Ariovaldo Ramos

O dito deputado está onde merece, pois não se bravateia com a democracia

Que a prisão e a perda de mandato do dito deputado traga à tona a consciência de que a Constituição não é matéria para bravatas de quem foi eleito para defendê-la

Pixabay
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Não se bravateia com a democracia. Quando Lula estava no sindicato dos metalúrgicos, em São Bernardo do Campo, logo depois que sua prisão foi decretada, muitos subiram no caminhão de som para apoiar o cidadão Luiz Inácio Lula da Silva. Isso porque ele acabara de sofrer a injustiça de ser condenado sem que provas consubstanciassem tal condenação, como agora está escancarado diante de todo mundo.

Eu também subi e discursei, como outros, em favor do ex-presidente, e no meu discurso disse que tal injustiça nos recomendava a desobediência civil. Mas o companheiro não aceitou essa possibilidade, uma vez que acabou negociando a sua prisão, e assim poupar os seus apoiadores de constrangimento. E, ainda, sabe Deus de que tipo de violência.

Lembro-me que dois deputados federais estavam no caminhão, ao mesmo tempo que eu, e ao me ouvirem falar de desobediência civil, me parabenizaram, pois entenderam ser um ato de coragem, e enquanto confessavam que eles, por conta de seus mandatos, não poderiam sugerir algo assim, sob pena de perda de mandato.

É isso: eles estavam inseridos, por meio de seus mandatos, na manutenção do sistema democrático, como tal, e desse modo não poderiam sequer sugerir a sua contestação, ainda que em nome da justiça. Portanto, seus mandatos os obrigavam a sempre encontrar saídas a partir do sistema.


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Por isso a prisão do dito deputado federal Silveira não pode ser relaxada. Pois ele não pode atentar contra a ordem com a qual foi eleito para garantir. Logo, ele não tem desculpas para atentar contra a constituição, ele fez apologia ao Ato Institucional número 5 (AI-5). E que foi o instrumento de repressão mais duro da ditadura militar, e defendeu a destituição de ministros do STF.

De fato, como disseram os deputados que mencionei, ele tem de perder o mandato.

A farra pró-ditadura repercute desde que o presidente atual tomou o poder. Aliás, desde a sua campanha eleitoral. Por isso essa farra precisa ser tratada com a seriedade que merece. Espera-se que a prisão e a perda de mandato do dito deputado, finalmente, possa trazer à tona a consciência de que a constituição não é matéria para bravatas da parte de quem foi eleito para defendê-la.

RBA

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