Corrida presidencial

Candidatos atacam orçamento secreto e corrupção no governo Bolsonaro em debate no SBT

Cercado pelos adversários, Bolsonaro repete o discurso contra o STF e é chamado de Pinóquio por Simone Tebet. E Ciro Gomes se nega a dizer se apoiaria Lula no segundo turno

Reprodução / YTube
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Candidatos no estúdio do SBT: debate de projetos para o futuro do país, mas com críticas ao governo Bolsonaro

São Paulo – Os temas da corrupção e do orçamento secreto que marcam o governo de Jair Bolsonaro (PL) atraíram as principais críticas dos candidatos à Presidência no debate transmitido pelo SBT, no início da noite deste sábado (24). “Orçamento secreto é corrupção sim, porque o governo compra apoio do Congresso para se reeleger”, afirmou a candidata Simone Tebet (MDB) ao fim do primeiro bloco, depois que o candidato Felipe d’Avila (Novo) criticou o corporativismo do sistema judiciário no Brasil ao comentar aumento previsto de salário para juízes, de 18%, que poderá elevar o salário a R$ 46 mil por mês. O debate foi promovido pela emissora em parceria com CNN Brasil, Veja, O Estado de S.Paulo, Nova Brasil FM e Terra.

Já no início do bloco em que cada candidato faz uma pergunta a outro candidato, a senadora Simone Tebet, em questão para Bolsonaro, atacou os cortes que o governo tem promovido na merenda escolar e nas creches em favor de destinar o dinheiro público para o orçamento secreto: “Por que você não dá prioridade às crianças”, perguntou Tebet a Bolsonaro.

Ao responder, o atual presidente tentou se esquivar, sustentando que o orçamento é promovido e aprovado a quatro mãos, pelos poderes Executivo e Legislativo. Bolsonaro também disse que Simone Tebet foi contra os vetos dele no orçamento secreto e que ela “deveria falar a verdade acima de tudo”.

Ainda respondendo à candidata, que lembrou que ele, além de falar palavrão, não respeita as mulheres, Bolsonaro disse “eu falo palavrão sim, mas não sou ladrão”, observou em referência explícita ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que não participou do debate deste sábado.

Chamar Lula de “ladrão” tem sido recorrente no discurso de Bolsonaro. Neste sábado, em comício de 18 minutos em Campinas, no interior de São Paulo, ele se referiu nove vezes a Lula como “ladrão”. No debate, o atual presidente disse ainda que Lula foi condenado e que ele, Bolsonaro, defende as mulheres. Bolsonaro ignorou as anulações de processos da Operação Lava Jato contra Lula pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Disse ainda que a CPI da Covid, do qual Simone Tebet participou como senadora, atacou médicas, referindo-se, entre elas, a Nise Yamaguchi e Mayra Ribeiro, que ficou conhecida como “capitã cloroquina” ao atuar no Ministério da Saúde em defesa do uso do kit covid, sem eficácia, durante a pandemia.

Na réplica, Simone Tebet disse que Bolsonaro não trabalha, não conhece a realidade do Brasil, cortou o programa de casas populares e tirou, sim, o orçamento de creches para deixar os recursos à disposição do orçamento secreto e que isso é característica de um governo corrupto.

Bolsonaro ainda insistiu na questão da atuação conjunta do governo do Congresso na aprovação do orçamento e que o orçamento não é dado por decreto presidencial. “A senhora pode pegar dinheiro do orçamento secreto e destinar para educação”, afirmou Bolsonaro.

Bolsonaro é chamado de pinóquio

O candidato à reeleição abriu também o segundo bloco ao responder à pergunta do jornalista Marcos Gomes, da CNN Brasil, sobre os atritos, por ele provocados, contra o STF. Bolsonaro voltou a acusar a Corte de fazer “ativismo judicial” e de “atrapalhar o Executivo”.

