rio grande do sul

Tarso Genro e Ana Amélia trocam acusações no último debate antes das eleições

Roberto Robaina (Psol) questionou Edison Estivalete (PRTB) sobre a postura homofóbica de seu candidato à presidência, Levy Fidelix

Ramiro Furquim/Sul21

Alianças partidárias de difícil compreensão pelo eleitor também entraram no debate

São Paulo – A cinco dias da eleição, os candidatos ao governo do Rio Grande do Sul debateram na noite de ontem (30) suas propostas para o Estado. Tarso Genro (PT)  e Ana Amélia Lemos (PP), que lideram as pesquisas de intenção de voto, trocaram acusações sempre que possível. A progressista acusou o atual governador de ter feito “maracutaia” com o dinheiro público, em referência a um contrato que teria ocorrido para um evento não realizado. Já Tarso lembrou o período em que Ana Amélia ocupou um cargo comissionado no Senado paralelamente à direção da sucursal da RBS TV em Brasília.

Alianças partidárias de difícil compreensão pelo eleitor também entraram no debate, assim como um questionamento de Roberto Robaina (Psol) a Edison Estivalete (PRTB) sobre a postura homofóbica de seu candidato à presidência. Já José Ivo Sartori (PMDB) teve que responder sobre possíveis privatizações em um futuro governo sob sua liderança. Do lado de fora da emissora, militantes que acompanhavam a chegada dos candidatos antes do debate protagonizaram um empurra-empurra, repetindo o clima pouco amistoso entre os líderes da disputa.

Primeiro Bloco: Ana Amélia no ataque, privatizações e homofobia

No primeiro bloco, com tema livre, cada candidato escolheu para quem perguntar. Por ordem de sorteio, Vieira da Cunha, do PDT, questionou Tarso Genro sobre segurança pública. Mencionando os mais de 200 homicídios no Estado de março a setembro, ele questionou se o candidato à reeleição estaria satisfeito com a política para o setor. Apesar de concordar que mais avanços são necessários, Tarso procurou apontar avanços em sua gestão. Citou a instalação da polícia comunitária, a redução nos homicídios de mulheres, a reestruturação nos quadros da polícia. “Está muito melhor, mas temos que aprofundar e continuar”, disse ele. O trabalhista considerou pífios os resultados listados por Tarso, citando fatos como o recente tiroteio no bairro Bom Fim: “A população está com medo”, disse Vieira, que defendeu mais investimento em tecnologia e concursos anuais para as polícias.

Em seguida foi a vez de Tarso Genro, que perguntou para Ana Amélia Lemos, do PP, se ela pretende manter o investimentos em programas sociais. A progressita defendeu que este tipo de gasto público é necessário e criticou gastos indevidos, citando R$ 1 milhão que teria sido gasto pelo governo do Estado em um evento não realizado. O petista afirmou que o gasto mencionado se refere a um evento suspenso em função das manifestações de junho de 2013 e destacou a preocupação de seu governo com o combate à corrupção. Na tréplica, Ana Amélia acusou Tarso de ter sido condenado por improbidade administrativa e o centro de combate à corrupção de fazer vista grossa.

Na sua vez de perguntar, Ana Amélia se dirigiu a José Ivo Sartori, do PMDB, a quem questionou se adotaria o sistema de privatizações de outro governador do mesmo partido, Antônio Britto. Criticando o que chamou de “pegadinha”, Sartori se limitou a dizer que não olhará  para trás, nem fará nada que não esteja em seu plano de governo. Ana Amélia insistiu que o candidato a vice-governador na chapa de Sartori, Antônio Cairoli, teria defendido a privatização do Banrisul. O peemedebista negou que seu vice tenha dado tal declaração.

Edison Estivalete, do PRTB, perguntou a Vieira o que ele faria a respeito da dívida pública do Estado. O trabalhista prometeu, caso eleito, questionar judicialmente o contrato com a União. “Mandamos para Brasília 13% da nossa receita líquida. Estamos sendo sangrados”, defendeu. Estivalete afirmou que, em seu caso, trataria com seriedade a questão da dívida, criticando suposto perdão de dívida africana feito pelo governo federal e auxílio a Cuba.

Roberto Robaina, candidato pelo Psol, questionou Estivalete sobre a postura do candidato ao governo federal pelo PRTB, Levy Fidelix, muito criticado após declarações homofóbicas no último debate dos presidenciáveis. Estivalete, que começou afirmando não ter preconceito e respeitar “todos os gêneros”, acabou por dizer que as regras precisam ser seguidas e não permitiria um casamento gay em seu CTG.

