sem transparência

Alckmin manobra para esvaziar CPI sobre corrupção entre cartéis e empresas públicas

Criada há quase um mês na Assembleia Legislativa, CPI da Eletropaulo ainda não foi instalada porque integrantes da base governista não comparecem às sessões da comissão

Marcello Casal Jr/Agência Brasil

Contratos terceirizados na Eletropaulo podem ter os mesmos vícios do Metrô

São Paulo – Ao contrário do discurso e da promessa de investigar as denúncias de corrupção envolvendo empresas estrangeiras e companhias estaduais de São Paulo, entre elas o Metrô, o governador Geraldo Alckmin (PSDB) tem trabalhado para impedir que qualquer investigação ocorra na Assembleia Legislativa de São Paulo – inclusive sobre possíveis esquemas paralelos dentro da máquina administrativa.

Há quase um mês, a base do governador na Assembleia tem usado estratégias de esvaziamento para impedir a instalação da CPI para apurar, entre outras suspeitas, os contratos de terceirização da AES Eletropaulo, que poderiam desembocar no cartel denunciado pela multinacional Siemens. A CPI teve a criação aprovada em 12 de setembro e já foram realizadas 13 convocações dos parlamentares para instalá-la, sem sucesso.

Segundo a deputada Vanessa Damo (PMDB), o líder do governo tucano na Assembleia, deputado Barros Munhoz (PSDB), a teria procurado para dizer que o governo não tem interesse na criação da comissão. “Isso deixa muito claro que há algo a esconder”, afirmou. O tucano não retornou ao pedido de entrevista da RBA.

Para Vanessa, a preocupação pode estar relacionada ao fato de que a AES mantém contratos com empresas ligadas ao esquema de propina envolvendo os governos tucanos de Mário Covas (1994-1998), José Serra (2007-2010) e Geraldo Alckmin (1999-2006 e 2011-2014). “Há empresas que prestam serviços à Eletropaulo e estão relacionadas na denúncia de cartel. Mas isso devia ser mais um motivador da investigação”, afirmou.

Os membros da CPI já foram indicados pelos partidos – sendo a maioria governista – mas não houve quórum em nenhuma das 13 reuniões convocadas, o que faz com que até agora a comissão não tenha nem presidente, nem vice-presidente, nem relator.

A deputada, que é candidata à presidência da comissão, considera uma “manobra canalha” o esvaziamento do colegiado antes mesmo de sua instalação.

“Estou há um mês tentando instalar a CPI. O que eles esperam é que eu saia em licença-maternidade para colocar um presidente aliado e a comissão não funcionar definitivamente”, protestou. Vanessa está no nono mês de gestação e deve entrar em licença nos próximos dias.

Sete dos nove membros da comissão são da base do governador: Orlando Morando (PSDB), João Caramez (PSDB), Regina Gonçalves (PV), Roberto Morais (PPS), Marcos Neves (PV) — substituído por Ed Thomaz (PSB) — e Estevam Galvão (DEM). Para Vanessa, o não comparecimento é uma ação orquestrada.

“É lamentável a intromissão do Executivo nos trabalhos do Legislativo impedindo uma investigação que é importante para todo o estado”, afirmou.

Os outros dois membros são os petistas Luiz Cláudio Marcolino — substituído por Alencar Santana — e José Zico Prado. Deles, somente Prado compareceu a algumas convocações, segundo Vanessa.

Nenhum deputado respondeu ao questionamento da RBA sobre os motivos de não terem atendido às convocações. A assessoria do deputado Estevam Galvão informou que a equipe dele comparece as sessões pois, como líder do partido, ele tem muitos compromissos e não consegue comparecer em todos eles.

Vanessa disse que vai apresentar um requerimento ao presidente da casa, deputado Samuel Moreira (PSDB), exigindo a instalação da CPI ainda hoje (9).

“A presidência tem o dever regimental de colocar em funcionamento uma comissão aprovada, mesmo que para isso tenha de propor a substituição de seus membros”, afirmou. A comissão tem funcionamento de 120 dias, mas já perdeu um quarto do tempo de atuação com essa situação.

A CPI da Eletropaulo foi criada no mesmo pacote em que foram instaladas outras duas, para apurar as causas da violência contra a mulher e o desaparecimento de pessoas. Com a instalação delas não foi possível criar a comissão para investigar as denúncias de corrupção no Metrô paulistano. Os deputados de oposição ao governo Alckmin denunciaram a aprovação destas comissões como manobra para evitar investigações verdadeiras.

O comissão tem como proposta analisar o cumprimento da Resolução 414/10 da Agência Nacional de Energia Elétrica, que estabelece as condições para o fornecimento de energia elétrica e o andamento da ação civil pública movida pela Procuradoria Geral do Estado (PGE) e a Fundação Procon-SP, por conta da má prestação de serviço da empresa. Também vai analisar a ampliação das redes elétricas, a suspeita de formação de cartel no processo de concessão, além dos contratos de terceirização.