O mandatário afirmou ainda que, se conduzido novamente ao cargo, indicará mais dois ministros com o perfil “em prol do Brasil”. “O Supremo mudará a forma de agir, não mais interferirá tanto na vida de todos nós”, ameaçou.

A pergunta foi seguida por comentários do candidato do PDT, que classificou a atuação de Bolsonaro como uma “intromissão”. “O problema é que as pessoas que estão na presidência nos últimos anos têm conta com a Justiça”, afirmou Ciro, numa referência aos processos envolvendo os filhos do chefe do Executivo e contra Lula.

O embate seguiu com críticas à gestão bolsonarista, quando Tebet foi chamada a responder sobre suas propostas para o eleitor que está passando fome. A candidata do MDB lembrou das declarações do presidente relativizando o drama social que atinge mais de 33 milhões de brasileiros. A senadora declarou que Bolsonaro seria hoje a representação do personagem “Pinóquio” ao rebater a defesa do mandatário sobre o Auxílio Brasil.

“De novo o nariz crescendo. Ele não queria pagar os R$ 600, nós no Congresso que exigimos. (…) Votou os R$ 600 agora, às vésperas da eleição, é um presidente insensível. (…) Ficamos em casa porque ele negou vacina, 45 dias de atraso. Eu vi o esquema de corrupção. É esse presidente insensível que virou as costas para o povo brasileiro que pede seu voto”, criticou.

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Debate: Ciro cita “morte do jornalismo” ao se incomodar com pergunta de repórter sobre apoio do PDT a Lula no 2º turno

Ciro se recusa a apoiar Lula no segundo turno

A candidata Soraya Thronicke (União Brasil) também centrou críticas ao presidente ao negar que tenha votado contra o orçamento secreto. “Quero dizer ao candidato Bolsonaro que não cutuque onça com a sua vara curta. Respeito. Primeiro que nós (Soraya e Tebet) não votamos da forma como vossa excelência disse”.

Leia também: Em ato no Grajaú, Lula pede esforço para decidir a eleição no primeiro turno

Ciro Gomes, por sua vez, escolheu atacar Lula e a imprensa ao ser questionado sobre a possibilidade de seu partido apoiar o petista em um eventual segundo turno. Incomodado com a pergunta, o ex-ministro acusou o PT de ”produzir a morte do jornalismo”. Ele ainda considerou a pergunta como uma “falta de respeito ao eleitor. Lula propagando que todo mundo que não é Lula é fascista. Ao invés de vir aqui, foge”, disparou.

Simone Tebet, contudo, endossou a crítica ao movimento que pede “voto útil” no primeiro turno para liquidar a vitória de Lula já no dia 2 de outubro. “Voto útil é o voto da sua consciência, não pode ser a eleição do medo, mas da esperança”. 

O padre e o aborto

O tema da corrupção continuou marcando debate no terceiro bloco. Logo no início o candidato Felipe d’Avila perguntou a Bolsonaro sobre os escândalos de corrupção no Brasil e Bolsonaro respondeu que não existe corrupção no governo dele.

Mas o destaque do bloco foi a pergunta do Padre Kelmon para a candidata Simone Tebet, repetindo uma estratégia que ele já havia adotado no primeiro bloco contra Ciro Gomes. Padre Kelmon tentou comprometer os candidatos com a questão do aborto, defendendo a total proibição dessa prática, o que contraria a legislação brasileira que prevê casos de aborto legal, como na gravidez por estupro. “A senhora se diz feminista, mas apoia o assassinato de bebês”, disse o padre para a candidata Tebet. 

Simone reagiu defendendo ser feminista por atentar para o direito da mulher ganhar igual ao homem e de ter leis mais severas para punir o homem que agride a mulher. Ao fazer a tréplica, o Padre Kelmon sustentou que a senadora se contradiz “porque é feminista e adora o aborto”.

