Retrato

Destemida Dama da Noite

mauricio morais Djanira Maria de Jesus, de 59 anos, é uma dos 32.700 taxistas ativos da cidade de São Paulo. Apelidou-se de Dama da Noite porque só gosta de trabalhar […]

mauricio morais

Djanira Maria de Jesus, de 59 anos, é uma dos 32.700 taxistas ativos da cidade de São Paulo. Apelidou-se de Dama da Noite porque só gosta de trabalhar depois das 22 horas. A ex-funcionária pública percorre as ruas da capital há 12 anos e só decidiu trabalhar na praça depois de se aposentar. “Eu me sentia muito solitária, sem ter o que fazer.” Vendeu o telefone, na época em que uma linha telefônica era um patrimônio razoável, e tricotou muito na máquina que tinha em casa para poder comprar seu primeiro carro de trabalho, que de tão velho mal andava. Djanira já sofreu dois assaltos e perdeu dois colegas assassinados. Mas garante que não tem medo: “Minha proteção é forte”.

Vai para todos os lugares, exceto três ou quatro bairros da capital paulista, que considera afastados demais e com índices de violência muito altos. “Quando sinto um arrepio ou desconfio, não paro. Prefiro receber chamada por telefone.” Seu filho Robson de Jesus Barbosa, de 30 anos, segue a profissão da mãe e do pai, ex-marido da taxista. Mãe e filho dividem o carro. Ele faz corridas diurnas. “Para ser taxista em São Paulo à noite tem que ser muito mulher. Enquanto tiver saúde, não troco isso por nada”, diz ela, que ainda pretende fazer faculdade de Serviço Social. Ou de Psicologia, brinca a Dama da Noite, já que o banco do seu carro muitas vezes se transforma em divã dos passageiros.