Livros didáticos X material digital

Tarcísio descarta substituir secretário que quer acabar com os livros didáticos nas escolas de São Paulo

Governador de São Paulo, ligado a Bolsonaro, classifica seu secretário de Educação como “preparadíssimo”. Feder quer acabar com os livros didáticos em 2024, mas modelo digital sequer foi apresentado

Arquivo/EBC
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Governo paulista não que usar livros didáticos do MEC em 2024, mas não revela como novo material está sendo elaborado

São Paulo – Apesar da polêmica criada com o anúncio de que irá acabar com os livros didáticos nas escolas públicas de São Paulo, o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) afirmou que manterá Renato Feder à frente da Secretaria de Educação. Em entrevista ao jornal O Estado de São Paulo, o governador bolsonarista descartou fazer a substituição de Feder.

O secretário recusou o recebimento de 10 milhões de livros didáticos para uso em 2024 em toda a rede estadual. O material seria entregue pelo Ministério da Educação (MEC). Além disso, Feder afirmou que os alunos da rede pública estadual terão de copiar slides projetados pelos professores em sala de aula, como forma de acompanhar as disciplinas.

Feder, de acordo com reportagem do próprio Estadão, é investigado por conflito de interesses. A empresa da qual é sócio vende notebooks para a secretaria que ele comanda desde janeiro. O secretário é um dos donos da empresa Multilaser, que detém três contratos com a Secretaria de Educação paulista para o fornecimento de 97 mil notebooks às escolas do estado. São três contratos, que somam mais de R$ 75 milhões.

Governador bolsonarista elogia atitude de secretário

Uma investigação sobre o custo desses contratos e a qualidade do material que o governo Tarcísio quer usar em substituição aos livros didáticos já foi aberta pelo Ministério Público do Estado.

Em conversa com o Estadão, Tarcísio classificou o secretário como “preparadíssimo, estudioso, entusiasmado e idealista”. Ele acrescentou que Feder “tem sua admiração e respeito” e que “a chance” de ser substituído é “zero”. O governo paulista teria gasto zero com os 10 milhões de livros didáticos, uma vez que o material é comprado e distribuído pelo MEC.

Em substituição aos livros didáticos, os alunos da rede pública passarão a copiar as matérias que serão exibidas em televisores dentro das salas de aula. De acordo com a proposta anunciada por Tarcísio e Feder, cada conteúdo estaria organizado em cerca de 20 slides. O professor teria o conteúdo da disciplina disponível em seu celular ou computador e então faria a projeção disso numa televisão dentro da sala de aula.

De acordo com o jornal paulista, Tarcísio disse que além de ter de copiar as matérias projetadas nas salas de aula em aparelhos de televisão, os alunos também teriam disponíveis tablets e/ou material impresso. Entretanto, não são todas as escolas paulistas que têm à disposição televisores, tablets, impressoras ou mesmo papel para impressão.

Qualidade do material

Para recusar os livros do MEC, Feder vem questionando a qualidade do material do Programa Nacional do Livro Didático (PNLD), utilizado há décadas nas escolas brasileiras e distribuídos pelo MEC. Mas não explica quais os parâmetros dessas análises.

A produção do material didático do MEC passa pelo crivo de especialistas de várias áreas, editores e educadores, o que garante qualidade e credibilidade. Ao substituir os livros por material próprio e digital, Feder e Tarcisio não explicaram como estão sendo produzidos ou como garantir a qualidade desse material digital. Nem mesmo houve explicação se a nova modalidade seguirá o que dispõe a Base Nacional Comum Curricular.

A BNCC é uma norma utilizada em toda rede de ensino brasileira e suas instituições públicas e privadas. Trata-se de uma referência obrigatória para elaboração dos currículos escolares e propostas pedagógicas para a educação infantil, ensino fundamental e ensino médio no Brasil.

Em países europeus, como a Suécia, que chegaram a adotar o modelo digital de educação agora proposto pelo governo paulista, estão retornando ao modo analógico, com os livros didáticos em papel. A justificativa é a baixíssima eficiência da proposta que Tarcisio e Feder querem passar a usar a partir de 2024.