No debate, o Padre Kelmon também se manifestou a favor do governo Bolsonaro, em defesa da pauta conservadora e de extrema direita no país. Chegou a fazer uma dobradinha com o atual presidente ao responder pergunta de Bolsonaro sobre o auxílio emergencial e a pobreza. E chegou a dizer que os partidos se juntaram no debate para massacrar, para bater no presidente. “O nosso país não sofre por causa do Paulo Guedes vocês só enxergam maldade e corrupção”, disse Kelmon.

Candidato do PDT relativiza violência política

No quarto e último bloco do confronto entre os presidenciáveis, o candidato do PL não quis responder se se arrepende da declaração que fez em 2018, defendendo “ fuzilar a petralhada”. Irônico, Bolsonaro se dirigiu à jornalista da revista Veja, Clarissa Oliveira, como “ilustre” e acusou ela de “querer imputar a ele a responsabilidade”. O que “fugiria do jornalismo minimamente sério” pela violência política que cresce em meio ao pleito.

Na pergunta, a jornalista recordou dos casos em que bolsonaristas assassinaram petistas, como em julho, quando um defensor do presidente matou Marcelo Arruda, em Foz do Iguaçu (PR). “Querer me hostilizar por essas ações não tem cabimento”. A pergunta foi seguida por comentário de Ciro Gomes que minimizou o problema no país. “Estamos discutindo isso? Será que o debate não vai dar uma única oportunidade para eu explicar como eu vou fazer um programa de renda mínima?”, questionou. “Enfim, quem criou essa história de ‘nós contra eles’ foi o PT e o Bolsonaro adora porque um resolve o problema do outro”, prosseguiu.

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Candidata do União Brasil foi questionada sobre contradição entre a defesa das mulheres e da política de armamento

Contradição de Soraya

Em um dos questionamentos mais incisivos do debate, a colunista do portal Terra, Joice Berth, observou a candidata do União Brasil sobre como ela pretende lidar com a contradição de defender a mulher e apoiar a política de armamento, implantada por Bolsonaro, apontada como responsável por aumentar o número de feminicídios. Soraya, que diz defender os direitos das mulheres, não apresentou propostas concretas, falando apenas que “existem inúmeras medidas que possamos tomar para evitar que as mulheres sejam atacadas”.

A senadora propôs apenas “equalizar” e negou que seja a favor da “farra do armamento”. Felipe d’Ávila também não foi direto em seu comentário sobre o tema. “Temos que dar oportunidade das mulheres saírem desse cárcere privado”, resumiu.

Considerações finais

O penúltimo confronto entre os candidatos à presidência da República foi finalizado com as conclusões de cada um. Simone, Ciro e Soraya miraram novamente Lula e Bolsonaro, afirmando que o “Brasil precisa de mudança”, segundo a senadora do MDB. “O povo está machucado com essa polarização entre Lula e Bolsonaro”, destacou o pedestista que disse ter sido “alertado” sobre a importância de ter “paciência”. “Quero pedir a Deus que ilumine minhas palavras”, apelou.

“Nesta reta final muito tem se falado em voto útil e quero falar e da utilidade do voto”, completou a senadora do União Brasil. O atual presidente dirigiu suas palvras finais aos eleitores mais pobres, fatia da população que prefere seu principal adversário. “A você que é pobre e passa necessidade, o meu governo paga o Auxílio Brasil de no mínimo R$ 600 para 21 milhões de famílias. Esse é o governo que tem olhar todo especial para os mais pobres, em especial o nosso Nordeste”.

Linha auxiliar de Bolsonaro durante o debate, o padre Kelmon (PTB), que não é padre, mas sim ligados aos setores conservadores do cristianismo, concluiu pedindo ao brasileiro “cristão, católico e evangélico que não permita a volta da esquerda ao poder”. O candidato do Novo repetiu o tema da corrupção disparando aos eleitores que escolham “se o Brasil vai se livrar da corrupção ou vai continuar sendo governado por corruptos”, finalizou.


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