Museu de grandes novidades

Avaliação mostra piora no aprendizado dos alunos brasileiros

Dados do Pisa 2022 indicam que a pandemia teve impacto global negativo, com queda significativa na nota média dos países ricos. No Brasil, matemática registrou a maior queda, com 70% dos estudantes com desempenho abaixo do ideal

Studio Formatura/Galois/ABr
Studio Formatura/Galois/ABr
Daniel Cara resume os resultados do país no Pisa como um "museu de grandes novidades" em que "não há bala de prata"

São Paulo – O desempenho dos estudantes brasileiros em matemática, leitura e ciências piorou após a pandemia de covid-19. É o que mostra o Pisa 2022, uma das principais avaliações de qualidade da educação básica do mundo, divulgado nesta terça-feira (5) pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).

A avaliação revela que, após uma década sem avanços significativos, o Brasil regrediu no ensino das três áreas, apesar do resultado também ser apontado como estável. O país alcançou 379 pontos em matemática, 410 em leitura e 403 em ciências. Em 2018, no Pisa anterior, os estudantes brasileiros haviam atingido 384 pontos em matemática, 413 em leitura e 404 em ciências. Os dados deste ano indicam, no entanto, que menos de 50% dos alunos conseguiram nível mínimo de aprendizado em matemática e ciências. Inclusive entre os alunos mais ricos.

Há 10 anos, a média brasileira na área de matemática era de 389. O levantamento desta terça também mostra que 27% dos alunos brasileiros alcançaram o nível 2 de proficiência em matemática. A etapa é considerado o patamar mínimo de aprendizado. E a média dos países da OCDE na disciplina é mais que o dobro e chega a 69%.

E ainda no caso da matemática, sete a cada 10 brasileiros de 15 anos não aprenderam o mínimo esperado. Esses alunos, de acordo com o estudo da OCDE, não conseguem resolver contas e equações simples, nem comparar distâncias, por exemplo.

Brasil abaixo da média da OCDE

Com os resultados do ano passado, o Brasil continua abaixo da média dos países da OCDE nas três disciplinas, que é de 471 pontos em matemática, 476 em leitura e 485 em ciências. Segundo a avaliação, cada 20 pontos equivalem a um ano escolar. O que significa pelo menos quatro anos de atraso em ciência no país na comparação com o grupo de países ricos da organização. No ranking geral, o Brasil ficou como 64º lugar entre as notas em matemática, 53% em leitura e 61º em ciências.

As posições colocam o país atrás de outros latino-americanos, como Chile, Uruguai, México e Costa Rica. Ao mesmo tempo, contudo, a queda do desempenho brasileiro foi menor do que na média dos países da OCDE. Na comparação com o Pisa de 2018, as médias das nações da OCDE caíram 10 pontos em leitura e quase 15 em matemática. Apenas em ciências ela ficou estável. O relatório ainda mostra que 25% dos jovens de 15 anos pelo globo não atingiram o nível 2 nas áreas. Ou seja, 16 milhões têm dificuldade em fazer cálculos ou interpretar textos.

O Brasil está entre as 81 nações avaliadas pelo Pisa, que aplicou a prova para 690 mil estudantes de 15 anos. Realizado desde 2000, o teste era aplicado a cada três anos nas diferentes regiões do mundo. Mas, devido à crise sanitária, foi adiado em um ano. A edição, cujos resultados vieram a público hoje, traz os resultados da prova programada para 2021 porém aplicada em 2022. Por isso permite comparar o impacto das medidas necessárias de enfrentamento à covid aplicadas nas escolas. Entre elas, o fechamento das instituições e mudança para o ensino a distância.

Brasil e o ‘museu de grandes novidades’

O professor e pesquisador na Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP) Daniel Cara resume os resultados como um “museu de grandes novidades” em que “não há bala de prata”. Uma vez que “há caminhos, porém o país precisa decidir trilhá-los”, acrescenta

“A pandemia prejudicou o aprendizado? Sim. Mas com ou sem ela o resultado seria (quase) o mesmo. Educação é uma área tratada como problema, não como um direito. Ela está desvinculada de um projeto de país (que sequer existe) e sua a gestão é feita por quem não vive a escola pública, o que desrespeita a Pedagogia, professores/as e estudantes. O que nos cabe? Lutar. E trabalhar para que a gestão da área seja entregue para educadoras e educadores, com financiamento adequado”, destacou Cara na rede X, antigo Twitter.

Queda maior nos países ricos

“Em duas décadas de provas do Pisa, a média da OCDE nunca havia mudado mais do que quatro pontos em matemática de uma edição para outra. Isso é o que torna os resultados de 2022 tão únicos. A queda é dramática em muitos países e a pandemia de Covid-19 parece ser um fator óbvio”, diz o relatório. Alemanha, Islândia, os Países Baixos, Noruega e Polônia chegaram a registrar queda de 25 pontos ou mais entre 2018 e 2022 na prova de matemática.

Impacto da pandemia

O Pisa, no entanto, também pondera que a crise sanitária não pode ser a única causa para o desempenho inferior dos países.

“Na leitura, por exemplo, muitos países como a Finlândia, Islândia, os Países Baixos, a República Eslovaca e Suécia registraram estudantes com notas mais baixas durante algum tempo – em alguns casos durante uma década ou mais. As trajetórias educacionais foram bem negativas antes da pandemia chegar. Isso indica que as questões de longo prazo nos sistemas educativos também são culpadas pela queda no desempenho. Não se trata apenas de covid”, ressalta o levantamento.

Redação: Clara Assunção