Presente!

Celso Horta, um jornalista que lutou contra a ditadura e pelo Brasil do futuro

Torturado na ditadura e preso durante oito anos, Celso Horta livre seguiu dedicando-se à construção de uma nova história para seu país, que faz dele mais um de seus heróis a serem lembrados no 21 de abril

Roberto Navarro/Alesp
Roberto Navarro/Alesp

São Paulo – O jornalista Celso Horta, morto na madrugada deste 21 de abril, é lembrado por diferentes meios como um lutador obstinado. Um preso político que sobreviveu a torturas nos porões da ditadura e a oito anos de prisão. De onde saiu para continuar na luta política, piloto exímio de suas convicções.

“A morte de Celso Horta priva o jornalismo brasileiro de uma das pessoas mais doces, coerentes e corajosas que conheci”, diz Luis Nassif, no Jornal GGN. “Celso dedicou a vida à luta em defesa da democracia, da soberania e da emancipação do povo brasileiro”, assinala o MST. “Importante, nesse período, foi, por exemplo, o respeito mútuo, mesmo quando os entendimentos da realidade eram diferentes. Bons tempos em que discordar politicamente revelava apenas olhares opostos”, destaca o jornalista Joaquim Alessi, um liberal, sobre a convivência com Celso Horta em tempos mais recentes.

Celso Horta foi um protagonista da criação da Revista do Brasil, em 2006, que foi assunto por meses entre intelectuais, jornalistas, dirigentes sindicais metalúrgicos, bancários, químicos e professores, antes de ir para as rotativas. Portanto, a sucessão de ousadias dali decorrentes – RBA, jornal ABCD Maior, TVT, Rádio Brasil Atual, revista Inova ABCD – tem o pensamento desse guerreiro.

Faria 75 anos no próximo 8 de maio, e inda emprestava à produção intelectual brasileira o seu conhecimento histórico e suas convicções não só em defesa da justiça e da memória, mas também em defesa de um futuro diferente para as gerações que estão por vir. “Celso Horta, presente!” foi um dos termos muito empregados – com toda a justiça – neste 21 de abril em que o Brasil lembra a partida de alguns de seu heróis, de Tiradentes a Tancredo. Horta, agora, é um deles.

A direção executiva da CUT postou ontem mensagem comovente em reconhecimento ao jornalista que deixou sua marca, na imprensa e na reinvenção de uma nova comunicação. Para saber mais sobre o jornalista, lembra a Fundação Perseu Abramo, leia seu depoimento ao veiculo português Sapo. Aqui.

Celso Horta, presente!

“Foi o momento mais rico que vivi”.  Com essa frase o jornalista Celso Horta descreveu a sua histórica participação na luta contra a ditadura militar, quando ele foi perseguido, torturado e preso durante oito anos. Por toda a trajetória em defesa da democracia e no movimento sindical, a CUT presta uma homenagem ao companheiro, que faleceu nesta sexta-feira (21), em decorrência de problemas cardíacos.

Celso Horta completaria 75 anos no dia 8 de maio. Nascido em Guaratinguetá, no interior de São Paulo, em 1948, mudou-se para a capital paulista em 1968 para cursar direito na PUC (Pontifícia Universidade Católica. No mesmo ano, ingressou no movimento estudantil e participou da “guerra da Maria Antônia”, como ficou conhecido o episódio em que estudantes enfrentaram forças anticomunistas sustentadas pela ditadura.

Integrou-se também à ALN, a Ação Libertadora Nacional, organização que fez a luta armada contra a ditadura e que teve como principal dirigente Carlos Marighella, de quem Celso Horta contou ter sido motorista durante uma ação: “Eu sabia dirigir automóvel, era um exímio motorista em 1969, e não era todo o mundo que sabia dirigir naquela época. Fiquei com essa função, que era importante Cheguei a vê-lo [Marighella) uma única vez, dentro de um automóvel, um fusca de uma militante amiga nossa”, contou Horta, em entrevista a um portal jornalístico de Portugal, em 2022.

Com apenas 21 anos, Celso Horta foi preso pela ditadura, em 1969 e, a partir daí, torturado. “Não sei se tem noção de como isso [a tortura] afeta o corpo. Na hora em que pendura [no pau de arara], isso já é uma violência, mas eles ainda combinavam com o choque elétrico. Quando você está amarrado e é submetido à aplicação de choque, isso produz movimento muscular muito forte. Essa distensão é extremamente dolorosa”, contou Horta há um ano.

“[Preso] fui direto para a tortura” executada pela polícia num local entre rua Tutóia e Tomás Carvalhal, no centro de São Paulo, endereço à época da infame sede da Operação Bandeirantes, o futuro DOI-CODI, que se tornaria um “modelo” para a repressão no restante do Brasil, e era financiada com contribuições de empresários e banqueiros. Estima-se que pelo menos dez mil presos e pesas pelos militares tenham passado por essas câmaras de horror durante a ditadura militar, incluindo nomes como o jornalista Vladimir Herzog e a ex-presidenta Dilma Rousseff.

Celso Horta passou oito anos na prisão. Foi libertado em 1977. Um ano depois, começou a fazer o curso de jornalismo na Escola de Comunicações e Artes da USP (ECA-USP), pela qual se formou em 1982.

Viveu em Cuba e trabalhou no jornal Granma. Retornou ao país e foi trabalhar na redação da Folha de S.Paulo, passou uma década na imprensa comercial. Foi assessor de Comunicação no Partido dos Trabalhadores, na CUT e no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC.

A partir de 2012, dedicou-se à carreira de escritor e pesquisador. Publicou pela Coleção Realidade Brasileira o livro “A repressão militar-policial no Brasil – O livro chamado João”. A obra foi escrita clandestinamente por presos políticos entre 1972 e 1975, na Casa de Detenção de São Paulo, impresso em Paris à época e lançado no Brasil, em 2016

É também autor da obra O braço “direito” do Grande ABC, estudo de caso sobre o Diário do Grande ABC. Foi criador e diretor do extinto jornal ABCDMaior e um dos precursores no projeto da TVT – TV dos Trabalhadores.

Celso Horta era casado e deixa duas filhas e uma enteada. Segundo informações da família. Ele estava internado há uma semana para tratar uma pneumonia, mas teve complicações cardíacas e não resistiu.

O velório e cremação do corpo do companheiro Celso Horta será neste sábado (22) pela manhã, no Cemitério da Vila Alpina, em São Paulo.

Celso Horta, presente!

Direção Executiva da CUT


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