No Rio de Janeiro, todos contra Sérgio Cabral

(Foto: Nelson Perez/Divulgação) Rio de Janeiro – A propaganda gratuita no rádio e na televisão que começa nesta terça-feira (17) é a última chance que os adversários de Sérgio Cabral […]

(Foto: Nelson Perez/Divulgação)

Rio de Janeiro – A propaganda gratuita no rádio e na televisão que começa nesta terça-feira (17) é a última chance que os adversários de Sérgio Cabral (PMDB) têm para reverter um quadro eleitoral que, segundo as pesquisas, aponta para a reeleição do governador do Rio de Janeiro já no primeiro turno.

O contexto da propaganda eleitoral deve ser o mesmo do debate entre os candidatos exibido pela Rede Bandeirantes na última quinta-feira (12), quando Fernando Gabeira (PV), Jefferson Moura (PSOL) e Fernando Peregrino (PR) centraram suas artilharias nos pontos mais sensíveis da administração Cabral, como saúde e educação, enquanto o governador procurou apontar os números positivos de seu governo e ressaltar a aliança com Dilma Rousseff (PT) e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

No dia seguinte ao debate, o Instituto Datafolha divulgou uma pesquisa de opinião na qual Cabral aparece como virtualmente eleito no primeiro turno, com 57% das intenções de voto dos fluminenses. Gabeira, o adversário mais próximo, surge com 14% das preferências, enquanto os demais – Eduardo Serra (PCB, 3%), Cyro Garcia (PSTU, 2%), Moura (1%) e Peregrino (1%) – não chegaram a decolar. A vantagem foi comemorada pelo governador no fim-de-semana: “Estou muito contente, é claro, mas o importante agora é manter a humildade e continuar trabalhando. Temos que estar nas ruas com os eleitores e mobilizar mais do que nunca os nossos companheiros”, disse.

Gabeira admitiu “ter que trabalhar muito para provocar um segundo turno”, mas se mostrou esperançoso com a propaganda no rádio e na tevê, período no qual historicamente seu nome costuma crescer: “Começa agora uma nova fase da campanha. Em 2008, terminei o mês de agosto com 8% nas pesquisas e, no dia das eleições, tive 25% dos votos e cheguei ao segundo turno. Esperamos uma arrancada para setembro”, afirma o candidato, fazendo referência à disputa perdida para Eduardo Paes (PMDB) nas últimas eleições para a Prefeitura do Rio.

Além do horário de propaganda gratuita, no qual terá um pouco menos que cinco minutos contra oito de Cabral, Gabeira aposta nos próximos debates na tevê – programados pelo SBT e pela Rede Globo – para impulsionar a desejada arrancada que o levaria ao segundo turno. Após os resultados das últimas pesquisas, no entanto, há no comando de campanha de Cabral quem defenda que o governador não compareça aos debates, deixando para se pronunciar somente nas entrevistas que os telejornais das duas emissoras também já programaram com cada candidato.

Por hora, Cabral se dedica a comparecer aos comícios eleitorais para falar das experiências consideradas positivas de seu governo, como a instalação de Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) em algumas favelas antes dominadas pelo tráfico, a implantação do bilhete único intermunicipal nos transportes públicos e a parceria com o governo federal para as obras do PAC, entre outras.

O candidato do PV, por sua vez, deve concentrar suas críticas na área de Saúde, assim como fez durante o debate da Bandeirantes, quando afirmou que o sistema hospitalar do estado é “dominado e estrangulado por um único fornecedor” e que o setor é objeto de “inúmeros casos de corrupção e compras de remédios e equipamentos sem licitação e superfaturados”. Nos últimos dias de campanha, Gabeira percorreu hospitais como o Hospital Universitário Pedro Ernesto (que pertence à Uerj), o Hospital Central do Iaserj e o Hospital Estadual Getúlio Vargas, uma das maiores unidades de atendimento hospitalar do Rio, onde denunciou “a falta de neurocirurgiões”.

“Cabral é do mal”

Em outra frente, Sérgio Cabral sofre também com os ataques de Fernando Peregrino, candidato apoiado pelo ex-governador Anthony Garotinho. Impedido pela Justiça Eleitoral de concorrer ao Governo do Estado, Garotinho terá por intermédio de Peregrino um canal para atacar Cabral, hoje seu maior desafeto político, durante a propaganda no rádio e na tevê. Na mistura de comício e culto religioso que protagoniza por todo o estado, Garotinho sempre dedica uma parte de seu discurso para falar mal do atual governador, a quem classifica como “traidor”.

Durante comício do PR realizado semana passada na Cinelândia, no Centro do Rio, o ex-governador convidou as cerca de três mil pessoas presentes a darem as mãos e repetirem exaustivamente a frase “Cabral é do mal”. Este deverá ser durante toda a campanha na tevê e no rádio o mantra político de Peregrino e de Garotinho, que concorre a uma vaga na Câmara dos Deputados.

No debate da Bandeirantes, Peregrino indagou a Cabral se o governador considerava moralmente aceitável que a primeira-dama, Adriana Ancelmo, “atuasse como advogada para as empresas concessionárias Metrô Rio e Supervia, que prestam péssimos serviços à população”. Visivelmente irritado, Cabral respondeu que a mulher já era advogada antes de os dois se conhecerem e que continuará sendo depois que ele deixar o governo: “Lamento que o candidato do casal Garotinho, cuja prefeita [Rosinha Matheus, de Campos] acabou de ser cassada, venha falar da moral da minha mulher”, disse.

“Ex-Gabeira”

Outro que se destacou no primeiro debate da tevê graças ao poder de sua artilharia contra o atual governador foi Jefferson Moura. O candidato do PSOL citou didaticamente, olhos fixos na câmera, que Cabral “começou a carreira com Moreira Franco, depois foi para o PSDB colaborar com o então governador Marcello Alencar e, depois, indicou e nomeou colaboradores nas gestões do casal Garotinho para, agora, estar com Lula”.

Mais adiante, Moura levou o governador a um outro momento de visível irritação diante das câmeras quando afirmou considerar “um absurdo que um professor do Estado ganhe a metade do que ganha um cabo eleitoral do Sérgio Cabral”.

A metralhadora giratória do PSOL também não poupou Fernando Gabeira: “O senhor tem uma história de lutas neste país, mas está abrindo mão dessa história para dar as mãos a uma coligação com o PSDB, uma coligação com o DEM de Cesar Maia e do mensalão de Brasília. O senhor, nestas eleições, é um ex-Gabeira”, disse Moura, sempre provocando o verde ao repetir que “o candidato a presidente do Gabeira é o José Serra”.