reviravolta

Governo anula leilão para importação de arroz após suspeitas

Ainda sem data definida, um novo leilão, com mecanismos aperfeiçoados de controle, será realizado para garantir arroz a preço justo na mesa dos brasileiros. Secretário da Agricultura pediu demissão

Marcello Casal Jr/Agência Brasil
Marcello Casal Jr/Agência Brasil
Maioria das empresas vencedoras do leilão não tinha afinidade com o setor

São Paulo – O presidente da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), Edegar Pretto, anunciou nesta terça-feira (11) a anulação do leilão para compra de arroz importado. Questionamentos sobre as capacidades técnicas e financeiras por parte das empresas vencedoras motivaram o cancelamento. Os ministros Carlos Fávaro (Agricultura) e Paulo Teixeira (Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar) também participaram do anúncio, após reunião com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

O governo vai realizar um novo leilão, ainda sem data definida. Desse modo, o novo certame vai contar com apoio da Controladoria Geral da União (CGU), da Advocacia-Geral da União (AGU) e da Receita Federal.

“Nós vamos realizar outro, quem sabe em outros modelos, para garantir que nós vamos contratar empresas com capacidade. Não tinha como a gente depositar esse dinheiro público sem ter as reais garantias que esses contratos posteriores serão honrados”, disse Pretto.

Conforme Fávaro, a avaliação do governo é que a maioria das empresas vencedoras apresentava “fragilidades”. Ou seja, “não têm capacidade financeira de operar um volume financeiro desse tamanho”, segundo o ministro. “Nós vamos construir mecanismos para que a gente possa avaliar antes quem vai participar, exigir capacidade financeira das empresas e experiência na área”, acrescentou.

As mais de 260 mil toneladas de arroz que o governo arrematou na semana passada correspondem a 87% das 300 mil toneladas autorizadas nesta primeira operação. No total, mais de R$ 7 bilhões foram liberados para a compra de até 1 milhão de toneladas.

O leilão do arroz tem como objetivo amenizar os impactos do preço do produto ao consumidor final diante da tragédia climática no Rio Grande do Sul. O estado gaúcho é responsável por 70% da produção nacional do grão.

Secretário demitido

Além disso, o secretário de Política Agrícola, Neri Geller, pediu demissão nesta manhã. Em seguida, Fávaro confirmou a exoneração do assessor. Acabou recaindo sobre Geller a responsabilidade pelos problemas no leilão. Isso porque a FOCO Corretora de Grãos, principal corretora do leilão, é do empresário Robson Almeida de França, que foi assessor parlamentar de Geller na Câmara. Ele também é sócio de Marcello Geller, filho do secretário, em outras empresas.

“Ele (Geller) fez uma ponderação que, quando o filho dele estabeleceu a sociedade com esta corretora lá de Mato Grosso, ele não era a secretário de Política Agrícola, portanto, não tinha conflito ali. E que essa empresa não está operando, não participou do leilão, não fez nenhuma operação, isto é fato. Também não há nenhum fato que desabone e que gere qualquer tipo de suspeita, mas que, de fato, isso gerou um transtorno e, por isso, ele colocou hoje de manhã o cargo à disposição”, explicou Fávaro.

Além disso, empresas sem afinidade com a importação de gêneros agrícolas saíram vencedoras do leilão, aumentando as suspeitas de irregularidade. “Somente depois que o leilão é concluído, na hora da assinatura, é que a gente fica sabendo quem são as empresas vencedoras”, explicou Pretto. “A partir da revelação de quem são essas empresas, começaram os questionamentos se verdadeiramente essas empresas teriam capacidade técnica e financeira para honrar os compromissos.”