Farra

Parlamentares bolsonaristas usam R$ 127 mil dos cofres públicos em eventos na Europa

Ciclo de palestras em setembro e outubro conta com participação dos bolsonaristas Flávio Bolsonaro, Bia Kics e General Pazuello, entre outros

Reprodução/Redes Sociais
Reprodução/Redes Sociais

São Paulo – Eventos bolsonaristas realizados desde setembro em cidades europeias são financiados parcialmente com recursos públicos. Segundo reportagem divulgada nesta sexta-feira (13) pela Agência Pública, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), a deputada federal Bia Kicis (PL-DF) e a estadual de Santa Catarina, Ana Campagnolo (PL-SC), são os convidados de seminário neste sábado em Madri, na Espanha. O encontro encerra o ciclo Veritas Liberat, apoiado pelo grupo Yes Brazil USA.

Tratam-se de encontros para aproximar parlamentares bolsonaristas de congressistas conservadores de outros países. Neles é comum a disseminação de desinformação. Em 24 de setembro, em Zurique, o deputado federal General Pazuello (PL-RJ), ex-ministro da Saúde no governo de Jair Bolsonaro (PL), questionou a apuração dos votos nas eleições presidenciais pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

E afirmou que “é importantíssimo o voto impresso”, rejeitado pela Câmara dos Deputados em 2021. “A Constituição é clara: o voto é secreto, mas a apuração é pública. Será que a apuração está sendo pública? Será que estamos cumprindo a Constituição no que prescreve a apuração pública dos votos? A contabilização e apuração pública?”, perguntou. 

Naquele mês de setembro houve eventos também nas cidades italianas de Novara e Roma, além do de Zurique, na Suíça. No último dia 10, foi em Lisboa.

Farra de bolsonaristas em cidades europeias pagas pelo erário

De acordo com a Pública, os parlamentares gastaram mais de R$ 127 mil do contribuinte para irem aos eventos. O filho zero 1 de Bolsonaro, Flávio Bolsonaro, gastou mais de R$ 11 mil em passagens para a Espanha e R$ 9 mil em diárias no país. Ele viajou em 11 de outubro e volta ao Brasil no dia 16. Segundo a Pública, o senador foi autorizado a viajar com dinheiro público pelo presidente da Casa, senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG), como determina o regimento do Senado para viagens em missão oficial. 

O deputato General Pazuello (PL-RJ) gastou mais de R$ 27 mil com passagens e diárias, pagas pela Câmara dos Deputados. Ele participou também dos seminários em Roma e Novara, na Itália, entre os dias 20 e 26 de setembro. Marcado pelo escândalo por ter deixado faltar oxigênio para os pacientes de covid em Manaus, o general dividiu a mesa com os deputados Ana Campagnolo e Coronel Alberto Feitosa, que também pagaram suas idas com dinheiro público. Feitosa gastou R$ 14,8 mil em diárias entre 20 e 25 de setembro, quando compareceu aos congressos na Itália e Suíça. 

Na cidade italiana de Novara, Feitosa reproduziu fake news bolsonaristas, como a que afirmava que a sigla “CPX”, bordada em um boné usado por Lula, era ligada a uma facção criminosa. Na verdade, o termo significa “complexo” e se refere a grupos de favelas, como o Complexo do Alemão – onde o presidente estava em campanha quando usou o boné. 

Já Campagnolo viajou para a Suíça no dia 20 de setembro acompanhada de seu assessor, Douglas Pereira Lopes. Os dois gastaram mais de R$ 36 mil com diárias e passagens. No relatório de viagem, descreveram o seminário como um “evento oficial” onde haveria “reunião/visita com lideranças/entidades”. Voltaram ao Brasil em 26 de setembro, e no dia 5 do mês seguinte, a deputada foi novamente à Europa para comparecer aos seminários de Lisboa e Madri. A segunda ida de Campagnolo custou ao todo mais de R$ 28 mil aos cofres do estado de Santa Catarina. No total, Campagnolo gastou R$ 65 para ir aos eventos. 

Além de fake news, conceitos distorcidos

A deputada, que se diz “antifeminista”, falou sobre feminismo e criticou o conceito de violência política de gênero. “Alguém lá na faculdade criou o termo de violência política de gênero, que basicamente consiste em discordar de uma mulher. Se discordou de uma mulher e ela é política, é violência política de gênero”, disse a deputada.

O senador Jorge Seif (PL-SC) também iria ao evento e havia comprado passagens e seguro-viagem com dinheiro do Senado, no total de R$ 40 mil. Porém, cancelou a ida devido às enchentes em Santa Catarina, segundo sua assessoria. Questionada se o dinheiro será devolvido, a assessoria afirmou “acreditar que sim”.

Além dos parlamentares bolsonaristas já citados, a deputada Bia Kicis (PL-DF), e o deputado Gustavo Gayer (PL-GO) também constam como palestrantes dos congressos nas cidades europeias neste mês de outubro. Mas não haviam declarado gastos via cota parlamentar.

O Yes Brazil USA foi criado por um casal próximo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) Larissa e Mário Martins. No início do ano, quando ele estava em Orlando, para onde fugiu antes de passar a faixa ao presidente Lula, o grupo promoveu vários eventos dele e cuidou da sua agenda. Bolsonaro, aliás, também participou dos seminários Veritas Liberat, embora virtualmente. No de Zurique, falou ao vivo, por meio de uma chamada de vídeo.

Redação: Cida de Oliveira, com Agência Pública


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