Democracia Inabalada

‘Brasil frustrou golpe’, diz Lula no ‘Washington Post’; Congresso é palco do principal ato do aniversário do 8/1

O evento Democracia Inabalada, a partir das 15 horas, no Salão Negro do Congresso Nacional, marca um ano da invasão de Brasília por terroristas seguidores de Jair Bolsonaro

Marcelo Camargo/Agência Brasil
Marcelo Camargo/Agência Brasil
“Tentativa de golpe foi o culminar de longo processo promovido por líderes políticos extremistas para desacreditar a democracia”, escreveu Lula

São Paulo – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) publicou artigo no jornal norte-americano The Washington Post nesta segunda-feira (8), aniversário de 1 ano da tentativa de golpe de estado promovida pelos apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Naquele domingo, data que também ficou conhecida como dia da infâmia, cerca de 4 mil pessoas de grupos extremistas formados por seguidores de Jair Bolsonaro (PL) invadiram a Praça dos Três Poderes e depredaram de todas as formas possíveis os edifícios do Supremo Tribunal Federal, Congresso Nacional e Palácio do Planalto.

No texto intitulado “O Brasil frustrou uma tentativa de golpe”, Lula comparou o ataque à democracia brasileira pelo bolsonarismo à muito semelhante invasão do Capitólio, nos Estados Unidos, em 6 de janeiro de 2021, quando uma multidão de seguidores golpistas do ex-presidente Donald Trump tentou impedir a posse do então eleito democrata Joe Biden.

“Felizmente, esta tentativa de golpe falhou. A sociedade brasileira rejeitou a invasão e, durante o ano passado, o Congresso Nacional, o Supremo Tribunal Federal e o Poder Executivo dedicaram esforços para esclarecer os fatos e responsabilizar os invasores”, escreveu o presidente no jornal dos Estados Unidos.

Lula comparou pontos em comum do 8 de janeiro com o ataque ao Capitólio, na capital dos Estados Unidos, que deixou um policial do congresso e quatro invasores mortos, ao contrário de Brasília, onde não houve nenhuma vítima fatal. “A tentativa de golpe foi o culminar de um longo processo promovido por líderes políticos extremistas para desacreditar a democracia em seu próprio benefício. O sistema eleitoral brasileiro, reconhecido internacionalmente pela sua integridade, foi questionado por aqueles que foram eleitos nesse mesmo sistema. Sem provas, eles reclamaram da urna eletrônica do Brasil, assim como os negacionistas eleitorais nos Estados Unidos reclamaram da votação pelo correio. O objetivo destas falsas denúncias era desqualificar a democracia para perpetuar o poder de forma autocrática”, continuou o presidente brasileiro.

Eliziane: Bolsonaro usava ‘apito de cachorro’

Se Lula não mencionou o nome de Bolsonaro em seu artigo, a senadora Eliziane Gama (PSD-MA) disse à CNN, textualmente, que o responsável pela invasão e tentativa de golpe no país foi o ex-presidente. Ela lembrou inclusive que havia um plano de criar uma “urna fake”, com o apoio do hacker Walter Delgatti Neto, para “tentar criar uma confusão na sociedade brasileira”. Delgatti foi recebido pelo próprio Bolsonaro em agosto de 2022, na companhia da deputada Carla Zambelli (PL-SP) e do então-ajudante-de-ordens Mauro Cid.

“Qual foi o combustível do 8 de janeiro? Foi o questionamento do processo eleitoral. Não ocorreu no dia 7, não ocorreu no dia 6, no dia 5 e nem no dia 4. Ocorreu durante quatro anos de uma ação muito orquestrada, e o ex-presidente Bolsonaro foi uma figura central”, disse Eliziane. “A oposição tentou dissociar mas não consegue, porque os fatos são maiores do que o discurso. A CPMI (do 8 de janeiro) apresentou elementos que davam a Bolsonaro papel predominante como maior formador de opinião. Quando o presidente da República fala, a Bolsa cai e o dólar sobe”, disse a senadora, sobre a influência do chefe de governo sobre a população.

“Na medida em que estimulava o ódio, estimulava o questionamento do processo democrático brasileiro, ele criava uma massa na sociedade, o que se chama ‘apito de cachorro’, de formas que os seguidores o compreendam, e foi isso o que ele fez”, acrescentou a relatora da CPMI do 8 de janeiro.

O palco do principal evento para marcar um ano da tentativa de golpe de 8 de janeiro de 2023 será o Congresso Nacional. O evento “Democracia Inabalada” acontece a partir das 15 horas, no Salão Negro do Congresso, com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, dos presidentes do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e do Supremo Tribunal Federal (STF), Luis Roberto Barroso. Governadores, ministros, parlamentares e representantes da sociedade civil e do Judiciário participam do ato.

Segundo informações que circulam em Brasília, o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), avisou a Lula que não poderá participar do ato por problemas de saúde na família. Apesar da ausência, Lira se manifestou no Twitter, onde defendeu que “todos os responsáveis (pelos ataques) devem ser punidos com o rigor da lei”.

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