Em movimento

Vilma Reis, pré-candidata do PT em Salvador, enfrenta a hegemonia branca na política

Socióloga pretende se tornar a primeira mulher negra prefeita da capital baiana, cidade que concentra o maior percentual de negros no país. "Não haverá nada sobre nós, sem nós"

José Eduardo Bernardes/Brasil de Fato
José Eduardo Bernardes/Brasil de Fato
"Nós apostamos numa virada no Brasil. Essa virada precisa acontecer nos nossos partidos", diz a socióloga

São Paulo – A socióloga Vilma Reis, integrante da Coalizão Negra por Direitos, pretende ser a primeira mulher negra prefeita de Salvador. Pré-candidata pelo PT, ela afirmou que é hora de interromper a hegemonia branca na política. Ao Brasil de Fato, ela disse não se tratar de um projeto pessoal, mas uma demanda do movimento negro, na capital mais negra do país. Ela destacou que a população branca representa apenas 15% dos habitantes da cidade, e os homens brancos, “os herdeiros da colonização”, são um grupo menor ainda.

“Nós, do movimento de mulheres negras, em um ato de desobediência colonial e patriarcal, decidimos interromper essa hegemonia absoluta”, afirmou aos jornalistas Igor Carvalho e José Eduardo Bernardes. Vilma classificou como “um acinte,  uma vergonha e um absurdo”, para os baianos, para o mundo e também para a esquerda brasileira, o fato de a capital baiana nunca ter sido governada por um negro.

Ela destaca que a hegemonia branca é também um problema a ser enfrentado dentro dos partidos de esquerda. Na disputa interna no PT, ela terá sua candidatura confrontada com a o ex-ministro da Cultura Juca Ferreira, que também foi secretário de Cultura em Belo Horizonte até o mês passado, da qual desligou-se quando anunciou a intenção de se candidatar à prefeitura de Salvador. O PT ainda não definiu o nome para disputar a sucessão de ACM Neto (DEM), representante da oligarquia branca da Bahia.

“Todas as carreiras dos brancos progressistas nesse país nós construímos, todas. O nosso entendimento agora é que não é mais possível nos pedir para esperar, toda a construção dos movimentos que vêm da rua para dentro dos partidos é que não haverá nada sobre nós, sem nós. Esse é o desafio que nós estamos construindo com bases muito consolidadas”, disse a pré-candidata.

Ela lembrou a filósofa e antropóloga Lélia Gonzalez para destacar que a presença das mulheres negras nos espaços de poder é importante para toda a sociedade. “Nós não lutamos por uma sociedade para nós, lutamos por uma sociedade para todos. E também citou a filósofa norte-americana Angela Davis: “Quando as mulheres negras se movem, movem toda a sociedade”.

Vilma Reis destacou que a transformação já é perceptível nas universidades e defensorias, como resultado das políticas afirmativas. “Esse último bastião precisa ser modificado, o do poder nos partidos, quase todos eles controlados por brancos, brancos de direita e brancos de esquerda.”

Confira a íntegra da entrevista.