Criticando a posição do PRTB, Robaina, afirmou que os políticos tradicionais tem se rendido e classificou como barbárie o recente incêndio em um CTG de Livramento, que sediaria um casamento coletivo do qual participaria um casal homossexual. “Queremos uma sociedade em que os direitos humanos sejam respeitados”, defendeu. Estivalete se limitou a garantir que os gaúchos sabem respeitar.

Na sequência, Sartori questionou Robaina sobre seu projeto para a educação. O candidato do Psol disse que seu partido tem lutado pelo piso do magistério. “Não é possível falar em valorização com baixos salários”, disse. Para arcar com o gasto defendeu que o Estado não pague a dívida pública com a União. O candidato do PMDB apontou como um dos seus projetos a escola multilíngue, onde se aprenderia, além de inglês, disciplinas como italiano, alemão e espanhol. Robaina aproveitou para pedir ao adversário que pare de dizer que seu partido é o Rio Grande, dizendo que pega mal para o Estado, já que nomes como Renan Calheiros e José Sarney pertencem à sigla.

Segundo Bloco: Tarso rebate, política antidrogas e corrupção

Ana Amélia deu início à segunda rodada, perguntando a Tarso sobre infraestrutura e logística, apontando obras inacabadas em rodovias. Antes de responder, o candidato do PT aproveitou para explicar a acusação feita no bloco anterior, de condenação por improbidade administrativa. Segundo Tarso, ela se deu em razão da contratação emergencial de um radiologista. “O problema é quando se é contratado para um serviço publico e não se trabalha”, afirmou em referência ao período em que Ana Amélia ocupou um cargo em comissão no gabinete do marido, então senador, e a função de diretora da RBS em Brasília. A progressista disse estar sofrendo bastante com ataques pessoais, ao que Tarso rebateu que quem está na mídia está sujeito a ser criticado.

Sartori questionou Vieira sobre sua política anti-drogas. O candidato do PDT defendeu que o tema não é questão de segurança, mas de saúde pública e apontou o exemplo de Portugal como um modelo a ser seguido. Sartori complementou mencionando a importância de um programa de educação e prevenção: “é preciso apoiar redes que já existem e procuram recuperar jovens”, opinou sobre projetos de voluntariado.

Mencionando a dobradinha PT-PMDB no governo federal, Tarso questionou se Sartori concorda com a política para saúde do governo do Estado. O candidato da Serra defendeu a descentralização e regionalização da saúde, a partir de um novo pacto federativo. O candidato do PT fez uso da tréplica para explicar que defende a verticalização das alianças, modelo pelo qual o PMDB, assim como faz nacionalmente, apoiaria o PT no Estado.

Estivalete perguntou a Ana Amélia Lemos sobre seus planos para o sistema carcerário. A progressista afirmou que a sociedade está refém da criminalidade e listou problemas que atribuiu à atual gestão, como interdições em presídios. Além disso, fez referência ao modelo cubano, onde os presos custeiam com seu trabalho a maior parte do custo prisional. O candidato do PRTB concordou que o preso deve ser útil, pagar com seu trabalho enquanto está recluso.

Vieira abordou o tema corrupção em sua pergunta a Robaina. Para o candidato do Psol, o mensalão é símbolo de um governo para as elites e de que o PT teria recorrido à governabilidade para governar contra os interesses do povo. O candidato citou ainda o escândalo da Petrobras e criticou Tarso e Ana Amélia por não se explicarem sobre o assunto. O trabalhista se comprometeu a combater a corrupção, caso seja eleito.

Embora respondesse sobre previdência e gastos públicos a Robaina, Estivalete aproveitou para dizer que seu partido tem um núcleo LGBT. “Nós aqui no Sul não somos homofóbicos”, disse ele. Ao fim, defendeu o pagamento da previdência. Para Robaina, há um erro estratégico em  isentar grandes empresas em lugar de fazer os investimentos chegarem ao povo.

Terceiro Bloco: Petrobras e coligações

Estivalete perguntou como Ana Amélia Lemos abordaria a questão da segurança pública. A candidata criticou o percentual atualmente investido no setor e o deslocamento de policiais do interior para a capital, além de prometer cumprir com o reajuste dado no atual governo. O candidato do PRTB garantiu que em seu governo as polícias civil e militar serão as mais bem pagas do país.

