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Eleição terá 2º turno Macron x Le Pen, e França Insubmissa será decisiva contra o fascismo

Emmanuel Macron e Marine Le Pen deixaram um território político devastado. Estranhos movimentos da história colocaram a esquerda de Mélenchon como último reduto antes do fascismo

Mariane TV
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Macron, com 28%, Le Pen, 23% e Mélenchon, 22%, cresceram em relação a 2017

São Paulo –  O extremismo de direita disfarçado de boas maneiras mais uma vez decapitou o sistema político francês. A líder da extrema direita da França, Marine Le Pen, disputará o segundo turno da eleição presidencial contra o mesmo rival que a derrotou há cinco anos: Emmanuel Macron. O atual chefe de Estado prevaleceu por 27,6% dos votos sobre La Pen, com 23,4%. Em terceiro lugar, com 22%, ficou Jean-Luc Mélenchon, do movimento França Insubmissa, em seu melhor resultado desde que entrou na disputa.

Desse modo, o país amanheceu nesta segunda-feira (11) sob um novo desenho político traçado nas urnas – das quais se ausentaram quase 27% dos franceses. Pela segunda vez consecutiva, Macron e Marine Le Pen varreram o tradicional confronto esquerda/direita. O Partido Socialista e a direita dos republicanos acabaram nas catacumbas. A candidata do PS, atual prefeita de Paris, Anne Hidalgo, não passou dos 2%, ficando 10º lugar. Enquanto Valérie Pécresse, a candidata de direita do Republicanos (partido do ex-presidente Nicolas Sarkozy), ficou em 5º, com menos de 5%. Esses dois partidos do governo que assumiram a alternância política nos séculos 20 e 21 saem de cena sem reconhecimento ou glória.

Macron, Le Pen e Mélenchon

Há nesta eleição da França três vencedores indiscutíveis em primeiro plano e outro marginal. O primeiro é Macron. Apesar de cinco anos de presidência interrompida pelo movimento dos coletes amarelos, pela reforma da aposentadoria, pela pandemia e pela guerra na Ucrânia, Macron obtém quatro pontos a mais que em 2017, ou seja, o mandato não o desgastou.

O segundo é Le Pen. A líder da extrema direita superou a reviravolta da derrota de 2017, o constrangimento que fez no debate com Macron, o questionamento interno, o surgimento de um concorrente dentro da extrema direita como Eric Zemmour, a fuga para o zemmourismo de importantes personalidades da seu partido e a má imagem de seu movimento. Em cinco anos, aparou arestas, baixou o tom de seus discursos, vendeu a imagem de uma mulher sensata, empoleirada, sentada em poltronas macias e cercada de gatos, mais interessada na “concórdia e nos problemas dos franceses” do que no poder. Le Pen escondeu com pétalas de rosa um programa brutal que violava a Constituição e as convenções internacionais. Teve até o luxo de aparecer, hoje, como a personalidade política mais apta a melhorar o cotidiano dos franceses. É, claro, um disparate, mas há eleitores acreditando nele.

O terceiro vencedor é, sem dúvida, Mélenchon. Seus mais de 21 pontos (19,58 em 2017, quarto lugar) o deixaram muito perto de se classificar para a segunda rodada. Faltaram talvez mais algumas semanas de campanha e um acordo prévio com as outras listas da esquerda. Sem Mélenchon, a esquerda teria deixado de existir: 2,1% do PS, 3,2% do Partido Comunista e 4% dos ecologistas, os três somam menos da metade do que Mélenchon obteve.

O segundo turno

A participação eleitoral de 73,3% é a menor registrada nos últimos 20 anos e mostra mais uma vez o desinteresse do eleitorado, mesmo diante de uma eleição cheia de questionamentos e desafios. Faltam duas semanas para o segundo turno, em 24 de abril. Macron ainda é o favorito, mas Le Pen e seu movimento de extrema direita nunca tiveram uma configuração tão favorável. A reserva de votos de Le Pen é ampla. Há os votos cativos de Zemmour e os 40% do eleitorado conservador que se identificam com as narrativas de Le Pen.

Já Macron parece ter tomado todos os votos do PS e aí não tem muitas reservas, nem nos tristes 4,7% de Pécresse. Esse mesmo governo de direita ganhou 20,1% em 2017, ou o mesmo que Mélenchon em 2022. Nem o PS nem os republicanos têm muito a dar.

Em 2017 havia um candidato “centro distante”. Entre 2017 e 2022 um presidente que governou à direita. E neste abril de 2022 há um candidato a presidente que precisará da esquerda da França Insubmissa para vencer a eleição. Macron e Le Pen deixaram um território político devastado onde os estranhos movimentos da história colocaram a esquerda de Mélenchon como o último reduto antes do fascismo.

Com informações de Eduardo Febbro, do Página 12 e de Opera Mundi