Revés para Tarcísio

Audiência sobre a privatização da Sabesp é remarcada após Justiça acatar ação popular

Debate ocorrerá no dia 16 de novembro, às 14h. Autores da liminar também aguardam decisão da Justiça sobre pedido para realização de outras quatro audiências pelo estado. Governador e presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo queriam debate e votação “a toque de caixa”, diz deputado

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São Paulo – O presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), André do Prado (PL), remarcou para o dia 16 de novembro, às 14h, a audiência pública sobre a proposta de privatização da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp). A mudança acata decisão do Tribunal de Justiça (TJSP) que suspendeu, no final de semana, o debate sobre a pauta que estava marcado para esta segunda (6).

Conforme reportou a RBA, o juiz Raphael Augusto Cunha considerou curto o prazo dado para divulgação da audiência com a sociedade. Os deputados da Casa haviam sido avisados do debate com menos de uma semana de antecedência, o que foi visto como uma ilegalidade. Como resposta à manobra do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) e de sua base parlamentar, o deputado estadual Luiz Cláudio Marcolino (PT), a presidenta do Sindicato dos dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região, Neiva Ribeiro, e a vice da CUT-SP, Ivone Silva, recorreram à Justiça para obstruir o audiência e denunciar a manobra.

A nova data acata o pedido de oito dias úteis de antecedência para a ampla divulgação. Na sentença, o magistrado alertou que “a realização da audiência pública sem a devida publicidade tem o condão, em princípio, de viciar o processo legislativo referente à privatização da Sabesp”, alertou. A avaliação de Marcolino, um dos autores da ação, é que o debate sobre a privatização da Sabesp estava “escondido na Alesp” para que a votação da proposta fosse realizada “a toque de caixa”. A decisão judicial, contudo, acabou se tornando um revés a Tarcísio, por dar visibilidade ao processo, considera o parlamentar.

Pedido de audiências pelo Estado

“O presidente (André do Prado) apresenta projeto sem diálogo com a sociedade. O governador encaminha projeto para cá sem conversar com os prefeito, então, ia ser uma votação e debate a toque de caixa. Agora não, agora a população sabe que tem o risco de perder uma empresa importante como a Sabesp. Tanto que a própria população está cobrando dos deputados e do governador que esse debate seja feito de forma mais ampla e que, inclusive, tem que ser feito um plebiscito como os movimentos sociais têm cobrado. Com certeza, isso deu visibilidade ao debate e agora vamos cobrar dos demais deputados e líderes que tem que acontecer um debate mais amplo no estado para que a população possa se posicionar em relação a esse projeto de lei”, afirmou o petista.

Ainda ontem, Tarcísio se reuniu com cerca de 20 deputados da base, no Palácio dos Bandeirantes, onde teria afirmado, segundo o site Metrópoles, que a suspensão não atrasaria o cronograma apresentado à Alesp para votação do PL. A expectativa do governo estadual é aprovar a desestatização ainda neste ano para evitar um desgaste político em ano de eleições municipais. O presidente da Casa também já anunciou que pretende colocar o projeto em votação no dia 29 de novembro.

A oposição cobra, contudo, a realização de audiências públicas pelo estado de São Paulo. Os autores da ação popular que barrou o debate de última hora, nesta segunda, ainda aguardam decisão do juiz titular sobre o pedido para que mais quatro oitivas sejam realizadas em Campinas, Ribeirão Preto, São José dos Campos e Santos, que estão entre os 375 municípios atendidos pela companhia de abastecimento.

Enel: exemplo contra a privatização

“A Sabesp tem uma atuação importante nessas regiões. Em São José dos Campos, por exemplo, estamos dialogando com todo o litoral norte. A região de Ribeirão Preto dialoga com o ‘fundo’ do estado em que a Sabesp tem, na maioria das cidades, 100% de esgoto e água tratados. Então essas cidades têm que se posicionar em caso de uma eventual privatização. Dialogar com essas e outras regiões metropolitanas é conversar com boa parte da população do estado de São Paulo”, justificou Marcolino.

Ainda de acordo com o deputado, o caso Enel “é mais um que demonstra que nenhum processo de privatização no estado foi benéfico para a população”. Ainda nesta terça (7), contrariando o prazo da própria concessionária responsável pelo fornecimento de energia, cerca de 200 mil clientes continuam sem luz após o temporal que atingiu São Paulo na sexta (3). A Enel passou a atuar no estado após a privatização da Eletropaulo, em 2018. E, já no ano seguinte cortou 36% de seus funcionários.

CPI da Enel

Integrante da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investiga a empresa, a CPI da Enel, o deputado do PT protocolou ontem requerimento para que a Enel faça o ressarcimento de todos os prejuízos, de pessoas físicas e jurídicas, dentro do prazo máximo de 60 dias. A empresa também foi cobrada por um plano de trabalho para o período de chuvas, entre dezembro a março. O colegiado também confirmou a convocação do presidente da Enel para depoimento no dia 22 de novembro.

“Queremos uma solução mais rápida possível porque não dá para ter uma empresa como a Enel que foi privatizada, tirando seus compromissos e contratos que tinham que ser executados. E a Enel não tem cumprido os contratos firmados. A única preocupação é o lucro. E ela não tem reinvestido na empresa, inclusive o ultimo levantamento do presidente mundial da Enel, que assumiu agora no segundo semestre, apontou que 75% dos investimentos no próximo período na Enel serão na Europa. Não tem previsão de investimentos no Brasil e, principalmente, no estado de São Paulo”, contestou Luiz Cláudio Marcolino.