Hipocrisia

Trabalhadores desmentem Santander, que na propaganda afirma celebrar a diversidade

Dados mostram que conselho administrativo do Santander não tem nenhuma pessoa negra. Os brancos são maioria (96%) na diretoria do banco

Junius/commons.wikimedia
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"Apenas 2% dos diretores são pardos. Os outros 2% são amarelos ou indígenas. Não há nenhum preto nem no conselho de administração e nem na diretoria", afirma a Contraf

São Paulo – O banco espanhol Santander divulgou campanha para afirmar que valoriza a diversidade e realiza ações afirmativas. A propaganda integra o contexto da mês da Consciência Negra. Contudo, a realidade é distinta do que prega o banco. O conselho administrativo da empresa, por exemplo, tem 100% de pessoas brancas. Já a diretoria do banco tem 96% de caucasianos.

Por isso a Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT) denuncia a hipocrisia do banco. “Apenas 2% dos diretores são pardos. Os outros 2% são amarelos ou indígenas. Não há nenhum preto nem no conselho de administração e nem na diretoria. Os dados são do Formulário de Referência 2023, relativo ao exercício de 2022. Ainda de acordo com o mesmo Formulário, os brancos compõem 85,7% dos 1.291 cargos de liderança, os pretos 1,7% e os pardos 7,3%”, informa a entidade.

O comunicado do Santander tem assinatura do responsável pela área de diversidade do banco, Ede Ilson Viani. Embora esteja à frente de um setor que deveria promover a diversidade, ele é branco. Além deste cargo, ele também é vice-presidente executivo, responsável por Tecnologia & Operações e membro do Conselho de Administração.

Embora utilize uma série de palavras para defender uma suposta inclusão, o comunicado apresenta poucos dados. Entre eles, afirma que 35,4% dos funcionários são não brancos. E mais: que o banco ainda promoveu “um crescimento de 6%”. Contudo, não especifica qual o período para sustentar a afirmação. “Ações do Santander fortalecem nossa visão de diversidade para as pessoas pretas e pardas”, afirma.

Onde estão, Santander?

Bancária do Santander, a diretora executiva do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região, Ana Marta Lima, critica o comunicado do banco que parece não encontrar eco na realidade. “Mas onde estão esses negros? Que cargos eles ocupam no banco? São funções de liderança? Não sabemos, pois o Santander não divulga esses dados. Por isso cobramos do Santander que retome as mesas de negociação específicas sobre diversidade para discutirmos questões como essas e, principalmente, maior possibilidade de ascensão nas carreiras de negros e negras, que ocupam principalmente cargos na base da hierarquia dos bancos, mas raramente funções de liderança”, afirma.

Ana Marta vai além e destaca dados reais do 8º Fórum Nacional pela Visibilidade Negra no Sistema Financeiro, realizado no início de novembro em Porto Alegre. De acordo com o levantamento, em um total de aproximadamente 450 mil trabalhadores e trabalhadoras bancários, os negros ocupavam apenas 110 mil vagas. Em 2021, pretos e pardos representavam 20,3% da totalidade das ocupações relacionadas aos cargos de liderança na categoria bancária, enquanto os brancos representavam 75,5% destes cargos.

“Estes dados reforçam que a desigualdade salarial entre negros e brancos persiste nos bancos e refletem diretamente na vida dos jovens negros e pardos, que ganham menos por ocuparem funções da base hierárquica nas instituições financeiras. Por isso seguimos cobrando do Santander e dos demais bancos a retomada da mesa específica de negociação sobre diversidade para que possamos garantir de fato a inclusão racial nos bancos, sobretudo nas funções de liderança”, finaliza a sindicalista.