São Paulo – A ameaça feita pelo vereador Cícero João (Agir) à repórter Wilma Antunes, do Portal Porque, durante a sessão de terça-feira (21), na Câmara Municipal de Sorocaba, provocou uma onda de mobilização entre os profissionais de imprensa da cidade. O Sindicato dos Jornalistas repudiou a atitude do parlamentar e, junto a outros profissionais de comunicação, lançou a campanha “Ameaça é crime!” nas redes sociais. Wilma registrou um boletim de ocorrência por ameaça na tarde desta quarta-feira (22).

Cícero ficou incomodado com a edição de domingo (19) da coluna semanal “Notas de Política”, assinada por Wilma, onde foi citado como uma pessoa com promessas não cumpridas e que oscila entre apoiador e inimigo do prefeito Rodrigo Manga (Republicanos). No encontro com a repórter em um dos corredores do prédio legislativo, ele deu leves “tapinhas” na cabeça de Wilma e afirmou que ela tinha “teto de vidro”. Em seguida, mencionou que seu filho trabalhava na inteligência da polícia e que, se quisesse, conseguia todas as suas conversas no WhatsApp (leia mais).

“Como a única jornalista mulher cobrindo todas as sessões, já enfrentei minha cota de misoginia. Mas se minha presença e minhas palavras incomodam, é sinal de que estou fazendo algo certo. Sempre há riscos, mas não me intimidarei. Continuarei sendo quem sou: crítica e, sim, ácida. E, agora, Cícero, que tal nos esclarecer sobre os privilégios de ter um filho na polícia?”, questionou Wilma, em sua denúncia publicada pelo portal.

O Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de São Paulo publicou uma nota oficial na tarde desta quarta-feira (22), repudiando a postura do vereador e se solidarizando com Wilma. O sindicato colocou o diretório regional de Sorocaba à disposição da jornalista, oferecendo inclusive apoio jurídico caso ela queira prosseguir com o processo judicial.

“Para o Sindicato dos Jornalistas, o fato é um exemplo da intolerância de gênero e do discurso de ódio crescente entre autoridades e instituições brasileiras, sem nenhuma consideração ao direito ao trabalho. As agressões à jornalista se caracterizam como assédio moral e desrespeito ao livre exercício do Jornalismo. Wilma Antunes tem nosso apoio e solidariedade!”, afirmou o sindicato.

Campanha ‘Ameaça é crime!’

A campanha “Ameaça é crime!” ganhou força entre os jornalistas de Sorocaba e também no Movimento de Mulheres pela Democracia. Os apoiadores tiraram fotos com uma folha escrita “ameaça é crime” em frente à boca, simbolizando a tentativa de censura de Cícero João à repórter Wilma, e publicaram nas redes sociais. Pelo menos três dezenas de jornalistas participaram do ato de desagravo à repórter do Porque.

Lideranças políticas também manifestaram apoio à jornalista. As vereadoras Iara Bernardi (PT) e Fernanda Garcia (Psol) se posicionaram publicamente. “Vereadores de Sorocaba precisam muito aprender sobre respeito. Respeito às mulheres, respeito à imprensa, respeito a quem pensa diferente. Deixo aqui meu apoio à jornalista Wilma Antunes e ao Portal Porque. O exercício da imprensa livre é fundamental para a democracia brasileira”, escreveu a petista Iara Bernardi, que também publicou um vídeo no Instagram falando sobre o assunto.

Fernanda Garcia destacou a importância do trabalho de Wilma na cobertura das sessões: “O trabalho da Wilma de cobertura das sessões é essencial, ainda mais em um espaço com poucas mulheres. Minha solidariedade e apoio!”.

A advogada Emanuela Barros lembrou em seu Instagram que, ao ameaçar Wilma, Cícero atentou contra a liberdade de imprensa e pode ter cometido crime de ameaça, conforme previsto no Código Penal. “Mais uma vez, um vereador comete violência de gênero na Câmara de Sorocaba ao ameaçar a jornalista no cumprimento do seu trabalho. Toda minha solidariedade e apoio à jornalista Wilma Antunes”, declarou.

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O ex-deputado Raul Marcelo (Psol) também prestou solidariedade, ressaltando a importância do papel de Wilma no jornalismo sorocabano. “Continue nessa pegada. E outra: esse sujeito me processou porque eu defendi as mulheres quando ele disse que é ‘normal mulher ser assassinada’. Fiz vídeos, postagens e até um abaixo-assinado pedindo a cassação do mandato dele. Chega de machismo contra as mulheres! Perdeu o processo na Justiça. Força”, escreveu.

A publicação com o relato de Wilma no perfil do Portal Porque no Instagram recebeu incontáveis comentários de leitores que desejaram força à jornalista e recriminaram o comportamento de Cícero João.

Com informações do Portal Porque