Comunicação

Violência contra jornalistas despenca sem Bolsonaro, mas realidade segue preocupante

Para a federação da categoria, mudança de governo representou o fim de um período de “violência institucional”. Número de casos em 2023 foi 52% menor

Antonio Cruz/Agência Brasil
Antonio Cruz/Agência Brasil

São Paulo – O Relatório da Violência contra Jornalistas e Liberdade de Imprensa no Brasil, da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), mostra que o número caiu significativamente em 2023, para 181 – 51,86% a menos em reação ao ano anterior. A diferença coincide com a mudança de governo. O ex-presidente figura como responsável, em grande medida, pela hostilidade aos profissionais da comunicação.

“Os casos de violência contra os jornalistas e os ataques às liberdades de imprensa e de expressão, que tiveram crescimento alarmante, de 2019 a 2021, e uma pequena queda em 2022, foram reflexos do tempo de exceção pelo qual o país passou, ainda que muitos insistiam em afirmar que as instituições democráticas estavam funcionando”, diz a Fenaj. “O ciclo de Bolsonaro na Presidência da República foi um período em que houve a institucionalização da violência contra jornalistas, por meio da Presidência da República, com a prática sistemática de descredibilizar a imprensa e atacar seus profissionais”, acrescenta a entidade no relatório.

“Explosão” de casos em 2020

Assim, de 2018 para 2019 (primeiro ano do mandato do ex-presidente), o número de casos de violência contra jornalistas saltou de 135 para 208, crescimento de 54,07%. E em 2020 esse número teve uma “explosão”, como classifica a Fenaj: 428, aumento de 105,77% sobre o ano anterior.

Já em 2021, houve estabilidade. Mas, ainda assim, as 430 ocorrências representaram novo recorde da série histórica, iniciada em 1999. No último ano de gestão bolsonarista, o número recuou para 376.

Estímulo à violência

“Nos quatro anos em que Bolsonaro ocupou a Presidência da República, ele próprio foi o principal agressor, atacando pessoalmente a imprensa e incentivando seus apoiadores a também se tornarem agressores”, aponta a Fenaj. “De 2019 a 2022, Bolsonaro realizou 570 ataques a veículos de comunicação e aos jornalistas, numa média 142,5 de agressões por ano; uma agressão a cada dois dias e meio. A violência verdadeiramente
institucionalizada pela Presidência da República.”

No ano passado, entre as regiões do país, o Sudeste concentrou 47 dos 181 casos – 25,97% do total. Logo depois vem o Nordeste, com 45 (24,86%). Na sequência, as regiões Sul (30 casos, 16,57%), Centro-Oeste (40, 22,10%) e Norte (19, 10,50%). Os estados de São Paulo e do Rio de Janeiro lideram, com 21 (11,60%) e 18 casos (9,94%), respectivamente.

Profissionais de TV são os mais atingidos

Segundo o relatório, os jornalistas que trabalham em televisão foram os mais atingidos pela violência em 2023, assim como no ano anterior: 81 profissionais – repórteres e repórteres cinematográficos – atacados (29,35% do total). Mas o número caiu em relação a 2022 (160). Por outro lado, houve aumento de casos na mídia digital (portais, sites, blogs, plataformas), de 61 para 79, ou 28,62% do total. Em terceiro, os profissionais que trabalham em jornais somam 42 (15,22%).

Segundo a presidenta da Fenaj, Samira de Castro, o fim do governo Bolsonaro significou o fim de um período de “violência institucional” contra os jornalistas. Mas a realidade cotidiana permanece preocupante. “As agressões à categoria e ao jornalismo continuam e, em determinadas categorias de violência, até cresceram significativamente em 2023.”

Mesmo sem Bolsonaro, os políticos figuram no relatório como principais agressores, em 44 dos 181 casos (28,31%). Apoiadores do ex-presidente aparecem a seguir, com 31 (16,02%). Depois vêm “pessoas comuns”, juízes e desembargadores e policiais (militares ou civis).

Confira aqui a íntegra do relatorio.