Justiça do Pará condena mais um envolvido no assassinato de Dilma Ferreira, líder do MAB
Crime ocorreu em 2019, com seis assassinatos no total. Fazendeiro acusado de ser o mandante está preso e aguarda julgamento
Publicado 19/03/2024 - 15h37
São Paulo – A Justiça do Pará condenou ontem (18) o segundo envolvido na chamada Chacina de Baião, que tem entre as vítimas Dilma Ferreira, líder do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB). Condenado a 63 anos e 11 meses de prisão, Valdenir Farias Lima era apontado como intermediário do crime. Em 21 e 22 de março de 2019, seis pessoas foram assassinadas na zona rural de Baião, no nordeste do estado. Um fazendeiro é acusado de ser o mandante. Manifestantes fizeram vigília diante do fórum onde ocorreu o julgamento.
Maranhense, Dilma era ativista de direitos humanos e integrante da coordenação nacional do MAB. “Ela havia ameaçado denunciar o fazendeiro, Fernando Rosa, por extração ilegal de madeira em uma área ao lado do assentamento onde vivia em Baião”, lembra a organização. Foi morta dentro de casa, no assentamento Salvador Allende, ao lado de seu companheiro, Claudionor Costa da Silva, e de um amigo do casal.
Certeza da impunidade
Horas antes, os trabalhadores rurais Venilson da Silva Santos, Raimundo Jesus Ferreira e Marlene da Silva Oliveira haviam sido mortos a tiros. Posteriormente, os corpos foram carbonizados. Eles ameaçavam denunciar o mesmo fazendeiro na Justiça do Trabalho por falta de pagamento e por viverem em situação análoga à escravidão.
“Nós acreditamos que um dos motivos que levaram os acusados a cometer tamanha crueldade contra as vítimas era a certeza da impunidade”, afirma Jaqueline Alves, do Coletivo de Direitos Humanos do MAB. “Lamentavelmente, nós vivemos em uma região extremamente violenta contra defensores de direitos humanos e ambientalistas. O Brasil esteve no primeiro lugar dos países que mais mataram ativistas do meio ambiente durante 10 anos seguidos, entre 2012 e 2022. Em 2022, nos tornamos o segundo, com números ainda assustadores.”
Contratados para a execução
Assim, Valdenir teria sido a pessoa que contratou os irmãos Alves (Glaucimar Francisco, Marlon, Alan e Cosme Francisco) para a execução. Ainda em 2019, o Ministério Público do Pará ofereceu denúncia contra eles. Um ano atrás, Cosme foi condenado a 67 anos, quatro meses e 24 dias de prisão. Glaucimar está foragido, enquanto Alan e Marlon morreram, também em 2019, oficialmente por confronto com a polícia.
A expectativa, agora, é pelo julgamento do fazendeiro Fernando Rosa Filho, apontado como mandante. Ele está preso desde 2019.
“A Dilma era aquela pessoa que nunca sabia dizer não para ninguém. A pessoa chegava lá na casa dela e, enquanto ela não ajudasse, não se conformava. Tinha vezes que a Dilma chegava a ficar sem comer para dar comida para aquelas pessoas”, contou Francisca Ferreira, irmã de ativista. A família foi uma das atingidas pela construção da hidrelétrica de Tucuruí, inaugurada em 1984, que desalojou dezenas de milhares de pessoas.
Com informações do MAB e da agência Amazônia Real