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Dilma diz que vazamento de informações sob segredo de Justiça é ‘estarrecedor’

Presidenta considera 'muito estranho' que gravações incompletas de depoimentos na Justiça do Paraná sejam divulgadas em meio a disputa eleitoral e afirma que acusações devem ser feitas com base em provas

Cadu Gomes/Dilma

No Alvorada, presidenta voltou a associar PSDB ao engavetamento de investigações incômodas

São Paulo – Em entrevista coletiva no Palácio da Alvorada, em Brasília, a presidenta Dilma Rousseff criticou hoje (10) o vazamento para a imprensa de trechos dos depoimentos do ex-diretor da Petrobras, Paulo Roberto Costa, e do doleiro Alberto Yousseff, que disseram à Justiça que PT, PMDB e PP ficavam com uma porcentagem dos contratos assinados pela empresa estatal. A conversa com jornalistas não estava prevista inicialmente na agenda oficial e foi convocada após reportagem que abriu a edição de ontem do Jornal Nacional, com duração de dez minutos, com pedaços de gravações vazados do Judiciário estadual do Paraná.

“Eu faço absoluta questão de que tudo seja apurado com rigor. Tive todo interesse em ter acesso a isso para tomar as medidas cabíveis. Sei, por informação, do Ministério Público Federal e do Supremo Tribunal Federal, que essas informações ainda estão sob sigilo. Então, eu acho muito estranho e muito estarrecedor que em meio a uma campanha eleitoral se faça esse tipo de divulgação”, afirmou a presidenta, que concorre à reeleição pelo PT e disputa o segundo turno contra Aécio Neves, do PSDB.

Para ela, é leviano que se vaze informações, que deveriam correr em segredo de Justiça, em meio a períodos eleitorais, ainda mais “de forma incompleta, sem que a gente tenha acesso.” “Está em segredo de Justiça a delação premiada. Ela tem que estar baseada em provas. Eu acredito e acho muito estranho que essas gravações não estejam completas. Estou defendendo que, quando se acusar as pessoas, é fundamental a prova estar bem-feita e que a Justiça cuide deste processo. O que me faz achar muito questionável é o fato de se apresentar parte da prova ou parte dos depoimentos.”

“A delação premiada, para ser aceita, tem que ser baseada em provas. Então, o que eu considero incorreto é se divulgar parcialmente no processo eleitoral. Não acho isso correto. Sou a primeira a defender investigação rigorosa e profunda de tudo o que disseram esses indivíduos”, acrescentou.

Dilma alertou sobre o risco de se fazer denúncia de corrupção sem provas durante a campanha, pois “assim que acabar a eleição, ninguém se responsabiliza por ela.” “Por isso que eu digo que tem que ter muito cuidado com a impunidade, que começa quando faz a acusação e na hora da prova ela não se mantém.”

A chefe do Executivo brasileiro defendeu que a Justiça faça uma investigação profunda e que puna os corruptos com base em provas concretas, inclusive se houver gente envolvida do PT. Mas ressalta que pessoas serão condenadas, e não instituições. “No Brasil, se condena pessoas. Então, se errou, tem que pagar. Em qualquer partido, não interessa o partido.”

A candidata petista aproveitou para relembrar suas propostas para combater a corrupção em um eventual segundo mandato, como alterar a legislação eleitoral para transformar em crime a prática de caixa dois; a aprovação de uma lei que defina como crime o enriquecimento ilícito de qualquer servidor público; criar um instrumento jurídico que permita o confisco dos bens adquiridos de forma ilícita ou sem comprovação; fazer uma reestruturação para que o Judiciário trabalhe com maior agilidade e eficiência em investigações e processos movidos contra aqueles que tem foro privilegiado; modificar a legislação para agilizar o julgamento de processos envolvendo desvio de recursos públicos.

“Essas medidas são fundamentais e são essenciais para combater a corrupção”, defendeu Dilma, mais uma vez mencionando que é preciso que o país passe por uma reforma política que dê fim ao financiamento empresarial de campanha. “Sem a reforma política, nós não conseguiremos também combater a corrupção, porque uma parte da corrupção tem a ver com práticas antigas de política. E é preciso ter a participação de cada um dos brasileiros.”

Ao final da entrevista, a presidenta garantiu que em toda sua vida pública jamais varreu “problemas para debaixo do tapete”, em referência ao PSDB, que “tinha o engavetador da República.” “Comigo, a Polícia Federal tem autonomia. O Ministério Público também se manteve com autonomia e independência.”