Riscos continuam

Pandemia: OMS põe fim ao estado de emergência sanitária de covid-19 no mundo

Fim da emergência global em saúde decorrente da pandemia do novo coronavírus e suas subvariantes vem após mais de três anos. Doença já matou mais de 700 mil no Brasil e 15 milhões no mundo

Bruno Kelly/Amazônia Real
Bruno Kelly/Amazônia Real
Cemitério em Manuaus. Amazonas esteve no centro da tragédia brasileira, onde faltou até oxigênio nos hospitais

São Paulo – A Organização Mundial da Saúde (OMS) decretou nesta sexta-feira (5) o fim da emergência sanitária internacional em saúde em decorrência da covid-19. A onda de contágios causada pelo novo coronavírus começou no final de 2019, a OMS decretou epidemia em 30 de janeiro e a pandemia em 11 de março de 2020. Pelas regras da agência, não existe uma declaração oficial do fim da pandemia. “Assim como a Aids, portanto, a covid-19 continuará a ter o status de pandemia”, observa o colunista Jamil Chade, no UOL.

Nesses mais de três anos, pelo menos 15 milhões de pessoas morreram devido às complicações. No Brasil, que tem os piores índices de mortalidade, o número passa de 700 mil. Ao todo, ao menos 800 milhões de pessoas foram oficialmente contaminadas no mundo, 37,4 milhões no Brasil (abaixo, os dados da pandemia de covid-19 no país).

Para chegar a essa decisão, a OMS considerou a conclusão de seus especialistas de que o vírus já não representa uma ameaça sanitária global. E que assim chegou o momento de oficialmente pôr fim à emergência que marca a mais longa pandemia dos últimos 100 anos, informa Chade.

O diretor-geral do órgão, Tedros Ghebreyesus, alertou que o fim do estado de pandemia não significa a extinção do novo coronavírus e suas subvariantes. Afinal, a cada três minutos, uma pessoa ainda morre pela doença em alguma parte do mundo. E que justamente por isso, governos precisam de todo cuidado ao fazer a chamada transição para a normalidade. Ou seja, voltar à rotina sem deixar de lado a vigilância e prevenção da doença .

Emergência da covid acabou, mas risco continua

“Uma das grandes tragédias é que não precisava ter sido assim”, disse Tedros, denunciando o fracasso da comunidade internacional nesses mais de três anos. “Perdemos vidas que não precisavam ter sido perdidas”, insistiu. “Precisamos prometer a nossos filhos e netos que não voltaremos a cometer esses erros”, disse.

O diretor-executivo da OMS, Michael Ryan, alertou que a emergência acabou, mas o risco continua. “Mas a ameaça não. A batalha não acabou”, disse. “O vírus continua a contaminar. Levou anos para que a pandemia de 1918 terminasse”, afirmou. “Na verdade, a história mostra que uma pandemia só termina quando outra aparece”, insistiu.

A covid-19 zombou de fronteiras, de ideologias e da postura de líderes supostamente “fortes” que se recusavam a aceitar a gravidade da crise. “Ninguém estava preparado”, disse Jarbas Barbosa, ex-diretor da Anvisa que atualmente dirige a Organização Pan-americana de Saúde (Opas).

Pandemia marcada por enterros coletivos e desigualdades no acesso ao cuidado

Os mais de três anos de pandemia da covid foram marcados inicialmente por medidas de lockdown em grandes capitais internacionais. Pela primeira vez o mundo viu ruas e metrôs vazios, cidades turísticas sem ninguém. E ao mesmo tempo reportagens mostrando hospitais lotados, caminhões frigoríficos para acondicionar corpos e tratores abrindo valas comuns. Seja na Vila Formosa, em São Paulo, em Manaus – onde o governo de Jair Bolsonaro deixou faltar até oxigênio – como em Nova York. Tudo em meio a disputas pela narrativa política pró e contra a ciência, as medidas preventivas, a falta de investimentos sociais.

A OMS esperava decretar o fim da pandemia há um ano. Nos primeiros meses da crise, em 2020, a expectativa do órgão era de que, até 2022, a pandemia perderia força. No entanto, houve um recrudescimento em 2021. Uma segunda onda veio aonda mais forte. Para piorar, os países pobres foram os últimos a receber as vacinas.

Novo coronavírus veio para ficar

A desigualdade na distribuição do imunizante, aliás, é um dos capítulos mais mais dolorosos da crise. E um exemplo do fracasso da comunidade internacional, na avaliação do diretor da OMS. Segundo ele, as desigualdades no acesso a intervenções que salvam vidas também continuam a colocar milhões de pessoas em todo o mundo em risco desnecessário, principalmente as mais vulneráveis.

“E a fadiga da pandemia ameaça a todos nós. Todos nós estamos doentes e cansados dessa pandemia e queremos deixá-la para trás”, afirmou. “Mas esse vírus veio para ficar, e todos os países precisarão aprender a gerenciá-lo juntamente com outras doenças infecciosas”, completou.

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Redação: Cida de Oliveira