tiro no pé

Vannuchi: ‘Aprovação da terceirização na Câmara foi vitória com peso de derrota’

Segundo o analista, além do racha provocado no PMDB, terceirização indiscriminada satisfaz apenas empresários 'míopes', que não enxergam os efeitos negativos da redução da massa salarial que provocará

Gustavo Lima/ Câmara dos Deputados

Vannuchi: ‘Senado pode mexer profundamente no projeto de lei, e manifestação aumentará a mobilização contra a PL’

São Paulo – Em sua coluna de hoje (24) na Rádio Brasil Atual, o analista político Paulo Vannuchi afirmou que a aprovação do Projeto de Lei (PL) 4.330, sobre terceirização, aprovado pelo plenário da Câmara dos Deputados na quarta-feira (22), é uma “vitória de Pirro”, pois desencadeou uma desavença entre os presidentes da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). “Foi uma vitória com peso de derrota, já que os dois há um mês estavam unidos”, avaliou, considerando a chamada Lista de Janot, em que o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, citava ambos em seu relatório sobre a Operação Lava Jato.

“Surpreendentemente, Renan Calheiros foi à imprensa dizer que o PMDB ajudou a incluir o artigo 5º na Constituição brasileira, que é o artigo que diz que todos são iguais perante a lei. Entretanto, ‘a lei da terceirização acaba com isso’, ou seja, passa a existir dois direitos diferentes na mesma linha do produção, pois serão dois salários diferentes para o mesmo tipo de trabalho. O presidente do Senado também afirmou que pode segurar a votação, porque ‘ela deve ser calma’ e isso pode durar até dois anos”, relatou Vannuchi.

O analista destacou que o Senado pode mexer profundamente no PL, e que a manifestação dos trabalhadores na próxima semana, parte dos eventos programados para o 1º de Maio, aumentará a mobilização contra a tentativa de liberar a terceirização indiscriminadamente.

Para Vannuchi, a direita está mostrando força, ao conseguir que as propostas da esquerda contra o projeto não sejam apresentadas ou debatidas. “Faltava o movimento político da direita, contra os direitos dos trabalhadores, pois sentiram um ambiente positivo, através da liderança de Eduardo Cunha, para passar a toque de caixa utilizando o projeto de lei de Sandro Mabel, o empresário goiano da área de biscoitos, que nem é deputado mais. Anteontem, uma aliança de Eduardo Cunha com o deputado Paulo Pereira, da Força Sindical, bloqueou a tentativa da esquerda de votar destaques e passou o trator por cima.”

O comentarista afirmou ainda que o presidente da Câmara está fazendo de tudo para conseguir cumprir o prometido aos empresários que financiaram sua campanha, porém quem sairá perdendo são os donos das empresas, caso o projeto seja aprovado.

“Eduardo Cunha tem uma agenda que amealhou uma fortuna em financiamentos de campanha. Sendo assim, ele comprometeu-se a entregar em até 120 dias o combinado com os empresários. Os homens de negócios míopes, não enxergam que, no primeiro momento, a redução de salário traz lucro mas, caindo a massa salarial, a massa de compra e venda também cai, afetando todas as áreas. É um verdadeiro tiro no pé”, concluiu.

Ouça o comentário de Paulo Vannuchi para a Rádio Brasil Atual