Campanha do agronegócio causa polêmica ao tentar ‘valorizar’ imagem do setor

'Sou Ogro': Comissão Pastoral da Terra satiriza ação por considerar que o campo brasileiro muda para continuar o mesmo. Deputado vê propaganda irregular por omitir responsáveis

Vídeo da campanha “Sou Agro” com o ator Lima Duarte (Foto: Reprodução)

São Paulo – Uma campanha publicitária financiada por empresas e associações do setor agrícola com a expressão “Sou Agro” vem levantando discussões sobre os interesses e os envolvidos que estão por trás do movimento. Crítica à veiculação da campanha, a Comissão Pastoral da Terra (CPT) divulgou nota satirizando o nome do movimento e questionando os verdadeiros interessados em valorizar a imagem do agronegócio. O deputado federal Ivan Valente (PSOL-SP) considera irregular a campanha por omitir os responsáveis pela veiculação.

Em nota no site da CPT, um dos coordenadores da entidade na Bahia, Ruben Siqueira, satirizou a expressão usada pelos empresários do agronegócio e afirmou que a campanha deveria ser chamada de “Sou Ogro”. Siqueira questiona a quem de fato interessa o “sucesso” do agronegócio. Ele critica a campanha por sugerir que as empresas do setor zelam pela melhoria das condições de vida do trabalhador rural. Para ele, o campo brasileiro muda para continuar o mesmo.

Desde julho, com veiculação em TV, rádio, internet e mídia impressa, o movimento surgiu para ser um canal de comunicação entre empresas do setor de agronegócio com a população, principalmente a urbana. De acordo com o site “Sou Agro”, a campanha pretende destacar a contribuição do setor, como a geração de empregos e renda, o alto padrão tecnológico, a garantia do abastecimento interno, com contribuições ao aumento do poder de compra das famílias, num papel histórico para o desempenho positivo da nossa balança comercial e para o desenvolvimento do Brasil. A campanha é feita por atores como Lima Duarte e Giovana Antonelli.

“O Brasil pode perfeitamente ser a potência dos alimentos, da energia limpa e dos produtos advindos da combinação da ciência com a nossa megabiodiversidade.”, descreve a página na internet. Entre as empresas e associações estão Bunge, Cargil, Vale, Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), Nestlé, Monsanto, Associação Brasileira de Papel e Celulose (Bracelpa), União das Indústrias de Cana de Açúcar (Unica).

Regulamentação publicitária

O deputado federal Ivan Valente entrou com uma representação ética junto ao Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária (Conar), com pedido de liminar de suspensão da campanha. Segundo o parlamentar, a veiculação “trata de pesada estratégia de marketing do setor para construir uma nova imagem perante à sociedade brasileira”.

Ivan Valente afirma, em nota publicada em seu site, que o pedido de suspensão é por conta da omissão ao telespectador, ouvinte ou leitor de quais são as empresas responsáveis pela iniciativa. Valente acrescenta que a ideia da campanha é tentar driblar os desgastes da imagem do setor após o debate sobre o novo Código Florestal.

Leia mais: