entrevista

Rogério Carvalho sobre chapa Lula-Alckmin: ‘O país está em risco. Vamos apostar na barbárie?’

“Estamos lidando com um grupo muito perigoso, sem limites. E precisamos criar uma estabilidade para poder governar depois”, diz senador

Ricardo Stuckert e Geraldo Magela / Agência Senado
Ricardo Stuckert e Geraldo Magela / Agência Senado
O senador Rogério Carvalho apoia chapa Lula-Alckmin: "precisamos somar esforços"

São Paulo – A construção da chamada “frente ampla” contra Jair Bolsonaro segue com intensidade nesta segunda-feira (11) em Brasília, onde o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem jantar com diversas lideranças. Por seu lado, o pré-candidato a vice-presidente na chapa com Lula, o ex-governador Geraldo Alckmin, encontra-se com advogados progressistas em São Paulo.

O centro político do evento de Brasília é o MDB, partido que já lançou a pré-candidatura de Simone Tebet (MS), mas que tem alguns dos seus líderes indicando apoio ao petista. É o caso do ex-presidente do Senado Eunício Oliveira (CE), e do senador Renan Calheiros (MDB-AL), respectivamente anfitrião e convidado do encontro desta noite. Também estarão no jantar Katia Abreu (PP-TO), Omar Aziz (PSD-AM) e Randolfe Rodrigues (Rede-AP), entre outros.

Enquanto Lula participa da reunião na capital federal, Alckmin vai jantar na casa do advogado Pedro Serrano, em São Paulo. O encontro foi organizado pelo coordenador do Grupo Prerrogativas, o também advogado Marco Aurélio Carvalho, e o cardápio será degustado por juristas do campo progressista.

Nada simples

Entre os petistas presentes ao jantar de Brasília, estará o senador Rogério Carvalho (SE), que conversou com a reportagem da RBA. O parlamentar, que vai disputar o governo de seu estado, está entre os que apoiam a presença do ex-governador Geraldo Alckmin na chapa com Lula. “Precisamos somar esforços. Estamos lidando com um grupo muito perigoso, sem limites. Precisamos criar uma estabilidade para poder governar depois”, defende Carvalho.

Carvalho se opõe à visão de setores dentro do próprio PT que rejeitam o nome do ex-tucano e diz que a questão não é simples. “Precisamos ampliar para governar, ter consciência de que governar um país não é exercício de desejo político, ou de matriz ideológica específica. É muito mais complexo”, afirmou. “Vamos apostar na barbárie? A gente viveu na barbárie. A gente já viu isso. Não se sai da barbárie fácil. É um processo. Foi um processo para a gente chega nela, e será um processo para sair dela”, acrescentou, referindo-se aos anos da ditadura civil-militar a partir do golpe de 1964 e que durou até 1985.

Leia a entrevista de Rogério Carvalho:

Como avalia o cenário, os movimentos do Lula, as negociações nessa “frente”?

Lula acertou quando trouxe Alckmin para a chapa. A democracia está em risco e precisamos juntar as forças democráticas para poder recolocar o país no rumo da democracia, passar a ter um projeto, a União voltar a ter um protagonismo interno estruturado, recuperar o protagonismo externo. Nossa condição externa hoje é de pária internacional.

Como tem sentido as reações, dentro e fora do PT, à chapa Lula-Alckmin? Há no PT alas incomodadas com Alckmin.

Veja, precisamos ganhar a eleição e para isso precisamos somar esforços. Estamos lidando com um grupo muito perigoso (Bolsonaro e aliados), sem limites. Precisamos criar uma estabilidade para poder governar depois. Precisamos ampliar para governar, ter consciência de que governar um país não é exercício de desejo político, ou de matriz ideológica específica. É muito mais complexo.

No caso da França essa percepção em relação a Macron contra Le Pen foi rápida…

Pois é, porque não tem outra alternativa. Vamos apostar na barbárie? A gente viveu na barbárie. A gente já viu isso. Não se sai da barbárie fácil. É um processo. Foi um processo para a gente chegar nela e será um processo sair dela.  

E as questões regionais? Renan Calheiros, em Alagoas, é claramente aliado de Lula. Por outro lado, o MDB parece firme no nome da Simone Tebet. Apesar do esforço de Lula e lideranças, como vê as questões regionais no contexto?

Vai ter muito conflito que precisa ser administrado, mas acho que os partidos – PT, PSB, parte do MDB, os que têm responsabilidade com a institucionalidade brasileira – estão caminhando bem. É muito cedo ainda pra gente falar num resultado, mas está indo bem, pelo menos na região Norte e Nordeste.

Em São Paulo tem uma aliança importante – do projeto como um todo. Não estou acompanhando toda a discussão porque sou pré-candidato, então estou muito focado na minha realidade local. Mas vejo que tem um esforço muito grande em fazer uma composição ampla em todos os estados pra garantir que a gente derrote a barbárie.

E como está a situação no seu estado e com sua pré-candidatura?

Bem, estamos com a federação, os três partidos da federação (PT, PCdoB e PV), mais o PSB e Solidariedade, e estamos conversando com MDB. Lá não tem crise com o PSB.

Para Roberto Amaral, ao escolher Alckmin para seu vice, Lula já estaria pensando mais no governo do que na eleição, por saber que vai ser mais difícil ainda do que em 2003. Concordaria com essa análise?

Todo recomeço é difícil. Em março a inflação foi de 1,62%, imagine isso no acumulado do ano. A gente tem uma inflação no primeiro trimestre praticamente de um ano inteiro. Vamos ver até o final do ano. Sem contar a taxa de juros que já subiu bastante.

Creio que vai ser um período difícil, o primeiro e segundo ano de governo. São anos de reorganização institucional, de reorganização fiscal. A gente precisa tirar as amarras para o país voltar a crescer, gerar emprego, renda. Fazer a economia girar novamente. Ter um projeto de desenvolvimento e diversificação da atividade econômica.

Vai ser muito complexa a operação de governo a partir de 2023. Tem que reconstruir o que foi desmontado e projetar o futuro. Os dois primeiros anos são fundamentais para projetar o futuro do governo. O que vamos ter de perspectiva de futuro enquanto país?

Fora a guerra, que a gente não esperava que fosse acontecer agora…

É difícil falar dessa guerra. Fazer um julgamento superficial dessa guerra é fazer o que os Estados Unidos estão fazendo, tratar um assunto complexo e de alto risco de forma demagógica.

E leviana…

Demagógica, leviana. É muito perigoso tudo isso que a gente está vendo.