Morte criminosa

Pablo Neruda foi envenenado, comprovam cientistas. Mais um crime na conta da ditadura chilena

Peritos concluem que o escritor morreu por envenenamento, e não em consequência de um câncer, apenas 12 dias depois do golpe de 1973

Reprodução/Montagem RBA
Reprodução/Montagem RBA

São Paulo – Prêmio Nobel de Literatura em 1971, o poeta Pablo Neruda (nascido Ricardo Eliécer Neftalí Reyes Basoalto) seria uma poderosa voz de oposição à ditadura instalada pelos militares liderados por Augusto Pinochet. Mas morreu em 23 de setembro de 1973, apenas 11 dias depois do golpe contra Salvador Allende. Nestes quase 50 anos, a versão oficial da morte – câncer de próstata – nunca convenceu. Agora um relatório afirma estar comprovado que Pablo Neruda envenenado.

Uma bactéria encontrada nos restos mortais do poeta “estava em seu corpo no momento da morte”. A bactéria (Clostridium botulinum), responsável pelo botulismo, foi encontrada em 2017 em um dente de Neruda, cujo corpo foi exumado quatro anos antes. “Mas não se sabia se era endógeno ou exógeno, ou seja, se era interno ou externo”, afirmou Rodolfo Reyes, sobrinho do escritor, que estava internado quando morreu.

“E agora comprovamos que era endógeno e que foi injetado ou colocado, ou seja, Neruda foi assassinado, houve intervenção em 1973 por agentes do Estado”, disse Rodolfo Reyes.

Reyes antecipou ontem o resultado de uma investigação feita por uma equipe internacional de cientistas, após análise de exames de laboratórios da Dinamarca e do Chile. A apresentação oficial do relatório que comprova que Pablo Neruda foi envenenado será feita nesta quarta-feira (15) à Justiça chilena

Nascido em Parral, no centro-sul do país, em 12 de julho de 1904, era filho único – o pai (José) era e a mãe (Rosa), professora. Neruda era do Partido Comunista do Chile e chegou receber indicação para disputar a presidência. Mas declinou em favor de seu amigo Allende, socialista, que chegou ao poder pelas urnas em 1970. Então, tornou-se embaixador na França, pois havia ocupado cargos diplomáticos, além de ter sido eleito senador, em 1945, ano de sua filiação ao PC chileno.

Seu primeiro livro, Crespusculario, data de 1923. No ano seguinte, sai seu trabalho mais conhecido: Veinte poemas de amor y una canción desesperada. A publicação do também clássico Canto General se deu na fase do exílio, clandestinamente, em 1950. No total, Neruda teve 45 obras publicadas, até a póstuma Confieso que he vivido (1974). Entre os amigos que fez pela vida, estão o espanhol Federico García Lorca e os brasileiros Thiago de Mello.