Respeito

‘Invisíveis’, trabalhadores na limpeza urbana lançam campanha contra assédio e discriminação

Sindicato da categoria em São Paulo recebeu quase 200 denúncias, que incluem casos de violência física

Paulos Alexandre/Siemaco SP
Paulos Alexandre/Siemaco SP
Trabalhadores na Assembleia: objetivo é ampliar canais de denúncia

São Paulo – Com quase 200 denúncias em 10 meses, os trabalhadores na limpeza urbana de São Paulo deflagraram campanha contra o assédio e a discriminação na categoria. Batizada de #RespeiteTodoMundo, ela foi lançada oficialmente na última sexta-feira (28), em ato que superlotou o Auditório Franco Montoro da Assembleia Legislativa. O secretário de Relações do Trabalho, Marcos Perioto, representou o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE). Também participou o Sindicato Internacional de Trabalhadores de Serviços (Seiu, na sigla em inglês).

Apenas o Sindicato dos Trabalhadores em Empresas de Prestação de Serviços de Asseio e Conservação e Limpeza Urbana de São Paulo (Siemaco) registrou 188 casos, de todos os tipos, incluindo importunação sexual e violência física. Alguns já resultaram em boletins de ocorrência na polícia. Embora seja difícil estabelecer um nexo, dois trabalhadores cometeram suicídio no ano passado, segundo a entidade. Os sindicalistas afirmam que a categoria é “invisível” à sociedade.

Serviços essenciais

“Nossos profissionais são os que mais sofrem assédio e ao mesmo tempo são os mais discriminados e desrespeitados. Estamos falando de invisibilidade social, assédio moral, assédio sexual, preconceito e discriminação. São trabalhadores que prestam serviços essenciais para a saúde pública e não têm o devido reconhecimento e respeito”, afirma o presidente da Femaco (federação estadual), Roberto Santiago, que também é 1º vice da UGT. A federação reúne 27 sindicatos, com 280 mil trabalhadores na base.

Os sindicalistas prepararam uma cartilha com orientações sobre como evitar e lidar com o assédio e a discriminação no ambiente de trabalho, incluindo exemplos de atos considerados racistas, misóginos e homofóbicos. “Esse guia servirá como um norte para a gente buscar, junto às empresas, um ambiente mais saudável. O assédio e a violência adoecem”, afirma a secretária de Relações Internacionais da Conascon (confederação nacional da categoria), Márcia Adão. Ela integra um comitê no sindicato de São Paulo, formado por cinco pessoas, para receber e encaminhar as denúncias – que continuam chegando.

Número deve aumentar

Além disso, como parte do projeto denominado Mobilização Geral, promovido em parceria com o Instituto Arlindo Gusmão de Fontes (IAGF), serão feitos cursos e palestras por todo o estado. O material de campanha terá um QR code direcionado para a página da federação.

O presidente do Siemaco, André Santos Filho, lembrou que o tema também virá à tona durante a campanha salarial – a categoria tem data-base em setembro. São 120 mil trabalhadores na base, em quatro áreas, com aproximadamente 100 mil em asseio e conservação, sendo 70% mulheres. Já dos 17 mil que atuam na varrição de ruas e coleta de lixo, mais de 90% são homens.

Coordenador do projeto, ele acredita que o problema seja ainda mais profundo e espera por novas denúncias, com a entrada em vigor de novas normas sobre Comissões Internas de Prevenção de Acidentes (Cipas), que agora incluem “assédio” em sua denominação, além da própria campanha dos sindicatos. “Tenho certeza de que o número tende a ser ainda mais revelador. Por trás desse uniforme existem seres humanos.”