Parlamentares sindicalistas contrariam centrais e apoiam mínimo proposto pelo governo

Deputado Vicentinho é um dos egressos do movimento sindical que declararam voto a favor dos R$ 545, além de amenizar o impacto de uma possível convergência entre as centrais e parlamentares

Deputado Vicentinho: “Briga é briga, mas quando se faz acordo ele precisa ser cumprido” (Foto: Elza Fiúza/Agência Brasil)

São Paulo – Parlamentares de origem sindicalista da base do governo no Congresso Nacional prometem apoiar a proposta de elevar o salário mínimo para R$ 545. O valor é defendido pelo governo, apesar da resistência das centrais sindicais, que querem um piso nacional mais elevado e apostam na pressão na Câmara dos Deputados e no Senado para reverter o processo.

Em entrevista à Rede Brasil Atual nesta quarta-feira (9), o deputado Vicente Paulo da Silva, o Vicentinho (PT-SP), afirmou que seu voto será de acordo com o que foi discutido nas semanas anteriores entre as centrais sindicais e o governo. Os deputados Cândido Vaccarezza (PT-SP), Devanir Ribeiro (PT-SP) e o senador Humberto Costa (PT-PE) foram outros que assumiram a mesma posição. 

Deputados ligados à Força Sindical, como Paulo Pereira da Silva, o Paulinho (PDT-SP), prometem apresentar emendas com valores maiores. O senador Paulo Paim (PT-RS) foi outro que mostrou insatisfação com a posição do governo.

As centrais sindicais vinham negociando com o governo federal o reajuste do mínimo, junto de outras questões, como a correção da tabela do Imposto de Renda e o aumento dos aposentados. Na terça-feira (8), o ministro da Secretaria Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, declarou que as negociações estavam encerradas, sinalizando que o tema iria para o Congresso Nacional. As centrais defendem o valor de R$ 580.

“Minha posição é cumprir o acordo entre as centrais sindicais e o governo, de valorização permanente do salário mínimo com o valor de R$ 545 agora e com perspectiva de grande aumento para o ano que vem”, esclarece Vicentinho. Para ele, a causa da decisão do apoio aos R$ 545 é a manutenção da palavra entre as partes. “Na minha experiência como sindicalista a vida inteira, briga é briga mas, quando se faz acordo, ele precisa ser cumprido”, pontua.

Segundo Vicentinho, a decisão da base sindicalista vai ao encontro do que foi previamente conversado. Porém, não descartou a possibilidade de uma mudança de estratégia decorrente de um novo acordo. “Se houver um novo acordo entre as centrais e o governo, eu apoiaria com toda certeza. Mas se não houver, vou votar conforme o que foi discutido nas reuniões porque é importante valorizar a palavra, senão as centrais vão perder a confiança para as reuniões que virão”, pondera.

O deputado expressou que considera o reajuste para R$ 545 favorável se colocado em conjunto com a política de valorização do salário mínimo apresentada pelo governo e centrais. “Na Câmara há uma discussão sobre a importância dos debates. Embora seja um bom acordo, o salário mínimo ainda precisa ser maior, por isso tem essa política de valorização até 2014”, defende.

Vicentinho descarta a possibilidade de a posição dos deputados egressos do movimento sindical prejudicar a relação com as centrais sindicais. “Falei com o presidente da CUT e dos Metalúrgicos (do ABC) e expliquei minha posição. Eles entenderam a situação, mas acordo feito tem que ser cumprido”, justificou o parlamentar, que presidiu tanto a central como o sindicato. “Não acredito que possa haver animosidade entre nós (da Câmara) e as centrais – o acordo foi discutido entre eles e o governo. Não acredito que é comprar briga, porque nada que é acordado é caro”.

Otimismo

Em contrapartida, os representantes das centrais têm demonstrado otimismo quanto à postura dos deputados de origem sindical. Para Wagner Gomes, presidente da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), os deputados tendem a se posicionar a favor de um salário mínimo maior que R$ 545 apesar da sinalização dos parlamentares ser de apoio à decisão do governo. “Por eles serem de origem trabalhadora, eu acredito que haverá movimentação para algo melhor, porque ainda está longe de se decidir se será mesmo R$ 545”, disse.

Na terça-feira (8), o deputado e líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza (PT-SP), afirmou a união da base governista da Casa pela manutenção do discurso fixado. Segundo ele, a ideia entre os parlamentares é sugerir à presidente Dilma Rousseff que envie ao Congresso um projeto de lei que substituiria a medida provisória em vigor, para que o reajuste seja votado em regime de urgência para a próxima semana. Vaccarezza ainda ressaltou que a política de valorização do mínimo seria programado até 2014. “A presidente Dilma Rousseff se compromete, durante o seu mandato, a manter essa política”, defendeu.

Gomes vê as declarações do deputado como “comentários de conveniência”, em que o discurso do Palácio do Planalto influenciaria nas falas dos deputados. “Ele está fazendo o papel dele de dizer que o governo ganha, mas isso não está dado. Semana que vem a proposta do governo chega na Câmara e tanto os aposentados como as centrais estarão lá para tentar a conversa. Ainda tem grande chance desse número ser alterado”, disse.

O presidente nacional da CUT, Artur Henrique, pontuou a preferência na resolução de um consenso que favorecesse ambas as partes nas reuniões com o governo. “Nós queríamos priorizar a discussão com o Executivo. Mas, se o Executivo está mandando para Legislativo o debate do salário mínimo de 2011, nós vamos para dentro do Congresso disputar por lá e onde for necessário”, desafiou.