CRÍTICA

Vítimas da covid e familiares contestam relatório da polícia que isenta Prevent Senior: ‘Pífio’

Associação diz que apuração policial ignorou vítimas e análises e teve e fechamento precoce. “Relatório parece mais peça de defesa da Prevent do que relatório técnico”

DIVULGAÇÃO/PREVENT SENIOR
DIVULGAÇÃO/PREVENT SENIOR
Polícia Civil diz que "não foram encontrados elementos informativos" que apontam crimes da operadora de saúde

São Paulo – A Polícia Civil de São Paulo apresentou ontem (19) o relatório final da investigação sobre a conduta da Prevent Senior na pandemia. O documento entregue à Justiça isenta o plano de saúde de irregularidades no tratamento de pacientes com covid-19. Para a Associação Nacional em Apoio e Defesa dos Direitos das Vítimas da Covid-19, a polícia ouviu poucas vítimas, ignorou técnicos e descartou depoimentos relevantes. Por isso, o documento é no mínimo “superficial”, diz a associação.

O relatório da Polícia Civil diz que “não foram encontrados elementos informativos” que apontam crimes praticados por funcionários da operadora de saúde, nem por médicos. Segundo a delegada Lisandrea Calabuono, não há provas que relacione as mortes de segurados da Prevent Senior ao uso do chamado kit-covid. O documento também descarta acusações de que a empresa recomendou tratamento paliativo a pacientes graves para reduzir custos. Além disso, desconsidera que houve omissão da doença como causa da morte em certidões de óbito.

O coordenador nacional da associação de vítimas da covid-19, ex-deputado Renato Simões, afirma que o relatório da Polícia Civil que isenta a Prevent Senior teve seu “fechamento precoce em uma investigação complexa”. “A gente constituiu uma comissão com 25 vítimas, entre as 50 que foram ouvidas. E o Ministério Público possui uma grande força-tarefa sobre o caso, muito maior do que esse relatório da Polícia Civil. A delegada analisou apenas cinco laudos apresentados pela própria empresa. Então, o documento parece mais uma peça de defesa da Prevent do que um relatório técnico”, criticou ele, em entrevista à Rádio Brasil Atual.

Prevent Senior

A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Prevent Senior, na Câmara Municipal de São Paulo, aprovou, no último dia 4, o relatório final que pede o indiciamento de 20 pessoas por crimes cometidos nos hospitais da operadora de saúde durante a pandemia do novo coronavírus. Os parlamentares entregam o documento nesta quarta-feira (20) ao procurador-geral de Justiça do estado, Mário Sarrubbo.

As conclusões apresentadas pela Polícia Civil de São Paulo, isentando a Prevent Senior, contrariam também a CPI da Covid, que operou no Senado Federal, no ano passado. Os senadores sugeriram o indiciamento de 11 pessoas ligadas à operadora, com suspeitas mais robustas contra a empresa, a partir de depoimentos prestados por um grupo de médicos aos parlamentares em Brasília.

Renato Simões afirma que o problema vai além do chamado kit-covid, mas o fato de a operadora ser um laboratório de teses anticientíficas. “Os pacientes passaram por testes não autorizados e tratamentos sem eficiência, por uma opção ideológica da própria empresa. Os pacientes recebiam em casa o kit covid e, quando iam ao hospital, estavam com o quadro agravado. A partir das internações, a empresa começou a adotar critérios para usar terapias não autorizadas. Há um conjunto de questões que fizeram essa empresa se alinhar ao gabinete paralelo do governo federal para aplicar teses furadas.”

Vítimas da covid-19 e familiares tratados na Prevent Senior cobram do Ministério Público de São Paulo sanções à operadora por condutas na pandemia. Entre elas, a realização de experiências e terapias com medicamentos sem eficácia e sem consentimento dos pacientes. E também que seja reaberto Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) firmado com a empresa e homologado pelo Conselho Superior do MP-SP em novembro, como desdobramento da CPI da Covid.