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Sem acordo, metroviários de São Paulo mantêm greve, que vai a julgamento

Durante audiência, representantes da categoria pedem 12,2% de reajuste, e Metrô diz que não pode passar dos 8,7% propostos na véspera. Julgamento no TRT tem previsão de ser realizado no fim de semana

Daniel Ramos/Futura Press/Folhapress

As linhas Azul, Verde e Vermelha do Metrô tiveram interrupção parcial do serviço no primeiro dia de greve

São Paulo – Os metroviários de São Paulo decidiram manter a greve iniciada hoje (5) depois de não chegar a acordo com a Companhia do Metropolitano (Metrô) durante audiência na sede do Tribunal Regional do Trabalho (TRT) da 2ª Região, no centro da capital. Em assembleia realizada no final da tarde na quadra do Sindicato dos Metroviários, na zona leste, a categoria aprovou rapidamente a proposta de continuação da greve. Eles fazem nova assembleia amanhã (6), a partir das 17h.

Os trabalhadores também decidiram dar prazo até as 23h desta quinta-feira para o governador Geraldo Alckmin (PSDB) decidir liberar as catracas amanhã para manter o Metrô funcionando e não afetar a população. Alckmin já rejeitou a proposta sob alegação de que causaria prejuízo ao Metrô. A categoria aprovou que, caso sejam liberadas as catracas, que seja cortado o ponto do dia para minimizar as perdas da empresa.

O secretário estadual dos Transportes Metropolitanos, Jurandir Fernandes, declarou à TV Brasil que o estado não tem mais o que oferecer. “A mística dos dois dígitos está dada. Demos 8,7%, mas embutimos outras melhorias. O sindicato tem que ser transparente com a categoria, porque ela não está informada sobre tudo o que já recebeu”, afirmou.

A reunião no TRT foi concluída sem que as partes se entendessem a respeito do índice de reajuste salarial. Chegou a haver a retirada da proposta apresentada ontem pela Companhia do Metropolitano (Metrô), de 8,7%, que por fim acabou recolocada em discussão pela empresa.

O julgamento do dissídio estava marcado para amanhã, às 14h30, no TRT, mas a vice-presidenta judicial do TRT, desembargadora Rilma Aparecida Hemetério, deu prazo de 24 horas para que as partes apresentem seus argumentos. Com isso, a expectativa dela é de que o caso possa ser avaliado no fim de semana pela Seção Especializada em Dissídio Coletivo

O desembargador Rafael Pugliese terá de analisar os autos e apresentar um voto em relação às ações movidas contra a greve e à liminar emitida por Rilma determinando 100% da prestação de serviço no horário do pico (das 6h às 9h e das 16h às 19h) e 70% nos demais.

Durante a audiência, a empresa pediu que o movimento seja declarado abusivo o mais rápido possível e chegou a dizer que concordava apenas em conceder reajuste pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) acumulado em 12 meses. “A proposta do Metrô é o melhor que a gente pode fazer”, disse o presidente da companhia, Luiz Pacheco, ao reapresentar a proposta de 8,7%.

De outro lado, a Federação Nacional dos Metroviários sugeriu reajuste de 12,2%, índice que foi encampado pelo sindicato, que desde o começo da negociação dizia aceitar apenas um reajuste na casa de dois dígitos.

Vales

A desembargadora Rilma criticou os representantes da categoria por considerar que descumpriram liminar definida ontem por ela. “Se os senhores tivessem cumprido a parte de vocês, eu não precisaria estar aqui com esse discurso”, afirmou. “Os metroviários não podem achar que o direito deles pode se sobrepor ao dos outros no sentido de prestar serviço à população.” A liminar prevê multa diária de R$ 100 mil.

Depois da advertência, o presidente do sindicato, Altino de Melo Prazeres Junior, voltou a sugerir que o Metrô aceite um dia de catracas liberadas para toda a população, como alternativa à greve. Ele disse que gostaria de submeter a assembleia da categoria a proposta de que se desconte um dia de salário de todos os trabalhadores para permitir essa operação, novamente recusada pelo presidente da companhia, Luiz Pacheco, que disse não poder abrir mão da receita diária com os bilhetes, e pela desembargadora.

Altino afirmou ainda que cumprir a liminar na íntegra seria o mesmo que não fazer greve. Durante entrevista coletiva após a audiência, ele acusou o governador Geraldo Alckmin (PSDB) de manter postura inflexível, fechando as portas ao diálogo. “Peço ao governador que, se ele não está à frente da negociação, esteja. Peço ao secretário de Transportes, se não está à frente da negociação, que esteja.”

Pacheco rebateu afirmando não considerar correto que se responsabilize o governador pela greve e disse que é preciso uma resposta definitiva da Justiça sobre o caso. “Os metroviários encaminharam uma carta petulante dizendo que desafiavam o governador. E o governador não está para ser desafiado”, afirmou a jornalistas, reiterando que chegou ao limite de reajuste que pode ser oferecido. Segundo o presidente do Metrô, durante a tarde o fluxo de passageiros foi equivalente a 35% da média de um dia normal.

Rilma desconsiderou o pedido da categoria de que se decrete um valor igual para a participação nos resultados (PR). A queixa é de que o benefício, da maneira como é calculado atualmente, favorece executivos e funcionários que já recebem salários mais altos. Mas ela avalia que esta questão não pode ser alvo de apreciação do Judiciário, devendo ser tratada em negociação entre a categoria e a empresa. O presidente do Metrô afirmou considerar injusto que todos recebam a mesma PR.

Funcionamento

Desde as 4h de hoje (5), o Metrô utiliza funcionários que já foram condutores, mas hoje ocupam cargos técnicos e de supervisão, para manter circulação parcial nas linhas 1-Azul, 2-Verde, 3-Vermelha e integral na Linha 5-Lilás. Nesta tarde, o Metrô informava que estavam funcionando o trecho entre as estações Ana Rosa e Luz, na Linha 1-Azul, entre Ana Rosa e Vila Madalena, na Linha 2-Verde, e entre Bresser-Mooca e Marechal Deodoro, na Linha 3-Vermelha.

A empresa tem 9.500 funcionários e transporta aproximadamente 4,5 milhões de pessoas por dia.

Os funcionários da Linha Amarela-4 (Butantã-Luz), administrada pela Via Quatro por meio de um contrato de concessão de 30 anos em parceria público-privada com o governo do estado de São Paulo, não participam dessa negociação.

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