Cancún Brasileira

PEC relatada por Flávio Bolsonaro facilita privatização das praias e degradação ambiental

Relator dá aval a proposta defendida por Neymar, que beneficia mercado imobiliário. Especialistas vêem riscos ambientais na abertura para a iniciativa privada de territórios atualmente sob domínio da União

wikimedia commons
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Lagoa da Conceição, cartão postal de Florianópolis: na rota das praias que podem vir a ser privatizadas

São Paulo – A Comissão de Constituição e Justiça do Senado realiza nesta segunda-feira (27), às 14h, audiência pública para debater Proposta de Emenda à Constituição (PEC 3/2022) que facilita a privatização das praias e a degradação ambiental. Relatada pelo senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), a proposta que ficou conhecida também como “PEC da Cancún brasileira” favorece a especulação imobiliária em prejuízo das comunidades pesqueiras artesanais e do trabalhado de preservação. Como consequência, cria todas as condições para agravar ainda mais os impactos das mudanças climáticas em curso.

Isso porque a PEC extigue os chamados terrenos de marinha. Ou seja, as áreas situadas na costa marítima, as que contornam as ilhas, as margens dos rios e das lagoas, em faixa de trinta e três metros medidos a partir da posição da maré cheia. Esses terrenos não são da Marinha, mas da União segundo determina a Constituição Federal.

Em seu parecer, Flávio Bolsonaro considera que “o terreno de marinha, da forma que atualmente é disciplinado pelo nosso ordenamento, causa inúmeras inseguranças jurídicas quanto à propriedade de edificações”. E que “muitas pessoas adquiriram imóveis devidamente registrados na serventia de registro de imóveis e, após decorridos muitos anos, passaram a ter suas propriedades contestadas pela União, quando da conclusão de processos demarcatórios”.

“Não nos parece justo que o cidadão diligente, de boa-fé, que adquiriu imóvel devidamente registrado e, por vezes, localizado a algumas ruas de distância do mar, perca sua propriedade após vários anos em razão de um processo lento de demarcação.”

Opinião pública é contra PEC defendida por Flávio Bolsonaro

Para o biólogo Ronaldo Christofoletti, professor do Instituto do Mar da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), a proposta é “a porta para a privatização”. “A proposta não privatiza a praia. Ela permite que prefeitos e governadores regularizem a participação da iniciativa privada. Logo ela é a porta para a privatização”, disse o especialista ao portal Congresso em Foco.

No site do Senado, a proposta tinha 38.301 votos contários à proposta e apenas 610 favoráveis no momento da conclusão desta reportagem.

O professor lembrou que outras proposições em andamento no Congresso efetivam a privatização. Entre elas o Projeto de Lei (PL) 4.444/21, que estabelece, entre outras coisas, a cessão de 10% de toda a área costeira de cada município para a iniciativa privada. “É uma PEC da grilagem, que permite que se regulamente que a iniciativa privada possa fazer algo”, disse.

Especialistas que têm se manifestado de maneira contária argumentam que essas áreas são importantes para a mitigação das mudanças climáticas. Afinal, o incremento imobiliário por trás da medida está associado à degradação dos ecossistemas marinhos costeiros, colocando em risco a biodiversidade.

Segundo eles, a zona costeira funciona como uma barreira contra o avanço do mar e de outros impactos climáticos. Ou seja, a degradação está associada ao risco de desastres. O jogador de futebol Neymar, ao contrário, é favorável à proposta, conforme lembrou a organização Euceano em post neste final de semana, alertando para os riscos da PEC.

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Redação: Cida de Oliveira