Crianças, jovens e terceirizados são mais expostos a acidentes de trabalho, diz médica

Em seminário sobre acidentes de trabalho no TST, especialistas discutiram ainda transtornos psicológicos e custos dos acidentes

São Paulo – Os grupos mais vulneráveis aos acidentes de trabalho são as crianças, os adolescentes e os empregados terceirizados, segundo a mestra em saúde pública e pesquisadora da Fundacentro (Fundação Jorge Duprat Figueiredo de Segurança e Medicina do Trabalho) Maria Maeda, que participou de seminário promovido pelo Tribunal Superior do Trabalho (TST). Outro participante do encontro, o juiz Sebastião Geraldo de Oliveira, do Tribunal Regional do Trabalho da 3ª Região (MG), afirmou que não basta aprovar leis sem criar uma política pública permanente para promover a saúde e segurança no trabalho. Segundo ele, a legislação “está parada” no tempo. “Embora existam muitos órgãos, siglas e programas, os acidentes continuam a acontecer.”

Quanto à terceirização, chamou a atenção do médico um dado do Ministério do Trabalho relativo a 2005: oito em cada dez acidentes de trabalho eram registrados em empresas terceirizadas, e quatro em cada cinco mortes ocorriam com empregados de empresas prestadoras de serviço. Dados do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos (Dieese) mostram que os riscos de um empregado terceirizado morrer de acidente de trabalho é 5,5 vezes maior que nos demais segmentos produtivos. Entre outras razões, afirmou a médica, porque a empresa se compromete a cumprir prazos pelo menor preço, e o empregado não escolhe o modo de trabalhar. “A intensificação do trabalho com longas jornadas e a imposição de condições perigosas e penosas revelam a precarização social”, assinalou.

Consequências psicológicas

Sobre repercussões psicológicas dos acidentes de trabalho, a psiquiatra Edith Seligmann Silva alertou que o acidente de trabalho, muitas vezes, ultrapassa a lesão física e atinge a integridade psíquica do trabalhador. Quando isso acontece, vários processos psicológicos podem ser desencadeados: o primeiro momento, logo após o acidente, impõe uma limitação física, ou seja, um choque, um “entorpecimento da consciência”, quando o acidentado não tem a real dimensão do ocorrido.

Esta sensibilidade, para a psiquiatra, pode se manifestar de forma muito intensa, com uma grande irritabilidade ou agressividade. Com a sensibilidade afetada, muitos trabalhadores desenvolvem um processo depressivo, em que se sentem culpados, com uma grande sensação de ressentimento, o que gera perda da autoestima e leva, em casos extremos, ao suicídio. A especialista lembrou que o único transtorno psicológico reconhecido pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) como ligado diretamente aos acidentes de trabalho é o transtorno de stress pós-traumático, que também se relaciona aos traumas ocasionados por catástrofe e incêndios.

 

Com informações do Tribunal Superior do Trabalho (TST)