Cenário para 2022

Com desaprovação recorde, Bolsonaro tende a manipular debate para atacar adversários

Para cientista político, Bolsonaro “sobrevive” com cerca de um terço de popularidade, para em 2022 tentar utilizar as redes sociais contra seu principal adversário, o ex-presidente Lula

Isac Nóbrega/PR
Isac Nóbrega/PR
Embora elaborada, a estratégia pode não surtir os efeitos esperados. Segundo cientista, Lula deve ser menos refém do processo de desinformação que garantiu a vitória de Bolsonaro

São Paulo – Para o professor de Ciência Política da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), coordenador do Núcleo de Estudos sobre a Democracia Brasileira, Josué Medeiros, há o risco de em 2022 o presidente Jair Bolsonaro, por conta de sua desaprovação contínua e crescente, repetir sua atuação em 2018 e manipular o debate público para aumentar a rejeição de seus adversários políticos em um cenário eleitoral. 

Em entrevista ao Jornal Brasil Atual, nesta terça-feira (6), o especialista comparou a perda de popularidade do mandatário, indicada ontem pela pesquisa CNT/MDA, com a rejeição ao seu nome ainda nas eleições presidenciais, há três anos. À época, institutos de pesquisas o apontavam com uma taxa de rejeição superior aos demais, que variava de 40% a até 59%. Mesmo assim, Bolsonaro terminou derrotando o candidato opositor, Fernando Haddad (PT), invertendo a rejeição contra o petista às vésperas da eleição. 

Como presidente, porém, ele também vem marcando seu governo com uma crescente reprovação. Mais da metade dos entrevistados, 57,2%, segundo o levantamento da CNT/MDA, desaprovam seu governo principalmente pela condução da pandemia de covid. Até fevereiro, a rejeição estava em 42%. Ainda assim, Bolsonaro conserva o potencial de votos para a sua reeleição de até 34,5%. 

Estratégia pode não ter êxito

A avaliação do especialista é que o presidente, neste momento, “sobrevive para chegar em 2022 com essa faixa de 25% a 30% (dos votos) que ele apresentou na pesquisa, porque, se ele chega na eleição nesse patamar, ele poderá colocar em prática essa estratégia de utilizar as redes sociais e uma mobilização que não é necessariamente a favor dele, mas contra seu principal adversário, que no caso é o ex-presidente (Luiz Inácio Lula da Silva)  do PT”, aponta Medeiros, sobre o petista que lidera as intenções de voto para 2022, com 52,5%, e com a menor rejeição, de 44,5%, frente a outros cinco nomes cogitados. 

Embora elaborada, a estratégia pode não surtir os efeitos esperados pelo bolsonarismo. O cientista político analisa que a disputa eleitoral no próximo ano deve consolidar um candidato já conhecido da população. Nesse caso, o ex-presidente Lula sai na frente e fica menos refém do processo de desinformação que garantiu a vitória de Bolsonaro em 2018. 

“Em 2022 já está consolidado que as pessoas estão buscando estabilidade, segurança, confiança e aí quem conseguir ativar uma memória de um governo que funcionou em várias dimensões, como é o caso do ex-presidente Lula, tende a ser importante na disputa eleitoral”, afirma Medeiros. 

O que explica o apoio a Bolsonaro

O professor da UFRJ não descarta, contudo, a força do bolsonarismo. Para ele “é muito impressionante que um terço da população siga vinculado a um projeto com esse nível de destruição”. As razões para isso, conclui, são antes de tudo históricas. “Resulta de processos que a gente não resolveu na nossa redemocratização, como a questão da violência na nossa democracia. Não fizemos a Comissão da Verdade nos anos 1980, não punimos os torturadores, isso produz uma naturalização da violência como método de resolução de conflitos que não é cabível em um regime democrático. Mas que foi sendo alimentada pelo próprio Bolsonaro, sua trajetória política vem disso como parlamentar”. 

Medeiros acredita, entretanto, que é possível reverter esse apoio. “Nossa tarefa como defensores da democracia é mostrar que essa destruição que ele (Bolsonaro) faz só piora a vida das pessoas”. 

Confira a entrevista

Redação: Clara Assunção – Edição: Helder Lima