defendemos a democracia, não precisamos de nenhuma cartinha para dizer que defendemos a democracia”, tentou minimizar Bolsonaro. “(…) Não precisamos então de apoio ou sinalização de quem quer que seja para mostrar que nosso caminho é a democracia, liberdade, respeito à Constituição”, seguiu o mandatário. 

O manifesto, porém, é endossado por juristas, como o ex-ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Celso de Mello, que chegou a chamar Bolsonaro de “presidente menor”. Ativistas sociais, intelectuais e artistas também são signatários do documento que vem registrando novas adesões por meio do site Estado de Direito Sempre!A plataforma também vem sendo alvo de ataques hackers. Desde terça, quando o documento veio a público, o site já sofreu 1.538 tentativas de invasão para tirá-lo do ar. 

Xingamentos e nomes falsos também vêm sendo usados para tentar tumultuar a lista de signatários. A organização vem montando em paralelo um esquema de segurança digital para proteger a homenagem à Carta dos Brasileiros de 1977. 

Leia mais: Com democracia em risco, Faculdade de Direito da USP será palco de nova edição da ‘Carta aos Brasileiros’

Apoio econômico

O avanço da iniciativa vem ainda preocupando o núcleo da campanha de Bolsonaro principalmente pela adesão de setores econômicos. O ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, tentou desdenhar do apoio dos banqueiros, atrelando-o a um incômodo do setor com o advento do PIX. Mas interlocutores de Bolsonaro disseram temer outras iniciativas semelhantes do setor produtivo e do sistema a financeiro e estariam aconselhando o presidente a evitar novos ataques às urnas eletrônicas, de acordo com reportagem do portal Jota.

“Esse tipo de movimentação não acontece por acaso. É o establishment econômico, inclusive aquele que flertou com o bolsonarismo, tomando posições. Ninguém com negócios e investimentos no país vai embarcar numa aventura de ruptura institucional”, afirmou um interlocutor. 

Com informação do colunista Mônica Bergamo, do jornal Folha de S.Paulo


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