Questionado por Sartori sobre a dívida pública do Estado, Tarso disse que liderou o projeto que será votado em novembro e que prevê uma redução de R$ 15 bilhões no montante da dívida, além de abrir possibilidade de financiamento e mencionou novo projeto para reduzir as prestações mensais. Sartori criticou o fato de a redução no valor não ser imediata e defendeu que o Estado precisa se desenvolver para poder arcar com o custo da dívida.

Robaina trouxe para o debate a questão da Petrobrás, ao insistir para que a candidata do PP explicasse o envolvimento de seu partido nos recentes escândalo da empresa pública. Ana Amélia preferiu dizer que não tinha compromisso com erros cometidos, mesmo pelo presidente do partido, e que defende o combate à corrupção. “Não é possível que as pessoas sejam candidatas e não respondam por nada”, rebateu Robaina. A progressista disse que insistiu com o líder do PP para que, por exemplo, não apoiasse nenhum candidato à presidência, se mantivesse neutro.

Temas nacionais também foram tratados no embate entre Tarso e Vieira. Tarso defendeu que é preciso diferenciar incriminação de partidos e pessoas e perguntou a opinião de Vieira que, em tese, concordou. No entanto, o trabalhista ressaltou que, no caso do mensalão, foi diferente, já que toda a cúpula do partido foi condenada. “A instituição partidária se contaminou”, disse. Para o trabalhista, um dos principais problemas está em condenados serem tratados como heróis pela sigla.

Ana Amélia perguntou a Estivalete como ele vê alguma coligações, citando o caso do vice-governador Beto Grill, que mesmo estando no governo que se encerra,  ser do PSB, partido de Marina Silva, apoiada por Sartori para a presidência. O postulante do PRTB definiu a questão como uma sopa de letrinhas, difícil do eleitor entender. Na réplica, a  progressista aproveitou para defender a reforma partidária no país, no que foi apoiada pelo adversário.

Vieira questionou Tarso sobre um grande projeto para a educação, licitado em 2012, mas que não avançou. O petista admitiu que atrasou, já que o governo federal teria feito novas exigências para liberar a verba. Para o candidato do PDT, este é um problema de gestão. Tarso defendeu que as mudanças estão acontecendo e que há 2 mil obras acontecendo nas escolas, momentaneamente, com recursos do Estado, até a liberação do dinheiro pela União.

Quarto Bloco: educação e geração de empregos

A última etapa teve início com Ana Amélia questionando Viera sobre o que fazer para melhorar o saneamento básico no Estado. O trabalhista se comprometeu em um possível governo a tratar 50% do esgoto em quatro anos e 100% até 2025. Citando a visita a vilas da capital, Ana Amélia apontou a necessidade de revitalizar a Corsan, no que foi corrigida por Vieira, ao dizer que ela deveria saber que as obras de saneamento na capital cabem ao Dmae.

Sartori quis saber os projetos de Ana Amélia para a educação. A candidata apontou a importância da Uergs e defendeu que ela também sirva de centro de capacitação de profissionais do Estado. Ela também listou o pagamento do piso como uma das necessidades na área.

Vieira perguntou a Sartori sobre o que fazer para gerar empregos no RS. O ex-prefeito de Caxias destacou a importância de equilibrar o desenvolvimento nas diferentes regiões do Estado e a preparação de mão de obra. Para Vieira, tão ou mais importante do que atrair novos investimentos é manter aqueles que já estão no Estado. “Não vou perder uma empresa para outro estado”, garantiu.

Tarso perguntou a opinião de Estivalete sobre medidas que vem adotando na área de segurança, como o esvaziamento do Presídio Central. O candidato do PRTB defendeu leis mais severas. Na opinião dele, não adianta a polícia prender e a Justiça soltar. Além disso, voltou a lembrar que chefes das polícias e da Susepe terão status de secretário, caso seja eleito.

Em uma pergunta sobre tecnologia, Robaina apontou a opção do governo atual em investir em grandes empresas em detrimento de pequenas, ao que Tarso rebateu se referindo ao microcrédito e o atual investimento, superior aos governos anteriores. Para o atual governador é preciso atacar nas duas frentes: incentivar grandes e pequenos empresários.

Estivalete encerrou o debate perguntando a Robaina sobre seu projeto para a agricultura. O postulante do Psol defendeu a agricultura familiar e o incentivo ao microcrédito. Ele também criticou o excessivo uso de agrotóxicos e a opção por centrar a produção na exportação e não no mercado consumidor interno.