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Após seu partido derrubar governo para se proteger, Jucá quer ressuscitar MDB

Mergulhado em denúncias de corrupção, após papel decisivo no ataque à democracia do país, partido que teve três presidentes sem voto ensaia adotar o antigo nome

Antonio Cruz / ABr

“Tem que resolver essa porra. Tem que mudar o governo para estancar essa sangria”

Talvez envergonhado por ter o terceiro presidente da República não eleito pelo voto (os outros dois foram Sarney e Itamar) e, desta vez, tendo subido ao cargo por meio de um golpe contra a democracia; talvez também por estar mergulhado em denúncias de corrupção de algumas de suas principais lideranças; cite-se ainda por ter o ex-governador Sérgio Cabral e Eduardo Cunha presos e por estar na mira da Lava Jato; e o que dizer da desgaste da falência do estado do Rio, que governa desde 2007? Talvez por tudo isso e mais um pouco, Romero Jucá anunciou no sábado (26), que o PMDB (Partido do Movimento Democrático Brasileiro) pretende mudar de nome, retornando ao nome antigo, MDB (apenas Movimento Democrático Brasileiro), usado de 1966 a 1979.

Jucá disse, em entrevista coletiva, que o assunto deve ser discutido em plenárias dos diretórios em todos os estados. Se aprovada, a mudança deve ser oficializada em dezembro para entrar em vigor em fevereiro de 2017.

A vida não anda mesmo fácil para o partido que um dia abrigou a resistência à ditadura instaurada no país após o golpe de 1964. A cada dia, correligionários e aliados de Temer vão aparecendo como protagonistas de novos casos de corrupção e desvios de recursos públicos

Na manhã da sexta-feira (25), enquanto Michel Temer lia carta de demissão do ministro da Secretaria de Governo e aliado de longa data, Geddel Vieira Lima – “Avolumaram-se as críticas sobre mim (…) Quem me conhece sabe ser esse o limite da dor que suporto. É hora de sair” –,  depois de vir à tona o escândalo de tráfico de influência em torno de um apartamento que comprara em uma aérea de preservação cultural e ambiental, em Salvador, a Polícia Federal (PF), também em Salvador, batia na porta de outro “grande amigo”: o secretário e assessor do agora ex-ministro, Leonardo Américo Silveira de Oliveira, com um mandado de condução coercitiva. Ele é acusado pela PF de fraudar serviço de transporte escolar da criançada.

Leonardo – que também é presidente do PMDB da cidade baiana de Caetité, (indicado por Geddel para o cargo), ex-vereador, ex-candidato a vice-prefeito na chapa derrotada de Ricardo Ladeia (PSDB) na eleição deste ano – ocupa desde 29 de junho um cargo importante no governo Michel Temer, a subchefia de Assuntos Federativos da Presidência, na Secretaria de Governo (de Geddel), responsável pela relação com prefeitos.

Durante investigações da chamada Operação Vigilante, a PF concluiu que uma empresa de Leonardo, a Serbem Serviços e Locações, que presta serviço de transporte escolar na cidade de Malhada das Pedras, a cerca de 600 quilômetros de Salvador, cometeu uma série de delitos: desvios de dinheiro publico; fraudes em licitação para contratação de empresas vinculada a prefeitos, vereadores e gestores municipais; superfaturamento, por meio de adulteração de quilometragem percorrida e cobrança pela prestação de serviço de transporte nunca prestados, por exemplo, em dias sem atividade escolar, inclusive período de férias.

Segundo a investigação, o valor da quilometragem cobrada costumava ser mais do que o dobro da distância real percorrida. Relatório da PF afirma ainda que o prejuízo estimado aos cofres públicos da cidade é de mais de R$ 3 milhões

O mandado de prisão não chegou a ser cumprido porque Américo estava “descansando”, na cidade de Petrópolis (RJ). Mas ele prometeu se entregar hoje (28) na sede da PF em Salvador.

Apesar das denúncias envolvendo a dupla, é bem provável que Geddel e Leonardo continuem juntos. O primeiro deixou a pasta, mas não o governo. Saiu da cúpula do Executivo, com sua coleção de inquéritos no Supremo Tribunal Federal: sete, sendo dois da Lava Jato.

Continuará dando cartas no governo Temer, mas sem cargo. Em Brasília, correm conversas de que Geddel tem a promessa do presidente de voltar ao centro do poder aos poucos. Como Romero Jucá, que ficou 12 dias no Ministério do Planejamento e caiu após o vazamento do áudio de conversa dele com o ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado: “Tem que resolver essa porra. Tem que mudar o governo para estancar essa sangria”. Mas foi escolhido por Temer para ser o líder do governo no Congresso – cargo que dá a Jucá status de interlocutor do presidente para encaminhar projetos, negociações e votações de interesse do governo.

Nada mal para quem afirmou que só um golpe que derrubasse Dilma Rousseff “estancaria a sangria” que se anunciava.