Crias da mentira

Boris Johnson é parte de uma direita insustentável pela via democrática

Boris Johnson, Donald Trump e Jair Bolsonaro têm em comum a falta de um projeto de nação que as democracias sérias não admitem

EBC/Wikkicommons
EBC/Wikkicommons
Brasil, EUA e Inglaterra têm em comum uma extrema direita incapaz de promover um projeto de nação

São Paulo – Expoentes da extrema direita no mundo, como Boris Johnson, Donald Trump e Jair Bolsonaro, têm muitas questões em comum. Elas vão além do moralismo e das pautas econômicas que concentram riqueza e multiplicam pobreza. Um dos principais pontos de convergência entre eles é a incapacidade de manter o poder pela via democrática. Ou é na base da mentira, ou do golpe.

Boris Johnson, que renunciou hoje (7) ao cargo de primeiro-ministro do Reino Unido, vem da mesma indústria de fake news e de guerras híbridas que criou Donald Trump, Bolsonaro, Viktor Orbán (na Hungria) e Mateo Salvini (na Itália). São frutos de um sistema de interpretação de algoritmos, de interpretações psicológicas das massas pela captura de seus perfis no mundo virtual. A missão de Johnson no Reino Unido foi das uma obras da ação global difundida por Steve Bannon. Mas o produtor de campanhas como as de Trump e da família Bolsonaro foi, antes de marqueteiro da extrema direita, banqueiro de investimentos, ex-Goldman Sachs.

O ex-premier inglês renunciou após 30 ministros e auxiliares terem caído em escândalos. Johnson participou de festas fechadas durante os piores momentos da pandemia de covid-19, mas caiu por acobertar escândalo sexual do líder indicado por ele para o parlamento, Chris Pincher. Mais cedo ou mais tarde, em uma democracia madura, pessoas com esse caráter não se sustentam.

Boiadas e outras missões

No Brasil, vemos que Bolsonaro fracassou por mais de três anos. Mas enquanto fracassou na economia, que hoje pune a maioria, fez a reforma da Previdência, agravou a retirada de direitos trabalhistas, multiplicou o desmatamento na Amazônia, passou a boiada, proliferou a distribuição de armas para “caçadores e colecionadores” e outros tipos de atiradores. Como os que mataram Bruno Pereira e Dom Phillips. Ou seja, ainda que seja derrotado nas urnas, já fez boa parte do serviço sujo que a direita tenta fazer há décadas. Assim também foi com Johnson, que sai por baixo, mas depois de cumprir a missão do Brexit, a exclusão da Grã-Bretanha da União Europeia.

As tentativas da direita não se esgotam em torno de apropriação do poder pela imposição de valores morais. Porque há também interesses financeiros e privados só satisfeitos pelo sequestro do poder público. Ou seja, Brasil, Estados Unidos e Inglaterra tiveram em comum nos últimos anos uma extrema direita incapaz de promover um projeto de nação. Assim, se posiciona a partir de mentiras, fake news, estratégias cibernéticas e golpes. Como o que Trump tentou no Capitólio depois de perder nas urnas, ou como o que seu fã brasileiro ameaça fazer por aqui.

Confira análise do editor da RBA Paulo Donizetti de Souza no Bom Para Todos, da TVT


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