Entrevista

Edinho Silva: ‘Não é simples construir unidade na esquerda. Mas temos que tentar’

O prefeito de Araraquara, Edinho Silva (PT), fala sobre temas relevantes como covid-19, expectativa para 2022, comunicação, entre outros temas. O político clama por unidade na esquerda “porque o outro lado dialoga com o fascismo”

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"Não será um único partido de esquerda que será capaz de derrotar a direita bolsonarista. Não podemos entrar no processo fragmentados", disse Edinho

São Paulo – Em encontro on-line realizado pelo Centro de Estudos de Mídia Alternativa Barão de Itararé na noite de ontem (8), o prefeito de Araraquara, Edinho Silva (PT), defendeu uma articulação ampla de setores democráticos para enfrentar correntes políticas ligadas ao presidente Jair Bolsonaro. “Não será um único partido de esquerda que será capaz de derrotar a direita bolsonarista. Não podemos entrar no processo fragmentados e fragilizados”, disse. “A falta de unidade do nosso campo é trágica, porque o outro lado dialoga com o fascismo mesmo”, completou.

O Centro de Estudos de Mídia Alternativa Barão de Itararé organiza uma série de entrevistas com prefeitos do campo progressista de todo o país. A primeira delas foi com a prefeita de Juiz de Fora (MG), Margarida Salomão, também do PT. Na conversa com Edinho Silva, a pauta incluiu ainda a pandemia de covid-19, comunicação, desinformação, sustentabilidade, e outros temas relevantes.

O novo e o velho

Edinho revelou estar “à flor da pele”, ansioso com o futuro da política brasileira. Nas palavras dele, “o velho ruiu e o novo ainda não surgiu. Gostaria que a esquerda se reciclasse, que fosse o novo que ainda não surgiu”. Dentro deste contexto, o político classificou como equivocada a pré-candidatura precoce de Fernando Haddad à presidência pelo PT em 2022.

“Vou dizer uma coisa que, talvez, meus companheiros do PT fiquem bravos. Reconheço mesmo a liderança de Fernando Haddad. Mas lançá-lo como candidato à presidência nesse momento é um imenso erro. Não pelo Fernando. Mas pelo não processo de construção”, disse. Para Edinho, o Brasil de 2022 não é o mesmo país de 2010, quando Dilma Rousseff (PT) foi eleita pela primeira vez.

Edinho argumenta, para sustentar sua posição, que a extrema direita está “enraizada” no Brasil, consolidada na figura do presidente Jair Bolsonaro. Mesmo com o avanço de sua reprovação, o atual mandatário sustenta um eleitorado relevante, acima dos 30%. “As pesquisas mostram. Uma direita enraizada que construiu base social. Construiu identidade. Temos que construir um campo democrático. Quem da esquerda quer criar uma frente? Se nós não sairmos conversando, ninguém”, questionou.

“Não acho que seja simples construir unidade na esquerda. Mas acho que temos que tentar”, prosseguiu. O prefeito de Araraquara vai além. Para ele, a união deste campo pode precisar consolidar reforços de outros espectros políticos. “Mesmo em um segundo turno, precisamos de uma esquerda que traga amplos setores, se não também não ganha. Setores democráticos”, afirmou.

Aproximação

Dentro do panorama de necessidade de articulação popular, Edinho cobra mais proximidade da esquerda com temas caros, mas deixados de lado pelo debate hegemônico. “Tem me preocupado a questão do debate ambiental. O debate sobre a questão do bem estar animal é inacreditável. É inacreditável que esse debate esteja com a direita. Se pegarmos as lideranças eleitas com bandeiras de bem estar animal, é tudo gente de direita. Isso está errado, esse debate também passa pela questão da sustentabilidade, de projeto de sociedade”, disse.

Outro exemplo de aproximação necessária da esquerda com as pessoas está nas novas organizações de trabalho. “Precisamos dialogar com novas categorias profissionais. A esquerda está meio perdida. A maior categoria profissional de hoje é a de operadores de aplicativo. A molecada da entrega, moto-entrega. Maior categoria profissional do Brasil! E não vejo movimento sindical conversando com eles, nem a esquerda.”

Tragédia

Uma das necessidades de articulação dos campos populares fica clara a partir da pandemia de covid-19. A postura radical de Bolsonaro se refletiu em uma condução desastrosa da crise sanitária no país. Negacionista, o presidente ridicularizou o vírus, tentou impedir prefeitos e governadores de adotar medidas recomendadas por médicos e pela ciência; e chega até mesmo a atacar vacinas.

“Tive mobilização de rua contra mim por ter decretado isolamento social. Claro, o presidente dizia que era para fazer. Não tivemos alguém que unificasse o país no enfrentamento da pandemia. Temos duas formas de combater uma pandemia: vacina e distanciamento social. Bolsonaro é contra distanciamento e tentou boicotar e enfraquecer a vacina. Isso tudo prejudicou muito o Brasil”, disse Edinho.

Com mais de 230 mil mortos, o Brasil é o segundo país com mais vítimas da pandemia no mundo, atrás apenas dos Estados Unidos, que já superaram os 400 mil óbitos. Edinho Silva analisa os porquês destes dois países serem os mais impactados pela pandemia. “Como pode a maior potência do mundo ter 400 mil mortos? Porque não teve Estado. Não tem Estado contra a pandemia. Não tem SUS. Quem morreu e tem morrido é pobre, preto e latino. Alijados dos sistemas de Saúde”, disse o prefeito sobre os norte-americanos.

“O segundo posto é nosso. E nós temos SUS, o maior sistema público de saúde do planeta. Com capilaridade no país inteiro. Como pode um país com o maior sistema de saúde do planeta perder tantas vidas? Porque não tivemos quem liderasse, que desse ordem de comando. Ele (Bolsonaro) disse que era gripezinha. Fez aparições sem máscaras. Mandou o povo tomar cloroquina. Se os americanos não têm Estado, nós não utilizamos o Estado”, completou Edinho Silva.

Assista à entrevista completa: